Pantanal em chamas: áreas do bioma podem ter perda irreversível, avalia IBAMA

Pantanal perda irreversível
Saul Schramm via g1

A maior recorrência de secas e incêndios nos últimos anos poderá ter um custo ecossistêmico significativo no Pantanal, com impactos ambientais irreversíveis em algumas áreas.

O ciclo recente de temporadas chuvosas abaixo do normal e incêndios mais frequentes e intensos empurram o Pantanal para o colapso ecossistêmico em algumas áreas do bioma. O alerta é do presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, que prevê também que a seca atual persista até o final do ano.

“A natureza volta em muitas áreas depois de desastres como esse. [Mas] em algumas áreas a perda é significativa. Em alguns lugares pode ser, inclusive, irreversível. A gente está muito assustado em ver, pelo sexto ano seguido, o Pantanal sem o período de cheias”, afirmou Agostinho em entrevista ao g1. “A gente [trabalha] com o pior cenário, que é o cenário de uma seca até o final do ano”, alertou o chefe do IBAMA.

A situação atual é dramática. Dados do INPE destacados pelo g1 indicam que o 1º semestre de 2024 foi o mais devastador de toda a série histórica para o Pantanal. Nos primeiros seis meses deste ano, foram registrados 3.538 focos de incêndio, que consumiram cerca de 700 mil hectares do bioma – uma área quase seis vezes maior que a cidade do Rio de Janeiro. Esse total supera – e de longe – os 2.534 focos observados no mesmo período em 2020, a pior temporada de fogo da história pantaneira.

A escalada do fogo no Pantanal também tem servido como munição para o tiroteio político nas redes sociais. As “viúvas” do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro estão usando os novos recordes de incêndios para atacar a atual gestão e minimizar as responsabilidades do antigo mandatário na crise histórica de 2020. Até mesmo um ex-ministro do meio ambiente do governo passado, que se “fingiu de morto” durante os incêndios de 2020 e saiu depois sob acusações de corrupção e envolvimento com esquemas de crimes ambientais na Amazônia, resolveu dar pitaco. Para ele, o problema de agora é “igual” ao de quatro anos atrás, “porém muito maior”.

Para variar,  não passa de uma falácia barata, típica da desinformação bolsonarista. Na Agência Pública, Giovana Girardi pontuou as diferenças entre as duas crises. Para começar, a seca atual é a mais intensa já registrada na história do Pantanal, sem precedentes em termos de intensidade e duração. Um dos fatores que contribuem para esse problema é a diminuição do fluxo de umidade vindo da Amazônia, afetado pelo desmatamento desenfreado dos anos Bolsonaro.

Outra diferença fundamental é a resposta do poder público federal. Se em 2020 o governo Bolsonaro tropeçou em sua própria sandice ao desmontar a infraestrutura de prevenção e combate ao fogo, o que contribuiu decisivamente para piorar a crise, agora o governo federal reconhece a gravidade da situação e vem atuando, dentro de suas condições, para ampliar sua capacidade de resposta.

“Marina [Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima] não nega o problema, como [o tal ex-ministro] e Bolsonaro muitas vezes fizeram. Está tentando articular um plano de ação [a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, em tramitação no Congresso Nacional] que em nenhum momento ocorreu na gestão passada. Tampouco lança mão de soluções fantasiosas, como o famigerado ‘boi bombeiro’”, destacou Girardi.

 

ClimaInfo, 2 de julho de 2024.

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