Presidente negacionista da Argentina quer seguir Trump e deixar Acordo de Paris

Javier Milei
Divulgação ONU

Ímpeto negacionista de Javier Milei ganha força com a volta de Donald Trump nos EUA; governo argentino chegou a abandonar as negociações climáticas na COP29.

Javier vai-com-os-outros. Esse pode ser o novo apelido do presidente argentino, Javier Milei, caso se concretize o que a imprensa de Buenos Aires vem especulando nos últimos dias. Segundo veículos argentinos, a Casa Rosada estaria estudando seguir o exemplo dos EUA de Donald Trump e abandonar o Acordo de Paris.

De acordo com a Folha, a discussão em torno da saída do Acordo de Paris seria encabeçada por três figuras importantes do governo argentino – o próprio Milei; a irmã dele, Karina, que também é secretária-geral da Presidência; e Santiago Caputo, assessor influente do governo.

Um indício dessa possibilidade foi o discurso do presidente argentino ao Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), na semana passada, em que teceu fortes críticas contra o multilateralismo e um suposto “ambientalismo fanático” que prejudicaria o desenvolvimento econômico dos países.

O Financial Times destacou que servidores de carreira do governo argentino estariam tentando dissuadir a Casa Rosada de deixar o Acordo de Paris, reforçando que os impactos de uma saída seriam fortes para Buenos Aires. Um diplomata ouvido pela reportagem disse que Milei tomará a decisão final e que “parece muito provável que acabemos saindo”. A Folha traduziu a matéria.

A cautela de parte do governo argentino faz sentido. Enquanto o exemplo negacionista de Trump segue forte em Milei, a condição argentina é totalmente diferente da norte-americana. Enquanto o custo de decisão de deixar o Acordo de Paris é relativamente baixo para o presidente dos EUA, esse impacto é bem maior para o presidente argentino, já que uma saída das negociações climáticas pode “vinagrar” fluxos financeiros que trazem preciosos dólares ao mercado argentino.

A saída de Buenos Aires do Acordo de Paris também inviabilizaria a aprovação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, como lembrou o embaixador André Corrêa do Lago, futuro presidente da COP30. “Você tem que lembrar que, para poder se beneficiar do acordo Mercosul-UE, você tem que ser membro do Acordo de Paris”, disse o diplomata ao Financial Times.

Além disso, a movimentação negacionista na Argentina destoa da reação do resto do mundo à saída dos EUA do Acordo de Paris, o que indica um isolamento político potencial. Como o Guardian destacou, os governos reforçaram sua defesa pública da ação climática global, apesar da debandada norte-americana.

As principais peças do tabuleiro das negociações climáticas, como União Europeia, China, Reino Unido e Brasil, seguem engajadas no processo multilateral e devem despontar como lideranças alternativas aos EUA na COP30.

O impacto maior dos retrocessos climáticos de Trump, ao menos inicialmente, está no plano doméstico. A Bloomberg sintetizou a blitzkrieg (um termo que se encaixa bem com gestos recentes de um certo bilionário polemista) anticlima do novo governo norte-americano, que surpreendeu pela rapidez dos anúncios e pelas diversas frentes de ação, mas que também não pode ser superdimensionada, já que muitas dessas medidas serão difíceis de serem tiradas do papel no curto prazo.

 

ClimaInfo, 26 de janeiro de 2025.

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