Brasil em chamas: como a Lei do Manejo Integrado do Fogo pode ajudar no combate a incêndios

Lei do Manejo do Fogo
SEMA/CE

Unindo saberes de Povos Tradicionais e conhecimento científico, manejo visa reduzir incidência e danos dos incêndios enquanto restaura o papel ecológico e cultural do fogo.

O fogo se espalha de norte a sul do Brasil.  São 24 estados brasileiros e o Distrito Federal com focos de incêndio – somente Sergipe e Alagoas estão fora da lista. Frente ao recorde de queimadas e à previsão de prolongamento da seca e de temperaturas altas, a Lei 14.944/2024, que instituiu a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (MIF), traz um pacote de ações que pode ajudar a mudar esse cenário.

A política tem por objetivos disciplinar e promover a articulação entre instituições pelo manejo integrado do fogo, reduzir a incidência e os danos dos incêndios florestais, e restaurar o papel ecológico e cultural do fogo. “O manejo vai ajudar a diminuir os incêndios em todos os biomas, porque é formado por um conjunto de ações que tem sua base na educação ambiental”, explica Lívia Carvalho Moura, assessora técnica do Programa Cerrado e Caatinga do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

O manejo integrado do fogo aborda três pilares: a ecologia do fogo [origem natural, via raio, ou provocada] cultura do fogo – formas pelas quais a população local se utiliza dele, seja para atividades produtivas ou práticas culturais -; e o manejo do fogo, que considera conhecimento técnico e científico para seu uso. 

E como funciona o MIF? Ao criar uma colcha de retalhos, em que cada pedaço tem uma quantidade de capim seco [combustível] diferente, ocorre a queima prescrita, impedindo que o fogo se alastre. Essa prática utiliza conhecimentos ecológicos e ancestrais para controlar as chamas, porque sim, o fogo pode ser aliado, e em regiões chamadas de “pirofíticos”, ele é parte do ciclo natural. 

O MIF também age na conservação da biodiversidade. “A gente recupera áreas que foram queimadas e não se recuperam no tempo razoável”, explica Lívia, “assim, aquela região volta a ter sua dinâmica ecológica e também vai ajudar a barrar outros incêndios”. 

Pelo lado social, o MIF atua fortalecendo as comunidades tradicionais e reduzindo os conflitos, pois é uma prática coletiva.Ou seja, é necessário unir o conhecimento de povos tradicionais, de gestores e de pesquisadores para a tomada de decisão. “As comunidades se tornam parte desse monitoramento do fogo. Com seus calendários e dinâmicas socioculturais e econômicas, elas se tornam aliadas no combate ao fogo”, afirma Lívia. 

Outro ponto no qual o MIF incide é na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Com o manejo correto do fogo, há redução das emissões de gases do efeito estufa e o aumento da resiliência dos biomas. 

Ação comprovada

O MIF tem sido utilizado por instituições federais, como Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do IBAMA, ICMBio e FUNAI desde 2014, e a prática é reproduzida em mais de 10 milhões de hectares de Áreas Protegidas (APs) federais, destaca o ISPN. Nessas regiões, houve diminuição drástica comprovada do fogo nos últimos anos.  

O segredo está em planejamento, monitoramento e execução de queimadas prescritas em locais estratégicos. Uma pesquisa do Prevfogo/IBAMA e UnB criou um protocolo simplificado para monitorar os efeitos de diferentes regimes de fogo em plantas de importância cultural para as Comunidades Tradicionais e Povos Indígenas do Brasil.

Foram monitorados 18 territórios tradicionais, mostrando que a tentativa de exclusão de fogo, que aumenta os incêndios em ambientes como o Cerrado, causa mortalidade e prejudica muito a produção de frutos de mangaba. 

Por outro lado, nas áreas manejadas com queimas prescritas, a mortalidade das mangabeiras foi quase bem menor e a produção de frutos foi bem maior do que nas áreas incendiadas. “Essas áreas que são manejadas tiveram redução de até 59% dos incêndios”, destaca Lívia, “o que mostra que essa aplicação foi um sucesso. Por isso, a política federal é uma conquista para todos nós brasileiros”.

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Por Juliana Aguilera, jornalista no ClimaInfo.

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ClimaInfo, 9 setembro de 2024.

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Texto atualizado em 11/09/24, às 16:17.