Brasil é capaz de aumentar oferta de energia solar em 100 vezes, diz Petrobras

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Karsten Würth / Unsplash

A pergunta que não quer calar é: quando a petroleira vai virar a chave e aproveitar parte desse potencial, deixando de lado os combustíveis fósseis?

A energia solar continua crescendo a passos largos no Brasil. Em janeiro, a fonte totalizou uma capacidade instalada de 38 GW, segundo dados da ABSOLAR. Com isso, a potência da geração à base de sol passou a responder por quase 17% da matriz elétrica nacional.

No seminário “Energia limpa: a transição energética no Brasil”, da Folha, o diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Maurício Tolmasquim, disse que o país tem potencial para aumentar a atual capacidade instalada solar em até 100 vezes. Numa conta simples, significa que o Brasil pode atingir quase 4.000 GW em potência fotovoltaica. A título de comparação, hoje a capacidade instalada total do país [incluindo todas as fontes] é pouco maior que 200 GW.

Tolmasquim tratou também da energia eólica, detalham Broadcast, InfoMoney, Exame e Terra. Segundo a ABEEólica, o Brasil dispõe hoje de cerca de 30 GW instalados. Mas, segundo o diretor da Petrobras, é possível multiplicar esse número em 25 vezes, considerando apenas o potencial em terra (onshore). Estamos falando, portanto, de 750 GW eólicos.

Em seu plano de negócios para o período entre 2024 e 2028, a Petrobras planeja investir US$ 5,2 bilhões em projetos eólicos e solares em terra. Entretanto, até agora a petroleira não colocou um centavo sequer em qualquer projeto. E ninguém sabe se a ideia é investir esse dinheiro em usinas greenfield – ou seja, novas, que não saíram do papel – ou em projetos já instalados – o que não modificaria muita coisa em termos de “limpeza” da matriz elétrica do país ou da própria petroleira.

A Petrobras também já anunciou seu grande interesse em eólicas offshore. Mas Tolmasquim deixou claro que a petroleira só vai entrar no segmento após a definição do marco regulatório para o segmento, informam Valor, Petronotícias e ADVFN. O texto atual, que será discutido no Senado, foi desconfigurado na Câmara com diversos “jabutis” beneficiando combustíveis fósseis, como gás e carvão. Além disso, o diretor destacou a necessidade de leilões para concessões das áreas marinhas para a implantação de eólicas offshore.

“Temos um potencial de recursos não apenas em quantidade, mas qualidade. O mesmo aerogerador colocado no Brasil deve produzir o dobro de energia que o mesmo produto na Europa. Traduzimos isso como fator de capacidade. Temos a abundância, mas não apenas nos recursos, mas a abundância com qualidade, o que nos permite ter baixo custo”, afirmou Tolmasquim. Diante de números tão expressivos e conhecidos pela própria empresa, resta saber quando, afinal, a Petrobras vai assumir o protagonismo da transição energética no país.

A cobrança vem inclusive dos trabalhadores da empresa. O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, criticou a demora da diretoria liderada por Tolmasquim em apresentar projetos para o setor, informa A Tarde.

“Cobramos do diretor de transição energética que a área apresente projetos. Não se trata de transição justa [que considera também a requalificação dos profissionais da empresa em áreas não ligadas aos combustíveis fósseis] somente via redução de emissão de carbono em atividades internas que a Petrobras já tem. Queremos, sim, novos projetos de investimento em energias renováveis e com baixa pegada de carbono”, disse Bacelar.

 

 

ClimaInfo, 20 de fevereiro de 2024.

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