Sem EUA, China tenta se consolidar na dianteira da geopolítica climática

Sem EUA, China tenta se consolidar na dianteira da geopolítica climática
Official White House Photo by Shealah Craighead

Enquanto os EUA ensaiam mais uma debandada das negociações climáticas internacionais, países ricos e pobres olham para Pequim como alternativa de liderança global nessa agenda.

Rei morto, rei posto? Para alguns governos ao redor do mundo, a movimentação diplomática das últimas semanas na seara climática indica essa possibilidade. Com a perspectiva concreta de uma nova saída dos Estados Unidos, o maior emissor global de gases de efeito estufa, do Acordo de Paris, a liderança global contra a crise climática pode cair no colo da China, o 2º país nesse ranking de emissões.

Essa movimentação foi visível durante a Conferência do Clima de Baku (COP29), realizada pouco depois da surpreendente vitória do negacionista climático Donald Trump para um 2º mandato como presidente dos EUA. Enquanto os representantes norte-americanos tiveram uma passagem discreta por Baku, a delegação chinesa na COP foi bastante requisitada por negociadores. A mesma coisa aconteceu na cúpula do G20 no Rio de Janeiro, com líderes internacionais buscando maior interação com o presidente chinês, Xi Jinping.

Como o NY Times destacou, a abordagem dos países com relação à China busca definir alguma estabilidade no relacionamento com Pequim, à sombra da disrupção que Trump promete causar novamente na Casa Branca a partir de 20 de janeiro. Assim, até mesmo cobranças mais duras observadas nos últimos anos, como a demanda dos países desenvolvidos por um envolvimento ativo dos chineses no financiamento climático, foram empacotadas com uma argumentação menos combativa e mais genérica.

O governo chinês, por sua vez, também dançou a valsa diplomática da incerteza. Por um lado, os representantes de Pequim na COP29 reforçaram que a “determinação e as ações da China para enfrentar ativamente as mudanças climáticas não vacilarão” independentemente do cenário global. O país também destacou em Baku seus investimentos em energia renovável e a pujança de sua indústria automobilística elétrica. AFP, BBC e Washington Post deram mais detalhes dessa movimentação chinesa na COP.

Por outro lado, o governo de Xi assiste atentamente aos anúncios e declarações espalhafatosas de Donald Trump e dos integrantes do futuro governo norte-americano – especialmente aqueles que miram Pequim, bicho-papão preferido do presidente reeleito. Como um jogador de pôquer paciente, os chineses não querem se manifestar antes dos EUA mostrarem a próxima carta.

Para a sorte da China, Trump não faz muita questão de esconder suas cartas. Como assinalado pelo Guardian, as pessoas escolhidas pelo futuro presidente para montar o novo governo são papagaios do negacionismo climático trumpista, defensores dos combustíveis fósseis e críticos da ciência do clima. 

Além disso, Trump já reforçou depois de eleito que deverá retirar (mais uma vez) os EUA do Acordo de Paris, com a possibilidade de sair até mesmo da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas, o que retiraria totalmente os negociadores norte-americanos das discussões internacionais sobre clima.

Para muitos especialistas nos EUA, essa movimentação pode destruir qualquer possibilidade da indústria norte-americana liderar a transição energética global. “Se os EUA cederem o papel de liderança na fabricação de tecnologia de energia limpa para a China, isso dará aos chineses ainda mais capacidade de dominar mercados no resto do mundo emergente e em desenvolvimento”, afirmou Joanna Lewis, professora da Universidade de Georgetown, à CNBC.

 

 

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ClimaInfo, 10 de dezembro de 2024.

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