
O cerco negacionista de Donald Trump e seus asseclas está infernizando a vida de quem trabalha com clima no governo dos EUA. Depois de obrigar a derrubada de conteúdos sobre mudanças climáticas em várias páginas governamentais, a Casa Branca está mirando um dos principais hubs de pesquisa pública sobre clima dos EUA – a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA).
A Bloomberg descreveu como “caótico” o ambiente dentro da NOAA nos últimos dias. Primeiro, o governo determinou que os cientistas e funcionários da agências limpassem todos os contatos e comunicações internacionais – o que deixou boa parte do trabalho científico feito em cooperação com outras agências internacionais em um limbo administrativo.
A restrição acabou sendo flexibilizada dias depois, mas apenas para alguns setores. Ao mesmo tempo, a entrada brusca na agência da turma “antigoverno” do bilionário Elon Musk levantou preocupações sobre o futuro da agência em meio ao esforço de desmonte das instituições públicas norte-americanas.
“Eles [o Departamento de Eficiência Governamental, chefiado por Musk] simplesmente passaram pela segurança e disseram: ‘saia do meu caminho’, e estão procurando acesso aos sistemas de TI, como fizeram em outras agências”, disse Andrew Rosenberg, ex-pesquisador da NOAA e atualmente na Universidade de New Hampshire, ao Guardian. “Eles querem acesso a todos o sistema de computadores, muitos dos quais com informações confidenciais”.
Outro sinal ruim para os pesquisadores do NOAA é a escolha do novo chefe do órgão, Neil Jacobs. No 1º governo Trump, ele protagonizou um dos escândalos mais ridículos da história da agência – o célebre “Sharpiegate”. Em 2019, enquanto falava sobre a passagem do furacão Dorian no sul dos EUA, Trump disse, erroneamente, que a tempestade também atingiria o Alabama, inclusive desenhando uma linha com caneta no mapa para “mostrar” a trajetória.
Ao invés de reconhecer o erro, Trump forçou Jacobs, então chefe interino da NOAA, a encampá-lo. Posteriormente, uma sindicância apontou que ele violou o código de ética da agência, da qual acabou sendo afastado. A volta de Jacobs reforça algo que Trump não faz questão alguma de esconder: que ele quer obediência total de seus auxiliares.
“Embora Jacobs tenha experiência e credenciais relevantes, ele já provou que não é apto a liderar a NOAA ao não manter a integridade científica na agência”, lamentou Rachel Cleetus, da Union of Concerned Scientists (UCS), citada pelo NY Times. Bloomberg e Washington Post também repercutiram o novo comando da NOAA.
Em tempo: Além do desmonte institucional, o governo Trump avança rapidamente na dissolução do sistema de ajuda humanitária do governo norte-americano. O fechamento da USAID deve impactar não apenas iniciativas emergenciais, mas também projetos que visavam – vejam só – aliviar a pressão migratória de países pobres na América Central em sua fronteira sul. O NY Times destacou algumas iniciativas que devem ser impactadas com o corte de ajuda, como o compartilhamento de dados de satélite com países como Guatemala, Honduras e El Salvador, com o custo estimado de US$ 6 milhões, uma miséria quando comparado com o gasto na fiscalização da fronteira. Um exemplo bem-acabado de economia burra.