
A Petrobras anunciou seu Plano de Negócios 2025-2029 mantendo o peso, de cerca de 70%, do segmento de exploração e produção (E&P) de combustíveis fósseis determinado no planejamento anterior. Dos US$ 111 bilhões em investimentos previstos para o período – aumento de 9% ante os US$ 102 bilhões do PN 2024-2028 –, serão aplicados US$ 77,3 bilhões em E&P [ante US$ 73 bilhões do plano anterior].
O novo plano também não mudou a expectativa da Petrobras de explorar combustíveis fósseis na Foz do Amazonas, apesar da recente negativa de licença feita pelo IBAMA. No documento, a petroleira afirma ter “prontidão para perfurar” um poço no bloco FZA-M-59, na foz, poço que a empresa já nomeia como “Morpho”.
O documento lista as bacias que integram a chamada “margem equatorial brasileira” – Potiguar, Ceará, Barreirinhas e Pará-Maranhão –, mas chama a foz do Amazonas de “Amapá Águas Profundas”. Mais uma vez, a Petrobras adota uma estratégia narrativa para confundir. Na mesma linha de chamar “exploração de combustíveis fósseis” de “pesquisa”. Ou de negar a existência de recifes de corais na região e o imenso estrago que um possível vazamento de petróleo irá provocar nos manguezais do litoral amapaense.
Há algumas novidades na área de exploração no plano para o próximo quinquênio. Uma delas é a previsão de investimentos na Bacia de Pelotas, no litoral do Rio Grande do Sul, onde a petroleira arrematou áreas no “Leilão do Fim do Mundo”, em dezembro do ano passado. A outra é a previsão de abertura de poços em São Tomé e Príncipe e na África do Sul, no litoral africano.
Chama atenção no documento o crescimento de cerca de 40% nos valores que a petroleira projeta em investimentos no que a Petrobras chama de “transição energética”. No planejamento anterior, a previsão de investimentos era de US$ 11,5 bilhões. No atual, a cifra sobe para US$ 16,3 bilhões.
Mas como o diabo mora nos detalhes, um olhar mais apurado mostra alguns senões nesse ganho. O maior acréscimo [US$ 2,8 bilhões] sobre o PN 24-28 se dá no segmento de bioprodutos, sendo US$ 2,2 bilhões para produção de etanol – algo que não estava previsto antes –, e US$ 600 milhões para biodiesel e biometano. O valor para biorrefino [US$ 1,5 bilhão], para produção de diesel “renovável” [fóssil coprocessado com óleo vegetal] e BioQAV, é o mesmo.
A petroleira também aumentou a previsão de recursos para descarbonização de suas operações, de US$ 3,9 bilhões para US$ 5,3 bilhões. Os investimentos planejados em mitigação de emissões subiram de US$ 2,9 bilhões para US$ 4 bilhões. E o valor para o Fundo de Descarbonização da empresa, criado para apoiar essas ações, subiu de US$ 1 bilhão para US$ 1,3 bilhão.
Já no que chama de “Energias de Baixo Carbono”, a Petrobras aumentou de US$ 5,5 bilhões para US$ 5,7 bilhões a previsão de investimentos. No entanto, reduziu os recursos para usinas eólicas onshore [em terra] e solares fotovoltaicas, de US$ 5,2 bilhões para US$ 4,3 bilhões.
A empresa passou a prever recursos para eólicas offshore e ampliou o valor para hidrogênio. Mas também aumentou a aposta em tecnologias de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS) – que não têm eficácia comprovada e são caras, mas têm sido usadas pelas petroleiras como uma justificativa para manter [e ampliar] a produção de combustíveis fósseis.
Bloomberg Línea, Exame, BNAmericas e Valor, entre outros veículos, repercutiram o novo plano de negócios da Petrobras.
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ClimaInfo, 26 de novembro de 2024.
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Em tempo 1: A Petrobras também anunciou a distribuição de R$ 20 bilhões em dividendos extraordinários para seus acionistas. O mercado riu de uma orelha à outra, mas a Federação Única dos Petroleiros (FUP) criticou a medida e disse que o pagamento coloca em risco o avanço da companhia na transição energética, relata a Folha. O coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, ressaltou que a estatal já anunciou R$ 64,5 bilhões em dividendos em 2024, valor superior aos investimentos de R$ 53,9 bilhões em baixo carbono no ano. "A Petrobras precisa romper com uma visão de curto prazo e orientada à distribuição de dividendos bilionários aos acionistas. É papel da companhia acelerar os investimentos em direção à transição energética justa e contribuir para a garantia da segurança energética nacional", disse Bacelar.
Em tempo 2: O Ministério Público Federal (MPF) protocolou recomendações à Petrobras e ao IBAMA sobre o processo de licenciamento do bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas. Em documento de mais de 30 páginas, o MPF pontua que a Petrobras “optou por descumprir seu dever” sobre as condições mínimas necessárias para obter a licença de perfuração. Por outro lado, também aponta a extensa duração do processo, que dura mais de 10 anos, e pede que o IBAMA emita uma decisão definitiva sobre o pedido de exploração de petróleo na região, informam Valor e MegaWhat. Os técnicos do órgão ambiental já recomendaram o arquivamento do processo, decisão que não foi acatada pelo presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho.