Com compra da Pioneer, Exxon dobra aposta na continuidade dos combustíveis fósseis

Exxon compra Pioneer
Tony Webster / Flickr

Compra confirma desprezo à necessidade de reduzir produção de combustíveis fósseis por parte da big oil, que já sabia das mudanças climáticas nos anos 1970.

A Exxon está comprando a petroleira Pioneer Natural Resources num meganegócio de US$ 59,5 bilhões. Esta é a maior fusão promovida pela companhia desde a aquisição da Mobil, em 1999. E esta acontece no meio da escalada da crise climática global e do aumento da pressão pela redução da produção e do consumo de combustíveis fósseis em todo o planeta. A big oil parece apostar que a transição energética ocorrerá num ritmo muito mais lento do que os planos do governo dos Estados Unidos, além de manifestar um profundo desprezo pelo clima.

O acordo cria um gigante da perfuração de xisto na Bacia Permiana dos EUA, onde tanto a Exxon como a Pioneer têm uma influência considerável, destaca o Washington Post. “As capacidades combinadas das empresas criarão um valor a longo prazo muito superior ao que qualquer uma delas é capaz isoladamente”, disse o CEO da ExxonMobil, Darren Woods.

Recentemente, a Exxon divulgou uma análise dizendo que o mundo não será capaz de conter a elevação da temperatura média da Terra em 2ºC neste século, com um risco significativo de que essa meta seja batida já em 2050. E que mesmo com a adoção de fontes renováveis, os combustíveis fósseis seguirão dominando o mercado de energia, atendendo a 54% da demanda global em 2050. Assim, ao que parece, se é para destruir o planeta, que seja com petróleo da Exxon.

“À medida que o mundo procura fazer a transição e encontrar fontes de energia acessível com emissões mais baixas, os combustíveis fósseis, petróleo e gás, continuarão a desempenhar um papel ao longo do tempo”, disse Woods, em entrevista à CNBC, reproduzida pela AP. “Isso pode diminuir com o tempo. Mas vai durar muito tempo”, reiterou.

Vale lembrar que pesquisadores da Universidade de Harvard (EUA) e do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK, na Alemanha) se debruçaram sobre décadas de documentos e análises científicas conduzidas pela Exxon e descobriram que, ao menos desde a década de 1979 a empresa tinha conhecimento do impacto de seus produtos sobre o aquecimento global. Pior: as projeções climáticas feitas há mais de 50 anos por cientistas da empresa foram praticamente certeiras. A culpa é sua, Exxon!

CNN, Reuters, Guardian, New York Times, Financial Times e Bloomberg também noticiaram o mais novo negócio de energia suja da Exxon.

Em tempo: A ativista Greta Thunberg foi presa ao se juntar a centenas de manifestantes em frente a um hotel 5 estrelas em Londres, na manhã de 3ª feira (17/10), para denunciar um encontro denominado “Os Óscares do petróleo”. Imagens mostram a ativista climática sueca sendo colocada na traseira de uma van pela polícia depois de participar de protestos bloqueando as entradas do InterContinental em Park Lane, local do Fórum de Inteligência Energética (EIF), que reúne executivos de combustíveis fósseis e representantes do governo. Segundo Guardian e Bloomberg, os críticos chamaram o evento de “conferência sobre o dinheiro oleoso”, numa “homenagem” ao seu nome anterior, conferência Oil & Money. A prisão de Greta também foi destacada por AP, Reuters e Bloomberg.

 

ClimaInfo, 19 de outubro de 2023.

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