Mudanças climáticas geraram superonda de calor na África Ocidental

onda calor África Ocidental
Rodrigo Flores/Unsplash

Região é a maior exportadora de cacau do mundo, e calor em fevereiro e chuvas extremas em dezembro enfraqueceram árvores, reduzindo colheitas e encarecendo fruto.

O que as mudanças climáticas, causadas principalmente pelas emissões oriundas da queima de combustíveis fósseis, têm a ver com o aumento assustador dos preços dos ovos de Páscoa, tanto no Brasil como em outros países? A resposta dessa pergunta está na África Ocidental, uma das maiores produtoras de cacau do mundo e a maior exportadora da commodity.

Um estudo da World Weather Attribution (WWA), que reúne cientistas de todo o mundo em pesquisas sobre os efeitos da crise climática, mostra que a onda de calor abrasadora que atingiu o oeste africano em fevereiro foi tornada 4°C mais quente e 10 vezes mais provável pelo aquecimento global, informa o Carbon Brief. O calor extremo enfraqueceu os cacaueiros, que, segundo os agricultores, já tinham sido danificados por chuvas extremas em dezembro, explica o Guardian.

A zona costeira sul da África Ocidental – também chamada de zona da Guiné – experimentou um calor anormal no mês passado. Uma combinação de altas temperaturas e ar relativamente úmido resultou em valores médios de índice de calor na região de cerca de 50°C, classificados como nível “perigoso”, associado a um alto risco de cãibras e exaustão pelo calor. Localmente, os valores chegaram até mesmo ao nível de “perigo extremo”, associado a um alto risco de insolação, com valores de até 60°C.

Com acesso limitado a dados da região, os pesquisadores não conseguiram precisar sobre como esse calor afetou as pessoas de forma mais ampla em toda a África Ocidental, e se causou muitas hospitalizações e mortes, relata o New York Times. Mas há razões para se acreditar em danos generalizados, disse Maja Vahlberg, consultora de risco no Centro Climático da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e uma das autoras da análise.

Muitos moradores da região não têm acesso adequado a água, energia e saneamento. Isso significa que durante as ondas de calor, “as pessoas ficam com opções muito limitadas para estratégias individuais de enfrentamento, como usar ar-condicionado e beber ou tomar mais banhos”, explicou Maja. Cerca de metade da população urbana da região vive em habitações informais, incluindo casas construídas com chapas de metal, que retêm calor.

Parte dessas pessoas cultivam o cacau que abastece boa parte do mercado mundial de chocolates. Os preços do cacau dispararam nos últimos anos devido a danos provocados por eventos climáticos extremos às colheitas. E a mais recente onda de calor adiciona ainda mais pressão sobre os preços, ainda mais com a proximidade da Páscoa e sua tradição de ovos de chocolate.

A BBC afirma que os preços dos ovos de Páscoa no Reino Unido subiram 50% ou mais. A escassez de cacau por causa do clima fez com que o valor da tonelada de cacau subisse para US$ 8.500 no país na semana passada – ainda assim, se compararmos aos preços que pagamos pelo chocolate, o valor mostra o quão pouco os produtores recebem.

Segundo O Globo, apenas nas últimas três semanas os preços dos grãos no atacado em Nova York aumentaram mais de 47%, ultrapassando US$ 8.900 por tonelada, um nível que antes parecia inimaginável. Por isso, no Brasil, a escalada dos preços dos ovos de Páscoa se tornaram um meme da internet, quando algumas lojas anunciaram que as pessoas poderiam comprá-los parcelados ou usando parte de seu FGTS.

 

ClimaInfo, 25 de março de 2024.

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