Cacau e racismo contra indígenas: as origens do movimento “Invasão Zero”

Invasão Zero cacau e racismo
Reprodução via Repórter Brasil

Uma aliança entre os produtores de cacau, pecuaristas, políticos de extrema-direita e os policiais sustenta o grupo “anti-invasão” que assassinou uma líder indígena na Bahia. 

A atuação criminosa do grupo “Invasão Zero”, responsável pela morte da líder indígena Maria de Fátima Muniz, a Nega Pataxó, no mês passado no sul da Bahia, é o mais recente episódio de uma longa história de racismo e violência contra os Povos Indígenas no interior do Brasil. Novos detalhes estão surgindo sobre as conexões do grupo miliciano com elites econômicas e políticas do estado e de Brasília.

A Repórter Brasil explorou essas conexões. O grupo tem o apoio de pecuaristas e produtores de cacau no sul baiano, onde a violência é usada contra comunidades indígenas em disputas territoriais. A omissão do poder público nos processos de demarcação de Terras Indígenas favorece os interesses particulares e expõe os indígenas a ataques.

A gênese do “Invasão Zero” está nesse embate. Em 2009, um dos líderes do grupo, Luiz Henrique Uaquim da Silva, fundou a Associação dos Pequenos Agricultores de Ilhéus, Una e Buerarema (ASPAIUB), com o intuito de impedir a demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença.

Um dos argumentos da entidade contra a demarcação era que a comunidade tupinambá que pleiteava a área não seria formada por “índios de verdade”, mas sim por “mestiços” interessados no controle dessas terras. Em uma audiência realizada na Câmara dos Deputados em 2009, Uaquim se referiu aos tupinambás que participavam do evento como “fantasiados de índios”. 

“Nessa região se tentou construir um imaginário em que a monocultura do cacau, baseada na concentração da terra, seria a única via de desenvolvimento possível, negando-se a presença indígena e seus projetos próprios de futuro”, explicou a antropóloga Daniela Fernandes Alarcon, que atua no Ministério dos Povos Indígenas (MPI).

Além do racismo, o que chama a atenção do “Invasão Zero” é a disposição à violência desprovida de qualquer senso de legalidade. É nesse ponto que especialistas comparam o grupo com uma milícia rural, apoiada pelo dinheiro dos fazendeiros e pelas armas da Polícia Militar da Bahia. O Brasil de Fato trouxe uma análise dessa situação.

Por isso, não surpreende o fato de que ao menos quatro policiais estão sob investigação pela corregedoria interna da PM baiana sob a acusação de envolvimento no assassinato de indígenas entre 2022 e 2023. A suspeita do Ministério Público Federal e das Defensorias Públicas da Bahia e da União, segundo a CartaCapital, é de que os agentes de segurança estão atuando como jagunços dos fazendeiros nas horas vagas.

No caso da morte de Nega Pataxó, indígenas que sobreviveram ao ataque denunciaram que os policiais agiram em favor dos assassinos, inclusive com agressões físicas e terror psicológico antes e depois do episódio. Um dos dois detidos após o crime é o PM da reserva Antônio Carlos Santana Silva, que teria disparado contra o cacique Nailton, ferindo-o. O Intercept Brasil deu mais informações.

 

ClimaInfo, 16  de fevereiro de 2024.

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