
A “COP da Paz”, como proposto pelo governo do Azerbaijão para a COP29 de Baku, não está fazendo jus ao nome. Depois de críticas particularmente duras do presidente do país, Ilham Aliyev, às nações ocidentais logo no discurso de abertura do encontro, o governo da França confirmou que sua ministra de Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher, não participará mais do evento.
Pannier-Runacher chefiaria a delegação francesa em Baku e seria o nome mais graduado do governo na COP29. Ela substituiria o presidente do país, Emmanuel Macron, figura carimbada em COPs passadas, mas que decidiu não participar das discussões climáticas neste ano.
A decisão é uma resposta às críticas feitas por Aliyev na abertura da COP29. Em sua fala, o ditador do Azerbaijão criticou a repressão francesa aos protestos ocorridos em maio passado no arquipélago da Nova Caledônia, território do país no Oceano Índico, acusando a França de cometer crimes contra os Direitos Humanos.
“Os crimes da França em seus chamados territórios ultramarinos não estariam completos sem mencionar as recentes violações dos Direitos Humanos. O regime de Macron matou 13 pessoas e deixou 169 feridos (…) durante protestos legítimos do Povo Kanak, na Nova Caledônia”, disse Aliyev, que recebeu aplausos de delegados de nações insulares do Índico e Pacífico.
A fala do líder azeri surpreendeu por duas razões. Primeiro, pela hipocrisia: afinal, o próprio Aliyev comanda um regime brutal no Azerbaijão, cuja repressão política contra opositores e jornalistas se acentuou nos meses antes da COP29. No ano passado, o país expulsou violentamente milhares de pessoas de origem armênia do enclave de Nagorno-Karabakh, um território em disputa com a Armênia, que é apoiada pela França.
Segundo, pela falta de tato diplomático considerando o papel da presidência na COP. Cabe ao país anfitrião o papel de mediador dos conflitos entre os demais países. Desta vez, o Azerbaijão resolveu abandonar qualquer perspectiva de atuar nesse papel e vem utilizando a COP como instrumento político doméstico e regional, com preocupação mínima com a agenda de negociação propriamente dita.
Al-Jazeera, Folha, Financial Times, Le Monde, POLITICO e RFI, entre outros, repercutiram a crise diplomática entre França e Azerbaijão na COP29.
Em tempo: Sobre as tensões geopolíticas na COP29, vale a pena ler o artigo de Daniela Chiaretti no Valor. Para ela, as Conferências do Clima deixaram de ser debates ambientais e de desenvolvimento e passaram a ser “espelhos” das tensões internacionais, e isso é mais claro do que nunca na COP de Baku. “A COP29 é, essencialmente, uma conferência marcada pela geopolítica”, escreveu.