Clima árido atinge no Brasil área maior que a do estado de São Paulo

Brasil clima árido
Mike Erskine / Unsplash

Área árida corresponde a mais de 8% das terras da região semiárido, lugar que já enfrenta pelo menos 10 meses de estiagem em condições normais.

Em termos climáticos, as terras áridas ocupam hoje 282 mil km² do território brasileiro em quatro estados do Nordeste – Bahia, Pernambuco, Paraíba e Piauí. É uma área superior ao território do estado de São Paulo (248 mil km²) e equivalente ao do Rio Grande do Sul (281 mil km²).

É o que revela um estudo do meteorologista Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório de Processamento de Imagens de Satélite (LAPIS) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), publicado no Journal of Arid Environments. A área corresponde a mais de 8% do mapa do semiárido, região que em condições normais já enfrenta pelo menos 10 meses de estiagem, destaca Carlos Madeiro no UOL.

O estudo analisou os dados do semiárido brasileiro entre 1990 e 2022 com base em dois índices: de evapotranspiração – processo de evaporação da água do solo mais a transpiração das plantas – e de déficit hídrico no solo. Os dados foram combinados com imagens de satélite que mostram a vegetação verde e sua distribuição espacial.

O clima árido é caracterizado pela baixa umidade do ar e com raros registros de chuva. Já o semiárido tem volume um pouco maior de precipitações e longos períodos de estiagem. A pesquisa de Barbosa, porém, usou dados além dos utilizados pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação – que são o parâmetro utilizado pelo governo brasileiro.

“As terras secas do semiárido brasileiro foram reclassificadas no estudo considerando uma dinâmica muito mais complexa do que está acontecendo em termos de degradação. Também consideramos o aumento dos eventos climáticos extremos, como secas rápidas, em razão das mudanças climáticas”, detalhou.

Segundo Barbosa, estas áreas se tornaram áridas pela intensidade da degradação das terras. Além disso, a pesquisa chama atenção para um processo ainda pouco estudado na região que tem acelerado o problema: as secas-relâmpago, que costumam durar cerca de 30 dias.

O estudo analisou como elas impactaram o ecossistema vegetal e a umidade do solo entre 2004 a 2022. Essas secas-relâmpago causaram quedas repentinas nos volumes de chuva e aumento das temperaturas que, por sua vez, geraram rápida perda da umidade do solo e da cobertura vegetal.

Em novembro do ano passado, cientistas do CEMADEN e do INPE mostraram que a intensificação da mudança climática, associada à perda de vegetação natural, está tornando áreas do semiárido ainda mais secas, com disponibilidade de água em condições similares às encontradas em regiões desérticas. A análise identificou áreas consideradas áridas no norte da Bahia, no coração do semiárido nordestino.

 

ClimaInfo, 18 de abril de 2024.

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