Petroleira disse que concluirá no 1º trimestre um centro de despetrolização de animais em Oiapoque, que acredita ser a última exigência para obter o documento.
O ano começou com os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, retomando a artilharia contra o IBAMA e pressionando o órgão pela licença para a Petrobras perfurar um poço de combustíveis fósseis no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas. Agora a própria petroleira, que estava discreta, volta a engrossar o coro dos defensores da exploração de petróleo no país “até a última gota”.
Na semana passada, a diretora de Exploração e Produção (E&P) da Petrobras, Sylvia Anjos, disse que a estatal concluirá neste trimestre o que acredita ser a última exigência para a autorização, informa a Folha. Trata-se de um centro de despetrolização de animais em Oiapoque (AP), cidade mais próxima ao poço que a petroleira quer perfurar na foz. A estrutura foi questionada no último parecer da área técnica do IBAMA, que rejeitou novamente o pedido de licença. A diretora da Petrobras disse acreditar que, com a entrega da unidade, o órgão liberará a perfuração. “A partir daí, acho que não vai ter mais motivo (para negativas do IBAMA)”, afirmou.
A sanha da Petrobras e de outros integrantes do governo com o poço de petróleo na foz, apesar de todos os grandes riscos ambientais da atividade já confirmados, foi reiterada na fala de Sylvia destacada por Valor e Poder 360. “Estamos esperando essa licença há dez anos. Desistir, jamais. Temos ampla certeza das operações que fazemos”, disse ela a jornalistas após a assinatura de contrato da construção do Centro Científico e Cultural da Urca, em parceria com o Serviço Geológico Brasileiro (SGB).
A diretora da Petrobras parece ignorar que a única tentativa da Petrobras de perfurar um poço em região próxima ao FZA-M-59 há pouco mais de 10 anos foi interrompida por fortes correntes que desancoraram a plataforma. Logo, a garantia que tenta dar para as “operações” da petroleira não parece muito confiável. Além disso, vale lembrar que Sylvia não trabalha no IBAMA, o único órgão capaz de afirmar tecnicamente se o centro que a empresa está construindo supre todas as condicionantes para a licença. Nem é especialista em meio ambiente, já que é graduada e mestre em geologia.
Outro “detalhe” esquecido pela executiva: a própria Petrobras informou, no processo de licenciamento para o FZA-M-59, que levaria 10 horas e meia para transportar animais até a uma base de estabilização caso ocorra vazamento de petróleo na área. O tempo, segundo o IBAMA, considera o “melhor cenário”, e só poderia ser cumprido se o derramamento ocorresse durante o dia. E se os animais fossem resgatados nas primeiras horas.
Em tempo: A campanha de desinformação promovida por petroleiras sobre a conexão direta entre a queima de combustíveis fósseis e as mudanças climáticas lançou dúvidas sobre a ciência e fomentou a divisão entre republicanos e democratas nos Estados Unidos que prejudica as ações contra a crise do clima. É o que aponta Joe Árvai, diretor do Instituto Wrigley de Meio Ambiente e Sustentabilidade e professor de psicologia, ciências biológicas e estudos ambientais na University of Southern California-USC. “A experiência do Protocolo de Kyoto demonstrou que as táticas de lobby e desinformação usadas pelas petrolíferas para desacreditar a ciência climática poderiam, por si só, ser altamente eficazes”, disse ele em artigo no The Conversation, traduzido pela Folha.
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ClimaInfo, 28 de janeiro de 2025.
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