Presidente da COP29 defende gás fóssil como “energia de transição”

COP29 Mukhtar Babayev
UNFCCC Flickr UNClimateChange

Produtor de combustíveis fósseis, o país Azerbaijão tenta se equilibrar entre os interesses da indústria petrolífera e as demandas por phase-out na COP29 de Baku. 

Passados mais de seis meses desde que concordaram em “se afastar” dos combustíveis fósseis no documento final da COP28, os governos ainda não deram mais clareza ao que isso significa em termos práticos em um mundo onde a produção de energia suja continua crescendo. Nem a presidência da próxima COP29 parece ter essa clareza.

Em entrevista à AFP, o ministro da ecologia do Azerbaijão e futuro presidente da COP29, Mukhtar Babayev, afirmou que pretende capitanear os países a avançar na descarbonização de suas economias. Mas, ao mesmo tempo, defendeu o uso do gás fóssil como um “combustível de transição” e colocou a sua expansão, especialmente para o mercado europeu, como uma prioridade estratégica do governo azeri.

“Estamos planejando em vários anos aumentar os volumes de gás natural e, ao mesmo tempo, nossos projetos de energia renovável. Penso que em paralelo, a produção de gás e as energias renováveis avançarão juntas ao mesmo tempo”, disse Babayev, um ex-executivo do petróleo que ocupará o comando das negociações climáticas no final do ano.

A ambiguidade do Azerbaijão em relação aos combustíveis fósseis decorre da própria posição dessa indústria na economia do país. Berço histórico da exploração petrolífera, o Azerbaijão segue sendo um grande produtor de gás e vislumbra aumentar suas vendas para a União Europeia em meio aos bloqueios de fornecimento causados pela guerra entre Rússia e Ucrânia. 

“Não há absolutamente nenhum indício de que [a demanda por gás diminuirá]”, afirmou à Bloomberg o vice-ministro de energia, Orxan Zeynalov. “Neste momento, temos uma longa lista de países – antigos e novos compradores – para mais de 30 bilhões de metros cúbicos [de gás]”.

Ao mesmo tempo, a presidência da COP29 está articulando a inclusão dos produtores de combustíveis fósseis como possíveis financiadores da ação climática nos países mais pobres e vulneráveis, já que o financiamento climático será o tema principal da Cúpula. Uma proposta foi esboçada nos últimos dias, durante o encontro intersessional da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) em Bonn, na Alemanha.

“É uma ideia muito preliminar, mas já tivemos a oportunidade de discuti-la com diferentes países e instituições financeiras internacionais e organismos da ONU”, disse Babayev. Já o negociador-chefe da COP29, Yalchin Rafiyev, afirmou que a medida não deve “apontar o dedo para qualquer indústria” e que um eventual instrumento financeiro será resultado do consenso entre os países.

Assim, a presidência azeri da COP29 parece estar seguindo o roteiro de “morde-e-assopra” de seus antecessores imediatos, os Emirados Árabes. No ano passado, o presidente da COP28 Sultan al-Jaber se desdobrou para não pisar no calo da indústria do petróleo (da qual, aliás, ele é um executivo), ao mesmo tempo em que não fechou a porta para demandas de phase-out dos combustíveis fósseis.

 

ClimaInfo, 11 de junho de 2024.

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