Adiamento da aplicação das restrições à entrada na UE de commodities associadas ao desmatamento irritou produtores que se prepararam para cumprir as novas regras ambientais.
A sugestão da Comissão Europeia de adiar em um ano a aplicação das novas regras comerciais antidesmatamento, anunciada na semana passada, frustrou os produtores que se prepararam por anos, muitos a um custo substancial, para atender à nova demanda. Agora, eles se sentem desrespeitados, já que o adiamento beneficia aqueles que não se adequaram.
As novas regras, que incluem restrições à entrada de commodities agrícolas associadas a desmatamentos a partir do final de 2020, deveriam entrar em vigor no dia 30 de dezembro de 2024. No entanto, o braço executivo da União Europeia indicou que pretende pedir ao Parlamento Europeu o adiamento em pelo menos um ano para grandes empresas e em 18 meses para micro e pequenas empresas que importam esses produtos.
A Bloomberg destacou a frustração das empresas europeias e dos produtores estrangeiros que se esforçaram para se preparar nos últimos anos. Para os produtores, a decisão da UE causa uma irritação adicional, já que as mudanças implementadas implicaram em um aumento no preço de produtos como café e soja. Agora, eles vislumbram possíveis perdas em vendas para o mercado europeu para produtores sem certificações antidesmatamento para suas mercadorias.
Já o South China Morning Post abordou a situação dos produtores de óleo de palma na Indonésia. Parte dessa indústria passou o último ano se preparando para a aplicação das novas regras no mercado europeu. Agora, eles temem que os custos de conformidade possam aumentar devido ao adiamento.
Além de produtores, grupos ambientalistas também manifestaram sua irritação com o possível adiamento. Para Sam Lawson, diretor da ONG Earthsight, a decisão é um “tapa na cara” das comunidades que dependem das florestas em pé para sua sobrevivência nos países exportadores.
“Os próprios estudos da UE indicam que cerca de 2,3 mil km2 de floresta serão destruídos [por causa do adiamento]. As consequências disso são enormes: as emissões resultantes são equivalentes às de 18 milhões de carros a combustão”, destacou Lawson ao International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ).
Enquanto isso, o Financial Times destacou as críticas da ministra de finanças da Índia, Nirmala Sitheraman, às regras antidesmatamento da UE. Repetindo argumentos de outros países produtores de commodities, como o Brasil, a representante indiana afirmou que as restrições criarão uma “barreira comercial arbitrária” que prejudicará a descarbonização das economias em desenvolvimento.
ClimaInfo, 9 de outubro de 2024.
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