
Comissão Europeia propõe agora que regra vigore a partir de dezembro de 2025 para grandes empresas e junho de 2026 para micro e pequenas empresas.
Mais uma vez o agronegócio predatório deve levar a melhor e a urgência de combater as mudanças climáticas que espere. Depois da pressão de países produtores de commodities agrícolas como o Brasil e a Indonésia e de nações do próprio bloco como a Alemanha, a União Europeia deve adiar por 1 ano a sua lei antidesmatamento [EUDR], que começaria a vigorar em 30 de dezembro deste ano. Isso depois de ter dito à OMC que manteria a data inicial.
A EUDR tem um amplo alcance e inclui produtos como cacau, café, soja, gado, óleo de palma, borracha, madeira e produtos derivados, que, para entrar no mercado europeu, terão de comprovar não serem oriundos de áreas que foram desmatadas desde o final de 2020. Agora, segundo a proposta feita pela Comissão Europeia na 4ª feira (2/10), a lei “entraria em vigor em 30 de dezembro de 2025 para grandes empresas e em 30 de junho de 2026 para micro e pequenas empresas”, caso os 27 países-membros e o parlamento do bloco concordem, explica o Independent.
Ao propor o adiamento, a comissão disse que “vários parceiros globais expressaram repetidamente preocupações sobre seu nível de preparação”, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York. Um deles foi o presidente Lula, que apelou à Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. Sem falar na carta dos ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira, criticando a lei.
Críticos afirmam que a lei discrimina países com recursos florestais e prejudicaria suas exportações. Já seus defensores insistem que ela ajudará a salvar florestas em escala global. Afinal, o desmatamento é a segunda maior fonte de emissões de gases de efeito estufa no mundo – e primeira no Brasil-, atrás apenas dos combustíveis fósseis.
O adiamento representaria um novo revés para a iniciativa verde da UE. No entanto, segundo a Bloomberg, poderia oferecer um alívio temporário para os consumidores, pois os eventos climáticos extremos estão elevando os preços das safras em todo o mundo e reacendendo preocupações sobre a inflação dos alimentos.
O problema é que usar o argumento inflacionário é colocar o cachorro correndo atrás do próprio rabo. Para não elevar a inflação dos alimentos, adia-se a lei antidesmatamento; com o desmate liberado por mais tempo, mais gases de efeito estufa são emitidos, agravando as mudanças climáticas; com a crise climática agravada, mais eventos extremos ocorrem e mais os produtos agrícolas são afetados, pressionando a inflação dos alimentos.
“Ursula von der Leyen poderia muito bem ter empunhado a motosserra ela mesma. As pessoas na Europa não querem produtos ligados ao desmatamento nas prateleiras de seus supermercados, mas é isso que esse adiamento lhes proporcionará por mais 12 meses”, disse à AP Sébastien Risso, diretor de políticas florestais da UE no Greenpeace.
Globo Rural, Euronews, Reuters, France24 e Washington Post também noticiaram a proposta da Comissão Europeia de adiar a lei antidesmatamento do bloco europeu.
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ClimaInfo, 3 de outubro de 2024.
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