
Região foi a mais afetada pelo desmonte das políticas de reforma agrária empreendido pelo ex-secretário de Assuntos Fundiários do governo Bolsonaro, Luiz Antonio Nabhan Garcia.
O sudeste do Pará foi palco de massacres históricos de trabalhadores rurais sem terra, como os de Eldorado dos Carajás e de Pau D’Arco. A região tem pelo menos 200 ocupações em fazendas e propriedades improdutivas ou situadas em terras da União. Há ainda 516 projetos de assentamentos, totalizando quase 5 milhões de hectares em disputa – uma área maior que o estado do Rio de Janeiro –, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade ligada à Igreja Católica.
Outra marca do sudeste paraense foi ter sido a região do país mais afetada pelo desmonte das políticas de reforma agrária empreendido pelo ex-secretário de Assuntos Fundiários do governo de Jair Bolsonaro, Luiz Antonio Nabhan Garcia, segundo especialistas ouvidos pela Repórter Brasil. Durante o governo anterior, os projetos de reforma agrária foram desmantelados no estado, assim como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
Durante os quatro anos em que foi o responsável pela política fundiária no país, Nabhan abriu as portas do governo para grileiros, infratores ambientais e produtores rurais que atentaram contra a democracia, como mostra a série de reportagens “Ogronegócio: milícia e golpismo na Amazônia”.
Já contra os sem-terra, indígenas e quilombolas, Nabhan encampou um discurso belicoso. Essas populações deveriam ser atendidas por sua secretaria, mas foram tratadas como “invasoras de terras” e deixaram de ser recebidas pelo governo, lembra a Repórter Brasil.
Com a “boiada passando” sob Bolsonaro, ações ilegais de despejo se tornaram comuns na região e refletem uma evolução nos métodos usados por latifundiários para enfrentar quem luta pela reforma agrária, analisa o advogado José Batista Afonso, da CPT. Segundo ele, apesar da tradição de pistolagem, a ação de organizações como a CPT para responsabilizar os mandantes desses ataques – e não somente quem aperta o gatilho – forçou uma mudança de estratégia dos mentores dos crimes, destaca a Repórter Brasil.
Antes, a opção preferencial era matar as lideranças dos trabalhadores rurais sem terra com a contratação de pistoleiros. Agora a estratégia continua violenta, mas sem deixar mártires. Os próprios fazendeiros vêm agindo à luz do dia para expulsar os trabalhadores, muitas vezes ao lado de forças policiais, quando as ocupações estão no início.
ClimaInfo, 28 de agosto de 2024.
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