Geração de energia nuclear deverá bater recorde em 2025, projeta IEA

energia nuclear
Kilian Karger / Unsplash

Agência diz que fontes “limpas” deverão cobrir toda a demanda adicional de eletricidade do mundo nos próximos três anos. Mas isso inclui a energia nuclear.

O relatório Electricity 2024, lançado pela Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês) na 4ª feira (24/1), aparentemente trouxe uma boa notícia: segundo a instituição, as fontes “limpas” de geração serão capazes de suprir toda a demanda adicional de energia elétrica do planeta nos próximos três anos. Mas, como o diabo mora nos detalhes, parte dessas fontes “limpas” apontada pela IEA é a polêmica energia nuclear – que deverá bater recorde de produção em 2025.

De acordo com o documento, a produção recorde de eletricidade a partir de fontes de baixas emissões – incluindo energias renováveis, como solar, eólica e hídrica, e a nuclear – vai reduzir o papel dos combustíveis fósseis no fornecimento de energia a residências e empresas. A previsão é que as fontes de baixas emissões representem quase metade da produção mundial de eletricidade até 2026, acima dos pouco menos de 40% registrados em 2023.

As fontes renováveis ​​deverão representar mais de um terço da produção total de eletricidade até o início de 2025, ultrapassando o carvão, segundo a IEA. Também até este ano a produção de energia nuclear deve atingir um máximo histórico em nível mundial, à medida que a geração nuclear aumenta na França, várias centrais atômicas no Japão voltam a funcionar e novos reatores iniciam operações comerciais em muitos mercados, incluindo China, Índia, Coreia e Europa, destacam Guardian, Financial Times e oilprice.com.

“O setor de energia produz atualmente mais emissões de CO2 do que qualquer outro na economia mundial. Por isso é encorajador que o rápido crescimento das energias renováveis ​​e uma expansão constante da energia nuclear estejam juntos no caminho certo para corresponder a todo o aumento da procura global de eletricidade nos próximos três anos. Embora seja necessário mais progresso, e rapidamente , essas são tendências muito promissoras., disse o diretor Executivo da IEA, Fatih Birol. Após anos em declínio, sobretudo depois do grave acidente na usina de Fukushima, em 2011, a energia nuclear voltou a ganhar evidência, com o anúncio de planos de expansão em pelo menos 20 países, relata a Folha. O fato de ser aplicável em larga escala e não ser afetada pelas oscilações meteorológicas é considerada um dos principais atrativos da fonte.

Mas, voltando ao diabo nos detalhes – e Fukushima é um bom exemplo –, a possibilidade de acidentes e as dificuldades de manejo dos resíduos das usinas nucleares representam riscos que superam em muito os benefícios. 

“A energia nuclear é certamente de baixo carbono, mas isso não a torna uma solução realista e eficaz contra as mudanças climáticas. Pior ainda, é demasiadamente lenta para ser implementada face à emergência climática, é muito vulnerável aos impactos do aquecimento global e dos perigos naturais, é muito perigosa para ser desenvolvida massivamente nos quatro cantos do planeta, é muito cara em comparação com outros sistemas de baixo carbono”, reforça o Greeenpeace, em seu relatório sobre a fonte.

Em tempo 1: O alto preço e a lentidão da implantação de usinas nucleares destacados pelo Greenpeace são facilmente comprováveis no projeto de 3,2 GW da francesa EDF em Hinkley Point, no Reino Unido. A companhia informou que a central nuclear vai custar até US$ 13 bilhões mais, totalizando mais de US$ 43 bilhões [com base em valores de 2015], e demorar mais anos do que o planejado, tornando-se operacional apenas a partir de 2029, informam Bloomberg, Reuters, Financial Times, France24 e BBC. O projeto no sudoeste da Inglaterra, a primeira nova usina nuclear da Grã-Bretanha em mais de duas décadas, estava previsto na última atualização para operar em junho de 2027, com um custo estimado de US$ 33 bilhões, o que já representava uma revisão do projeto anterior, previsto para 2025 e a um custo de US$ 23 bilhões. Mas vale lembrar que a EDF havia inicialmente dito que forneceria energia da central nuclear às residências britânicas em 2017.

Em tempo 2: Enquanto isso, os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, deram a partida na construção de uma nova unidade na usina nuclear egípcia de Dabaa. A central atômica está sendo construída pela estatal russa Rosatom, a um custo declarado de US$ 30 bilhões, e terá capacidade total de 4,8 GW, informam Reuters, Africa News e Daily News Egypt. A usina egípcia é um dos projetos nucleares nos quais a Rússia está envolvida no mundo. O país, via Rosatom, ainda está participando da construção da central nuclear de Kudankulam, no estado de Tamil Nadu, no sul da Índia, da central nuclear de Paks, na Hungria, e da primeira central nuclear da Turquia, em Akkuyu. A Rosatom também trabalha na China e em Bangladesh. E foi, no governo passado, uma forte candidata para terminar e operar Angra 3.

 

 

ClimaInfo, 25 de janeiro de 2024.

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