Pequim recorreu ao mecanismo de solução de controvérsias da OMC para derrubar tarifas de mais de 35% aplicadas pela União Europeia a carros elétricos importados.
A China confirmou na última 6ª feira (9/8) que ingressou com uma queixa formal contra a União Europeia na Organização Mundial do Comércio (OMC) por conta da imposição de tarifas de mais de 35% sobre veículos elétricos importados. Segundo as autoridades chinesas, a medida desrespeita as regras da OMC e trata-se de protecionismo comercial.
Nos últimos meses, governos na Europa e nos EUA se mobilizaram para reduzir a fatia de seus mercados de carros elétricos dominada pelas montadoras da China. Para eles, as empresas chinesas se beneficiam com subsídios governamentais de Pequim, o que barateia artificialmente seus preços ao consumidor final nos mercados de destino no Ocidente.
A movimentação resultou na imposição de tarifas salgadas sobre os veículos elétricos importados da China. Em maio, o governo dos EUA anunciou o aumento da tarifa de importação sobre esses carros de 25% para 100%. Já no mês passado, a União Europeia impôs tarifas provisórias menos contundentes, mas ainda assim significativas, de até 37,6% sobre o preço de venda do veículo.
A China refuta a acusação de descumprimento das regras da OMC, argumentando que o apoio à indústria de veículos elétricos está “em conformidade” com os princípios do comércio multilateral. Segundo os chineses, a ação na OMC visa “salvaguardar os direitos de desenvolvimento e os interesses da indústria de veículos elétricos e a cooperação na transformação verde global”.
Em resposta, a União Europeia reiterou que a tarifação é justificada, considerando a investigação feita pelo bloco continental sobre as práticas comerciais da indústria chinesa de carros elétricos. “A UE está analisando cuidadosamente todos os detalhes deste pedido e reagirá às autoridades chinesas no devido tempo, de acordo com os procedimentos da OMC”, afirmou um porta-voz da Comissão Europeia à AFP.
O pano de fundo dessa briga mistura preocupações comerciais com geopolítica. A Europa vem disputando com a China e, em menor grau, os EUA pela liderança em transição energética global. Na seara automotiva, os chineses estão com uma clara vantagem, fruto de uma década de trabalho de Pequim no desenvolvimento da tecnologia e no suporte às montadoras nacionais de carros elétricos.
Associated Press, Bloomberg, Deutsche Welle, Euronews, Financial Times, POLITICO e Reuters repercutiram a denúncia chinesa contra a UE na OMC.
Em tempo: Ainda sobre as tensões entre China e Ocidente no mercado global de carros elétricos, a Bloomberg destacou que os EUA estão se preparando para limitar a venda de softwares de veículos chineses no país. A medida incluiria restrições a uso e teste de tecnologia chinesa para veículos autônomos, além da proibição da coleta de dados sobre os motoristas dos EUA e seu envio à China. A principal preocupação dos norte-americanos é que os softwares chineses possam representar um problema de segurança digital e cibernética.
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ClimaInfo, 13 de agosto de 2024.
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