Enfraquecimento de fact-checking da Meta é convite para desinformação climática

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Reprodução Facebook

Especialistas criticam afrouxamento de regras de moderação de conteúdo nas redes sociais da Meta e indicam retrocesso no combate à desinformação e ao negacionismo climático.

Nunca foi tão fácil espalhar desinformação e mentiras nas redes sociais como agora. A vitória eleitoral de Donald Trump nos EUA foi o sinal verde para que algumas das maiores redes sociais do planeta, como o falecido Twitter e o Facebook, dinamitarem qualquer pretensão de moderação de conteúdo em suas plataformas.

A decisão recente da Meta, dona dos Facebook, Instagram e WhatsApp, de desmontar sua estrutura de verificação de fatos tem sido bastante criticada por especialistas. Para eles, essas redes jogam fora anos de trabalho de moderação apenas para satisfazer os interesses do novo presidente norte-americano, adepto do “vale-tudo” na internet.

“Este é um grande retrocesso para a moderação de conteúdo em um momento em que a desinformação e o conteúdo nocivo estão evoluindo mais rápido do que nunca”, disse Ross Burley, do Center for Information Resilience (CIR), à AFP, citado pela Folha. “Eliminar a checagem sem uma alternativa confiável corre o risco de abrir as comportas para narrativas mais prejudiciais.”

O Observatório do Clima (OC) destacou em nota que a capitulação da Meta à extrema-direita é um “passo lógico (mas de forma alguma inevitável) de um setor cujo modelo de negócios envolve a manipulação extrativista do usuário e o lucro com a desinformação, que canibaliza o papel de ágora do jornalismo sem submeter-se aos padrões de responsabilização deste”. 

O fundador e CEO da Meta, Mark Zuckerberg, justificou o fim do fact-checking em suas redes como uma medida para garantir a “liberdade de expressão”, que estaria sendo prejudicada pela moderação. No entanto, a simples desmontagem dessa estrutura, sem a definição de uma maneira alternativa para combater a desinformação, somente transforma essas redes em um faroeste virtual.

Mas a “liberdade de expressão” não é o único motivo para as mudanças na Meta. Como o próprio Zuckerberg deixou claro em seu vídeo constrangedor, a volta de Trump à Casa Branca é um fator importante para a decisão, que faz parte da estratégia da empresa de se alinhar ao novo governo e ganhar seu apoio em disputas regulatórias na Europa e na América Latina, especialmente no Brasil.

“Essas plataformas não funcionam como um mercado livre de ideias, onde a informação prevalece. Elas priorizam conteúdos que geram comoção negativa para engajar os usuários, o que poderá prevalecer agora”, comentou o professor David Nemer, da Universidade da Virgínia (EUA), ao jornal O Globo. “Um perigo é que haja radicalização do usuário comum.” 

O desaparecimento do fact-checking nas redes da Meta é música para os ouvidos dos negacionistas climáticos. Mesmo com as ações de verificação de fatos e moderação de conteúdo, postagens que desinformam o público sobre a crise do clima continuaram tendo grande repercussão nessas plataformas. Agora, sem qualquer restrição, eles estão prontos para espalhar novas mentiras, com a cumplicidade explícita das redes.

 

ClimaInfo, 17 de janeiro de 2025.

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