Desmatamento na Amazônia cai pela metade em 2023, mas o Cerrado tem disparada de devastação

15 de janeiro de 2024
desmatamento Cerrado
Marcelo Camargo/Agência Brasil

Redução da devastação no bioma amazônico traz alívio para o governo, que agora tem o desafio de estancar o quanto antes a destruição do Cerrado.

A retomada das ações de fiscalização e de combate ao crime ambiental na Amazônia em 2023 deu certo. No ano passado, o desmatamento da Floresta Amazônica caiu pela metade na comparação com 2022. Mas, no Cerrado, a situação é inversa e preocupante. O desmate cresceu quase 50% e atingiu níveis recordes, reforçando a urgência de estancar a devastação.

Dados do sistema DETER, do INPE, mostram que no ano passado foi perdida uma área total de 5.151,6 km² na Amazônia, redução de 50% sobre o número de 2022. Já no Cerrado, a taxa foi de 7.828,2 km² – uma alta de 43% sobre o ano anterior. No agregado do ano para os dois biomas, a perda de vegetação somou 12.979,8 km², queda de quase 18% sobre 2022 (15.740,5 km²). O total desmatado nas regiões no último ano equivale a mais de oito vezes a área da cidade de São Paulo, informa a Folha.

Na Amazônia, o desmatamento no ano passado foi o menor desde 2018, destaca a Reuters. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que os números positivos resultaram de esforços “decisivos” de fiscalização pelo IBAMA, destacando que o número de autuações emitidas pela agência aumentou 106% no período. “É o primeiro passo rumo à conquista da meta de desmatamento-zero até 2030″, reforçou Marina, em post no X (ex-Twitter).

O Greenpeace destaca a redução nos alertas de desmatamento em Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas na Região Norte. O desmatamento total atingiu 99,24 km² em TIs e 341,66 km² em UCs, diminuição de 48,19% e 67,37%, respectivamente, em comparação com 2022.

No entanto, o cenário é estarrecedor no Cerrado. Operando desde 2018, essa foi a primeira vez que o DETER registrou uma área desmatada maior que a devastada na Amazônia. Para se ter uma ideia, O Cerrado ocupa cerca de 22% do território nacional, enquanto a Amazônia detém mais de 50% de todo o território brasileiro, explica o Estadão

No Cerrado há significativa perda de vegetação em propriedades privadas e com aval das autoridades locais. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) estima que cerca da metade do desmate nesse bioma seja autorizado pelos governos estaduais. Isso porque o Código Florestal protege 80% da cobertura vegetal nativa de terras privadas na Amazônia, mas no Cerrado somente 20%. O percentual sobe para 35% quando se trata do Cerrado dentro do território da Amazônia Legal.

Para tentar reverter o quadro, o governo federal lançou no final de novembro passado o novo Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento do Cerrado (PPCerrado). A nova versão recuperou as bases do antigo plano, abandonado em 2019 na gestão do inominável, e mira quatro eixos de ação para zerar o desmatamento do bioma até 2030.

Como lembram Kátia Penha, coordenadora nacional da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), e Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas, “é preciso cuidar da saúde do corpo inteiro, não apenas de um órgão”. Por isso, clamam por ações imediatas no combate à devastação do Cerrado.

“A crise climática pôs os olhos do mundo sobre a Amazônia, mas se nem todos lá fora conhecem a importância do Cerrado, aqui no Brasil ela deveria ser óbvia. É no Cerrado onde nascem oito das 12 maiores bacias hidrográficas brasileiras, incluindo a do São Francisco, da qual dependem 16 milhões de pessoas. A realidade do bioma exige estratégia de ação diferente da concebida para a Amazônia”, destacam em artigo na Folha.

Os números do desmatamento na Amazônia e no Cerrado foram destaque também na Agência Brasil, Jornal Nacional, CNN, Exame, Veja e BBC

Em tempo: Políticos da Amazônia e também do governo federal interessados no asfaltamento da BR-319 – rodovia que liga Manaus a Porto Velho e que pode gentilmente ser chamada de “Rota da Destruição Amazônica” – ventilaram a ideia de usar recursos do Fundo Amazônia para a polêmica obra [!!]. Mas a Alemanha e os Estados Unidos, que são doadores do fundo, colocaram água no chope dos espertinhos. Como mostram Climate Change News, Um só planeta e BNC Amazonas, um porta-voz do governo alemão disse que o apoio a um projeto desse tipo “não é possível” de acordo com as regras do fundo, criado especificamente para reduzir a destruição florestal na Amazônia. Já os EUA estão “confiantes” de que o fundo utilizará os seus recursos “de forma consistente com os seus regulamentos”, afirmou um porta-voz do Departamento de Estado do país.

 

ClimaInfo, 15 de janeiro de 2024.

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