Único bioma 100% brasileiro, Caatinga já perdeu 40% de sua área

Caatinga desmatamento
Gabriel Carvalho / SETUR-BA

Além da destruição de vegetação nativa, ocupação desenfreada do bioma aumenta desertificação, que já atinge mais de 10% de seu território, afirma presidente do IBAMA.

A Caatinga é o único dos 6 biomas do território brasileiro que é 100% nacional. Mas, apesar disso, historicamente recebeu pouca atenção de políticas públicas de preservação. E isso se reflete tanto no que se prevê para o bioma no futuro, como efeito das mudanças climáticas, mas principalmente em seu presente.

Estudos apontaram que a crise climática pode extinguir 90% dos mamíferos típicos da Caatinga e provocar perdas significativas na flora em 99% do bioma até 2060. Mas os números atuais já comprovam o encolhimento substancial de seu tamanho e impõem a urgência de ações para sua proteção.

Já foram perdidos 34 milhões de hectares – área equivalente ao estado de Goiás – dos 82,6 milhões de hectares da Caatinga, 40% de seu território. O alerta foi dado pelo presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, em um seminário técnico-científico sobre o bioma, informam Agência Brasil, UOL, Brasil 247, SBT e O Povo.

Agostinho destacou a necessidade de políticas específicas para o bioma, que tem características peculiares, como o alto grau de espécies exclusivas, mas que foram impactadas pela atividade humana. “A caatinga tem 60% de área de vegetação nativa ocupada, das quais boa parte já passou por processos de antropização seguidos, como corte raso, queimas reiteradas, extração seletiva de vegetação e animais e introdução de espécies exóticas”, explicou.

Essa ocupação provoca efeitos perversos. Um deles é a desertificação, que atinge mais de 10% do bioma, na avaliação do IBAMA, ou 8%, na avaliação do Laboratório de Processamento de Imagens de Satélite (LAPIS) da Universidade Federal de Alagoas (leia mais aqui). 

Para o presidente do IBAMA, frear esse e outros problemas exige a criação de Unidades de Conservação, a recuperação da vegetação nativa e a criação de dados de conservação para proteção integral e o uso sustentável.

O aprimoramento dos licenciamentos ambientais e a demarcação dos territórios das populações tradicionais são outras necessidades citadas por Agostinho. “Temos muita população tradicional que normalmente não é reconhecida, como o sertanejo, e isso é um desafio, porque, de repente, chega um empreendimento e essas pessoas são expulsas de suas áreas rapidamente”, ressaltou.

Na semana passada, o superintendente da Sudene, Danilo Cabral, defendeu a inclusão da proteção da Caatinga na Constituição, relata a CBN. A proteção do bioma está interligada a uma pauta fundamental, o Fundo da Caatinga, proposto pelos governadores do Nordeste.

Em tempo: O pecuarista Claudecy Oliveira Lemes, investigado por gastar mais de R$ 25 milhões em desmate químico em áreas que totalizam 81 mil hectares no Pantanal mato-grossense, permaneceu em silêncio durante o depoimento prestado de forma virtual na 3ª feira (16/4). Segundo a delegada Liliane Muratta, o próximo passo é encerrar a investigação, relatar o inquérito e encaminhar à Justiça para análise do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) e oferecimento de denúncia, detalha o g1. Apesar de ter cometido o absurdo crime ambiental e ter 15 autuações por danos ambientais no Pantanal desde 2019, além de ter recebido multas que somam R$ 5,2 bilhões,  Lemes continua solto, condição que o MP tenta reverter.

 

ClimaInfo, 18 de abril de 2024.

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