G7 vai banir carvão, mas Brasil quer insistir nessa energia suja

2 de maio de 2024
G7 carvão
Stephen Philpott / Unsplash

Países mais ricos estabelecem 2035 como ano-limite para eletricidade com o combustível fóssil, mas Brasil pretende prorrogar essa sujeira, com impactos climáticos e no bolso.

Reunidos em Turim, na Itália, os ministros de Energia e Clima do G7 – grupo dos 7 países mais ricos do mundo – incluíram na declaração final do encontro o ano de 2035 como data-limite para o fim da produção de eletricidade com carvão mineral. Ainda que permita algumas manobras para estender esse prazo, como a captura de carbono, a decisão não deixa de ser um marco, sobretudo após a concordância das nações na COP28 em promover o “transitioning away” dos combustíveis fósseis e triplicar os investimentos anuais em energias renováveis até 2030.

No Brasil, assim como em alguns países do G7, o carvão tem participação pífia na geração de eletricidade. O combustível fóssil respondeu por apenas 2,1% da oferta total de energia elétrica no país em 2022, mostra o Balanço Energético Nacional (BEN) 2023. Quase nada quando comparado aos 86,1% fornecidos pelas fontes renováveis, como hidráulica, eólica e solar, segundo o mesmo documento. 

Mas, se o peso do carvão na geração elétrica brasileira é ridículo, o estrago ambiental e climático provocado pelo combustível fóssil que é queimado para produzir essa eletricidade é monumental.  

Se não tem qualquer importância para garantir a eletricidade que consumimos no dia a dia, o carvão faz um estrago monumental quando queimado para gerar essa energia. É o que comprova o 3º Inventário de Emissões Atmosféricas em Usinas Termelétricas, lançado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) em outubro do ano passado e relativo ao ano de 2022.

As termelétricas a carvão instaladas na Região Sul lideraram as emissões de gases de efeito estufa (GEE), respondendo por quase 40% do total emitido pelas térmicas a combustíveis fósseis instaladas no país e conectadas à rede elétrica nacional. São apenas 5 usinas a carvão, num universo de 72 plantas alimentadas por combustíveis fósseis.

As quatro maiores emissoras de GEE, todas a carvão, estão no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A líder da sujeira foi Candiota 3, no município gaúcho de Candiota, que, sozinha, respondeu por 12,1% das emissões. Para piorar a situação, dentre as 72 termelétricas alimentadas por combustíveis fósseis analisadas pelo IEMA, Candiota teve o menor índice de eficiência energética – apenas 28% em 2022. Ainda segundo o levantamento, das 5 usinas com menor eficiência, 4 são a carvão.

No ranking de poluição das termelétricas a combustíveis fósseis, Candiota 3 é seguida pelas usinas a carvão Jorge Lacerda 4, com 8,9% das emissões, e Jorge Lacerda 3 (7,1%), ambas em Capivari de Baixo, Santa Catarina. A sequência é fechada com Pampa Sul, também em Candiota, com 6,7% da liberação dos gases de efeito estufa. Já Jorge Lacerda I e II ocupam a 10ª posição no “ranking da sujeira”, com 3,9% das emissões.

Irrelevante na garantia do abastecimento elétrico brasileiro, extremamente impactante ao clima e ao meio ambiente, com baixíssima eficiência energética e produtor de uma eletricidade cara, que pesa muito no bolso da população. Isso é o carvão. 

No entanto, o combustível fóssil vem sendo defendido veementemente por políticos, principalmente da Região Sul. Não bastasse o governo anterior estender os contratos de usinas a carvão de Santa Catarina sob o argumento de que seria uma “transição energética justa” para evitar o desemprego de trabalhadores da indústria carbonífera do estado, um projeto de lei quer estender esse benefício a plantas do Rio Grande do Sul e também do Paraná. Sem falar no “jabuti” incluído no PL das eólicas offshore que também propõe a extensão desses contratos. 

O futuro dos trabalhadores que hoje atuam na indústria fóssil é um assunto sério, e a transição energética somente será justa se encarar essa questão como prioritária. Mas a solução para isso passa pela requalificação e realocação profissional, e não pela manutenção das atividades ligadas à produção dessa energia suja sob a desculpa da manutenção de empregos. 

Os efeitos da queima de combustíveis fósseis como o carvão sobre o clima não se restringem aos locais onde eles são queimados, sabemos disso. Mas não deixa de ser uma trágica coincidência que, desde meados do ano passado, a Região Sul venha particularmente sofrendo com ciclones extratropicais potentes e incomuns, tempestades extremas e ondas de calor sufocantes. 

Nesta semana, o Rio Grande do Sul está mais uma vez debaixo d’água. As chuvas torrenciais mataram pelo menos 11 pessoas, provocaram inundações que destruíram casas, pontes, estradas. Em apenas 4 dias, choveu o equivalente a 3 vezes a média para esta época do ano, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). E a previsão era de que os temporais se estenderiam até domingo (5/5), chegando também a Santa Catarina.

Enfim, as mudanças climáticas parecem entrar nos discursos políticos, sobretudo de estados que mais vêm sofrendo com eventos extremos. Mas não basta apenas fala, é preciso ação. Está mais do que comprovado que, além de estabelecer urgentemente planos eficientes de mitigação e adaptação climáticas, é preciso eliminar os combustíveis fósseis da matriz energética. Não há emprego ou trabalhador que vai conseguir sobreviver em um planeta cada vez mais castigado pela crise climática. E queimar carvão só vai piorá-la.

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Por Alexandre Gaspari, Jornalista no ClimaInfo.

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ClimaInfo, 2 de maio de 2024.

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