Estudo: pesquisas secretas da Exxon dos anos 1970 já previam aquecimento global

Exxon sabia
Angela Weiss/AFP

Eis uma notícia que não surpreende mais ninguém, mas que tira muita gente do sério. Pesquisadores da Universidade de Harvard (EUA) e do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK, na Alemanha) se debruçaram sobre décadas de documentos e análises científicas conduzidas pela petroleira Exxon e descobriram que, ao menos desde a década de 1970, ela tinha conhecimento sobre os perigos do aquecimento global. Pior: as projeções climáticas projetadas há mais de 50 anos por cientistas da empresa foram praticamente certeiras.

Os cientistas da Exxon previram que haveria um aquecimento global de cerca de 0,2ºC por década em virtude da concentração crescente de gases de efeito estufa na atmosfera, decorrente da queima de combustíveis fósseis. Dessa forma, com meio século de antecedência, eles souberam informar com quase 100% de certeza a trajetória de aquecimento até as duas primeiras décadas do século XXI.

“A Exxon sabia [dos efeitos da queima de combustíveis fósseis sobre o clima] anos antes de muitos nós nascermos”, comentou o pesquisador George Supran, que liderou a análise, ao Guardian. “Agora temos a prova cabal mostrando que eles previram com precisão anos de aquecimento antes de começarem a atacar a ciência. Esses gráficos confirmam a duplicidade do que a Exxon sabia e como eles enganaram o público”.

A pesquisa analisou mais de 100 documentos internos e publicações científicas revisadas por pares, produzidas internamente por cientistas e gerentes da Exxon, ou de coautoria de cientistas da Exxon em publicações independentes entre 1977 e 2014. Essas informações, no entanto, não foram usadas para alertar o público sobre os riscos da indústria fóssil, mas sim para desinformar e desmoralizar os cientistas independentes que apontavam para esse perigo.

“O que eles fizeram foi essencialmente permanecer em silêncio enquanto faziam esse trabalho e somente quando se tornou estrategicamente necessário administrar a ameaça existencial aos seus negócios é que eles se levantaram e se manifestaram contra a ciência”, disse Supran.

O estudo foi publicado na revista Science e teve ampla repercussão na imprensa, com destaques na Associated Press, BBC, CNN, Folha e NY Times, entre outros.

 

ClimaInfo, 18 de janeiro de 2023.

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