Para terminar polêmica obra, BNDES calcula investimento de R$ 20 bilhões para potência de 1.405 MW; projeto já consumiu R$ 7,8 bilhões, segundo o MME.
No final da semana passada, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, confirmou que o governo vai licitar baterias para armazenamento elétrico no próximo leilão de reserva de capacidade. A tecnologia dá segurança energética às fontes eólica e solar, eliminando a necessidade de contratar termelétricas a combustíveis fósseis para garantir o abastecimento elétrico.
Mas a alegria com a energia renovável e segura durou pouco. Isso porque a estatal Eletronuclear abriu consulta pública sobre o projeto de conclusão da usina nuclear de Angra 3, em Angra dos Reis, no sul do Rio de Janeiro. A termonuclear teve sua construção interrompida na época da Lava-Jato, por denúncias de superfaturamento e corrupção. Voltou a ser “desenterrada” no governo do inominável, e agora ganha nova sobrevida na gestão de Lula.
O modelo proposto para a conclusão da polêmica usina foi estruturado pelo BNDES, que estima que serão necessários cerca de R$ 20 bilhões para terminar as obras. Segundo informações do Ministério de Minas e Energia (MME), já foram aportados mais de R$ 7,8 bilhões em Angra 3, informa o Poder 360.
Angra 3 tem uma capacidade projetada de 1.405 megawatts (MW). Seu projeto foi idealizado nos anos 1980. Se a licitação proposta para retomar as obras for de fato adiante, a conclusão da termonuclear está prevista para acontecer em 2029, na melhor das hipóteses. A um custo total de quase R$ 30 bilhões, considerando o que já foi gasto e o que ainda será aplicado.
A título de comparação, a maior usina solar do Brasil é Janaúba, no norte de Minas Gerais. Sua capacidade instalada é de 1.200 MWp, próxima, portanto, do projetado para Angra 3. E os investimentos feitos totalizaram cerca de R$ 4 bilhões.
Voltando à Angra 3, a consulta pública vai até o fim de abril. Segundo O Globo, durante o processo estarão disponíveis as minutas do edital para contratação dos serviços de engenharia e construção (chamado de EPC). “A licitação terá abrangência internacional e buscará selecionar uma empresa ou consórcio com experiência necessária para concluir as obras da usina, com posterior transferência da operação à Eletronuclear”, disse o BNDES em nota.
O banco e a Eletronuclear continuam revendo os demais estudos de modelagem do projeto de Angra 3, relata a Agência Brasil. As duas instituições trabalham para incorporar as propostas de apontamentos feitas pela unidade técnica do Tribunal de Contas da União (TCU), que realizou avaliação preliminar ao longo de 2023.
Após a conclusão, os estudos serão encaminhados ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) a fim de subsidiar o cálculo do preço de energia a ser adotado no novo contrato de comercialização de energia de Angra 3, destaca o Megawhat. Se de fato Angra 3 for adiante, será mais energia cara e perigosa a ser paga pelo consumidor brasileiro, já que o custo da fonte nuclear é muito maior que os das fontes solar e eólica.
Canal Energia, Petronotícias e R7 também noticiaram a consulta pública aberta pela Eletronuclear para Angra 3.
Em tempo 1: Um análise do Instituto Escolhas feita com base em dados da consultoria PSR mostrou que a energia de Angra 3 seria mais cara que 12 alternativas de geração de energia elétrica analisadas. A análise pode ser baixada aqui.
Em tempo 2: A energia nuclear tem baixa emissão de gases de efeito estufa, mas é capaz de causar estragos irrecuperáveis em caso de acidentes e vazamentos – Chernobyl, na Ucrânia, e Fukushima, no Japão, são exemplos reais disso. Ainda assim, a fonte vem crescendo no mundo, embalada pela necessidade de transição energética para fontes com menores emissões. Um levantamento do World Nuclear Association destacado pela Folha mostra que 60 usinas nucleares estão em desenvolvimento em 17 países, e planos para outras 110 já foram anunciados. Apesar disso, um dos grandes impasses para a energia nuclear, além do alto risco, é o tempo e o investimento necessários para a construção de uma usina. São cinco anos –no mínimo– de obras, e muito dinheiro para fazer. Portanto, não vale a pena. Apesar dos crescentes lobbies em defesa da polêmica fonte.
ClimaInfo, 26 de março de 2024.
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