Cortes de energia renovável causam prejuízo e desestimulam investimento

22 de agosto de 2024

Enquanto represa geração elétrica de usinas eólicas e solares, ONS manda ligar térmica a carvão no Ceará e quer acionar mais plantas a combustíveis fósseis.

Desde um apagão ocorrido em agosto do ano passado, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) vem represando a geração de eletricidade de usinas eólicas e solares. A limitação causa prejuízos e desestimula investimentos nessas fontes, diz o setor. Enquanto isso, o ONS aciona termelétricas a combustíveis fósseis – uma energia que, além de muito mais cara, é suja, agravando as mudanças climáticas.

A situação afeta principalmente parques eólicos e solares no Nordeste, explica a Reuters, em matéria traduzida por UOL e InfoMoney. A limitação ocorre em meio a uma corrida de empresas para descarbonizar operações e após o país ter estimulado, com financiamentos públicos e até subsídios, o crescimento da geração de eletricidade renovável, que agora acaba sendo desperdiçada.

Chamadas tecnicamente de “curtailments“, essas ações são alternativas quando a geração excede a demanda ou quando falta capacidade de transmissão, mas se intensificaram no último ano, depois do apagão. O percentual de cortes na média nacional foi equivalente a 3% da carga em julho, quando houve aumento dessas ações. Em alguns projetos específicos, contudo, as perdas são mais relevantes.

A francesa Voltalia, por exemplo, disse que o ONS está “impondo uma restrição pronunciada” para a geração eólica e que a medida pode impactar a geração de caixa da companhia em 2024. A empresa afirmou que a restrição teria forte impacto no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) de 2024, com redução estimada em 40 milhões de euros, caso estendida nos próximos meses e sem compensação financeira, detalha o Valor.

Já a Mercurio Asset, que controla a termelétrica Energia Pecém, no Ceará, movida a carvão – o pior dos combustíveis fósseis em emissões e preço da eletricidade –, deve estar rindo à toa. Afinal, o operador determinou o acionamento da usina, de domingo até a próxima 2ª feira (18 a 26/8) para reforçar a estabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN), principalmente nos horários de pico de consumo, relatam Valor e O Povo. É a segunda vez que a planta é acionada em agosto.

E não para aí. Em julho, com a falta de chuvas e a perspectiva de temperaturas mais altas que o habitual, o ONS colocou térmicas a gás fóssil de prontidão. Agora, quer antecipar o acionamento dessas usinas, informam g1, Band e Veja.

Uma delas é a Termopernambuco, explica a Folha. O contrato negociado pela térmica em leilão de 2021 entraria em vigor somente em 2026. Mas o Ministério de Minas e Energia (MME) tenta negociar com a Neoenergia, proprietária da planta, que o fornecimento de eletricidade já comece em outubro deste ano.

Regressão energética? Estamos tendo.

Em tempo: O Instituto Arayara entrou com uma ação civil pública contra o estado do Paraná e a Companhia Paranaense de Energia (COPEL) acusando-os de negligência e irregularidades na operação da única termelétrica a carvão do estado, a UTE Figueira, informam epbr e Brasil de Fato. A ação, protocolada na 3ª feira (20/8), também denuncia a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) por emitir a autorização da operação comercial da termelétrica sem exigência de licenciamento ambiental. O Instituto Arayara afirma que a usina tem um histórico de acúmulo de rejeitos tóxicos e radioativos, cuja disposição inadequada jamais teria sido devidamente fiscalizada pelas autoridades competentes. Pede ainda que a COPEL, o IAT (Instituto Água e Terra – antigo Instituto Ambiental do Paraná) e o estado do Paraná sejam condenados a arcar com os custos de recuperação ambiental, estimados em R$ 1,1 bilhão.

 

 

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ClimaInfo, 23 de agosto de 2024.

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