Participante da reunião, o senador Davi Alcolumbre (União-AP), provável presidente da casa em 2025, disse que decisão técnica do IBAMA é “boicote contra o Brasil”.
Há alguns dias, um parecer assinado por 26 técnicos do IBAMA recomendou negar a licença para a Petrobras perfurar um poço para explorar combustíveis fósseis no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas. O documento também recomendou o arquivamento do processo, o que não foi acatado pelo presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, que abriu espaço para a petroleira responder às questões levantadas pelos analistas.
Coincidentemente, dias depois, uma comitiva de políticos do Amapá, em cujo litoral está localizado o FZA-M-59, esteve na sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, em uma reunião com a presidente da petroleira, Magda Chambriard. Estavam presentes o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), o governador amapaense, Clécio Luis (Solidariedade), e o senador Davi Alcolumbre (União-AP), quem provavelmente assumirá a presidência do Senado em 2025.
Poderia ser uma visita de praxe se a Petrobras tivesse operações no Amapá. Mas não tem. Após a saída do encontro, uma fala de Alcolumbre deixou clara a intenção do encontro: continuar pressionando politicamente o IBAMA a ceder e dar a licença para a exploração – que oportunamente a petroleira e os defensores da extração de petróleo no Brasil “até a última gota” passaram a chamar de “pesquisa”.
“Não é uma questão técnica, que isso já passou há muito tempo de ser uma questão técnica. É claro o boicote contra o Brasil o que estão fazendo”, bradou Alcolumbre, segundo O Globo, Exame, R7, g1 e Terra. Ao que se sabe, não consta no currículo do senador especializações na área ambiental.
Surpreendendo zero pessoas, a comitiva do Amapá recebeu o apoio de Magda para avançar na exploração do petróleo na foz do Amazonas, algo amplamente defendido pelos políticos da região. Segundo eles, a presidente da Petrobras disse que a empresa se prepara para prontamente fornecer os dados solicitados pelo IBAMA e dar sequência no projeto.
Assim como os políticos querem a exploração para “realizar o sonho da população amapaense”, segundo Alcolumbre, Magda afirmou que “a Petrobras reitera sua total crença e todos os seus esforços na margem equatorial [leia-se foz do Amazonas] do Amapá. Vamos buscar transformar o potencial do estado em riquezas para a população”. Em resumo: a velha promessa falaciosa de riqueza do petróleo, que chega para pouquíssimos, mas deixa prejuízos sociais, ambientais e climáticos para todos, principalmente para os mais pobres.
Mas a presidente da Petrobras já olha para outra frente se a licença para a foz do Amazonas for mesmo para o espaço. De acordo com O Globo e Valor, a bacia de Campos, no litoral do Rio de Janeiro e Espírito Santo, que já foi a maior província petrolífera do país, voltou a figurar como área prioritária da estatal para recompor suas reservas de petróleo e gás fóssil.
Segundo a própria Magda, que é especialista em engenharia de reservatórios, há um potencial de tirar de Campos a mesma quantidade de combustíveis fósseis produzidos desde os anos 1970, quando se começou a produzir petróleo na região. Isso seria possível com novos poços, técnicas de revitalização de poços maduros e o reaproveitamento de plataformas, cujas aposentadorias foram suspensas.
ClimaInfo, 5 de novembro de 2024.
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