Enquanto combustíveis fósseis agravam crise climática, “Big Oil” oferecem retornos maiores para atrair investidores

Combustíveis fósseis crise climática

Apesar da necessidade de eliminar os combustíveis fósseis, grandes petroleiras estão entregando mais dinheiro aos acionistas do que nunca. E prometendo mais ganhos no futuro.

Em 2022, as “Big Oil” – grandes empresas do setor de petróleo e gás fóssil – registraram lucros recordes. Juntas, Shell, ExxonMobil, Chevron, BP e Total Energies tiveram lucro líquido de US$ 196 bilhões. O resultado foi impulsionado pela disparada dos preços da energia após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Naquele ano, as cinco companhias distribuíram US$ 109,7 bilhões a seus acionistas, como parte do lucro e recompra de ações.

No ano passado, o lucro líquido dessas petroleiras caiu para US$ 123 bilhões. Ainda assim, decidiram distribuir mais dinheiro para seus investidores do que em 2022: US$ 111,1 bilhões, também como distribuição de lucros e recompra de papéis.

Além de as “Big Oil” estarem entregando mais dinheiro do que nunca a seus acionistas, estão prometendo mais e mais dinheiro no futuro. Segundo a Reuters, em matéria também reproduzida pelo Investing.com, é uma tentativa de tranquilizar os investidores sobre sua disciplina e resiliência diante de uma perspectiva incerta para os combustíveis fósseis. Mas que, ao que parece, para elas vão continuar de vento em popa, apesar da urgência de eliminar a  produção e o consumo de petróleo, gás fóssil e carvão, os maiores causadores das mudanças climáticas.

Exxon, Chevron e outras petroleiras estão fazendo alguns investimentos em negócios com baixas emissões de carbono. Mas o dinheiro que financia os pagamentos aos acionistas é da produção e venda de petróleo e gás. Tanto a Exxon como a Chevron compraram concorrentes que provavelmente aumentarão a sua produção de combustíveis fósseis, lembra o New York Times.

A oferta de mais dinheiro para os investidores mexeu com o mercado financeiro. Segundo a CNBC, as ações da BP subiram mais de 5% na 3ª feira (6/2), depois que a britânica anunciou planos para aumentar o retorno dos acionistas. A empresa, que foi um dos primeiros gigantes da energia a anunciar planos para reduzir as emissões líquidas a zero “até 2050 ou antes”, diluiu [eufemismo para “reduziu”] esses planos climáticos no ano passado.

Fora do grupo principal das “Big Oil”, a norueguesa Equinor também está propondo um aumento de dividendos para os acionistas. Além disso, explica o oilprice.com, a petroleira pretende aumentar dividendos trimestrais em dinheiro a cada ano.

Como se vê, as petroleiras estão dispostas a tudo para convencer os acionistas de que produzir combustíveis fósseis é bom. Só não contam que enquanto poucos lucram, todo mundo paga a conta. Especialmente os mais pobres.

Em tempo: Que esperança ter quando a responsável pela área de transição energética de uma grande instituição financeira insiste no aumento das reservas e da produção de combustíveis fósseis para “financiar” energia limpa? Não pela primeira vez, a diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, Luciana Costa, afirmou que, para realizar a transição energética, o Brasil ainda precisará de petróleo e defendeu a exploração de petróleo na foz do Amazonas, no litoral do Amapá. Ela disse que o potencial da região pode fazer o país dobrar as reservas provadas de petróleo nas próximas décadas. “No pré-sal, de reserva aprovada, temos 14 bilhões de barris de óleo. Na margem [foz do Amazonas e outras bacias que vão até o litoral do Rio Grande do Norte], que ainda precisa fazer a pesquisa exploratória, pode ter de 10 a 25 bilhões de barris de petróleo”, disse Costa, durante entrevista ao programa Macro em Pauta, da Exame. Para piorar, numa futurologia para lá de suspeita, a diretora do BNDES disse que se o Brasil não produzir petróleo na Foz “vamos importar da Arábia Saudita ou da Guiana”. Ela só não levou em conta a projeção da Agência Internacional de Energia (IEA) de queda da demanda por petróleo a partir de 2030 ou antes, e que a produção brasileira vai crescer para algo em torno de 4,5 milhões de barris de petróleo por dia até este ano apenas com as reservas já provadas.

 

 

ClimaInfo, 08 de fevereiro de 2024.

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