Amazonas tem a menor superfície de água desde 2018, mostra MapBiomas

Amazônia superfície hídrica
Landsat/Nasa

Primeiro retrato detalhado sobre seca amazônica, MapBiomas aponta que o Amazonas perdeu em setembro uma área equivalente à do Distrito Federal em superfície de água.

A superfície de água no Amazonas atingiu em setembro a sua menor extensão desde 2018. No mês passado, foram registrados 3,56 milhões de hectares – uma redução de 1,39 milhão de hectares em relação aos 4,95 milhões de hectares de igual mês de 2022.

Este é o primeiro retrato técnico detalhado dos efeitos da estiagem extrema histórica que vem afetando toda a região. Os dados fazem parte de uma nota técnica do MapBiomas que analisou imagens de satélites dos sistemas LandSat e Sentinel, explica o Estadão.

Somente em setembro, o Amazonas perdeu uma área de superfície de água de 530 mil a 630 mil hectares, similar à do Distrito Federal, informa O Globo. Somente o município de Barcelos, o maior do estado, perdeu 69 mil hectares em superfície de água em relação ao nível médio dos últimos anos para o mês.

Um grupo de 25 cidades amazonenses tiveram uma queda na superfície de água superior a 10 mil hectares. A líder Barcelos é seguida por Codajás (47 mil ha), Beruri (43 mil) e Coari (40 mil). Em seguida vêm Parintins e Maraã (ambas com 36 mil ha), Manacapuru (29 mil), Itacoatiara (25 mil), Anori (24 mil) e Autazes (23 mil), detalha o Projeto Colabora. Todos esses municípios estão em estado de emergência ou de alerta, afetando comunidades ribeirinhas, extrativistas, quilombolas, indígenas e áreas urbanas.

As imagens de satélite mostram que lagos inteiros secaram. Além do Lago Tefé, onde morreram mais de 140 botos, a estiagem também atinge o Lago de Coari, afetando o acesso a alimentos, medicamentos e o funcionamento das escolas. Entre Tefé e Alvarães, a seca forma bancos de areia extensos, inclusive no rio Solimões. E o Rio Negro atingiu o menor nível em 120 anos.

“O impacto na biodiversidade aquática tem sido reportado em várias localidades, mas ainda não foi estimado, podendo atingir proporções alarmantes. Além disso, o Amazonas encontra-se com alta vulnerabilidade a queimadas, o que aumenta o risco às populações e à economia”, afirma Carlos Souza, coordenador do MapBiomas Água e principal autor da nota técnica.

A redução drástica da superfície da água no Amazonas também foi destacada por BNC Amazonas, Brasil de Fato e IstoÉ Dinheiro.

Em tempo 1: A ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou na 2ª feira (16/10) a liberação de R$ 225 milhões para reforçar o atendimento médico no Amazonas, em razão da seca extrema que atinge a região. Do total, serão enviados R$ 102,3 milhões em parcela única, enquanto R$ 122,7 milhões serão incorporados ao teto de média e alta complexidade do estado. As cidades de Lábrea, Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira vão receber recursos para reforçar a assistência na atenção primária, informa o Poder 360. Carta Capital, Correio Braziliense, Agência Brasil, Brasil 247 e Revista Fórum destacaram a liberação de recursos da Saúde para o Amazonas.

Em tempo 2: Pesquisas do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA) mostram que a crise climática global vai se refletir na diminuição do índice de chuvas na região amazônica e, por consequência, no nível de vazão dos rios. Ou seja, a seca severa deste ano pode se tornar cada vez mais comum e até pior com o passar dos anos. Em entrevista ao Pará Terra Boa, o gerente científico do LBA e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Bruce Fosberg, salientou que os cursos d’água mais afetados devem ser os da porção sul da Amazônia. “Já se vê nos rios do sul da Amazônia, como o Juruá, o Purus, o Madeira, o Tapajós, o Xingu e o Tocantins, já está começando a diminuir a vazão desses rios, aumentando o período seco. A tendência vai ser de reduzir em torno de 30% a 50%”, diz Bruce, que se dedica a estudos sobre os ecossistemas fluviais tropicais.