
Milhões de pessoas voltarão às urnas no próximo domingo (27/10), no 2º turno das eleições municipais, para eleger os prefeitos de suas cidades. São 51 municípios em todas as regiões do país, dos quais 15 são capitais. É mais um momento decisivo para mudar o futuro no que se refere à agenda climática. Afinal, a conta a ser paga nos próximos 4 anos por uma escolha errada em um planeta cada vez mais afetado pelas mudanças climáticas será alta. Perdas de vida, de histórias, de dinheiro.
Um dado positivo é que a percepção do eleitor brasileiro sobre as mudanças climáticas vem aumentando continuamente, à medida que veem seu cotidiano afetado por eventos extremos. Simultaneamente, os eleitores também começam a olhar para as ações de governos e de políticos a tais eventos e a avaliá-las.
Exemplos disso são duas pesquisas feitas pelo Datafolha. Uma delas, realizada nos dias 7 e 8 de outubro – portanto, poucos dias após o 1º turno das eleições municipais –, constatou que o percentual de brasileiros que veem as mudanças climáticas como um risco imediato chegou a 60% após a crise dos incêndios no país. Em junho, essa fatia era de 52%.
Em outra pesquisa, feita entre 5 e 12 de setembro, logo, antes do pleito municipal, o Datafolha mostra que para 46% dos brasileiros a prefeitura de sua cidade não está fazendo nada para lidar com os impactos das mudanças climáticas. Outros 18% responderam que o governo municipal faz menos do que deveria; 20%, que faz o que deveria; e 6%, que faz mais do que deveria. Os demais 10% não quiseram opinar. O levantamento foi feito sob encomenda da Fundação SOS Mata Atlântica.
Se o clima mudou, a política também precisa mudar, isso é fato. E o balanço do 1º turno do Vote pelo Clima, iniciativa para fortalecer a democracia por meio da participação popular nas eleições municipais, com ênfase na crise climática, mostra um avanço nas escolhas dos eleitores nesse sentido.
Em comparação com o pleito de 2020, houve um aumento de 37% no número de municípios cadastrados na plataforma – ou seja, com candidaturas com a agenda climática em sua pauta. Foram 5 vezes mais candidaturas eleitas em 2024 do que há 4 anos, e 3 vezes mais candidaturas mobilizadas neste ano do que em 2020.
No entanto, considerando a totalidade de cidades brasileiras e a quantidade de cargos em disputa, o número absoluto de candidatos comprometidos com a pauta climática ainda é muito pequeno. Segundo o Vote pelo Clima, foram 135 candidaturas eleitas, e outras 397 suplentes.
A urgência climática exige muito mais. Por isso a “cola climática” com candidaturas comprometidas com essa agenda continua sendo extremamente importante no 2º turno. Se o número de cidades parece pouco diante do universo de 5.570 municípios brasileiros, estamos falando de cidades bastante populosas e que são referência para o entorno.
Estamos falando de São Paulo, que mais uma vez ficou às escuras por causa da falta de cuidado com sua infraestrutura e do despreparo para chuvas e ventos extremos. De Porto Alegre, inundada por tempestades históricas no Rio Grande do Sul por falhas no sistema de diques da cidade. De Cuiabá, tomada pela fumaça de incêndios na Amazônia e no Cerrado, muitos deles feitos com a aprovação e o estímulo de governos locais.
Por isso vale repetir o que foi dito antes do 1º turno: prefeitos têm de ter soluções para esses problemas, escritas, em seus planos de governo. Têm de enfrentar o “novo anormal” climático com planos claros e efetivos de mitigação e adaptação das cidades. É nas cidades que vivemos e é nelas que sofremos os efeitos das mudanças climáticas.
Quem comanda uma cidade tem de estar preparado para isso, porque é o prefeito que está na linha de frente dos cuidados com o cidadão diante de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos. E seu voto tem de considerar isso.