Secretário da COP30 diz que governos precisam “baixar a bola” e repensar tamanho de delegações

Preocupado com estrutura insuficiente e preços exorbitantes de hospedagem em Belém, governo federal ignora sua própria história e pede por envio de grupos mais enxutos.
21 de fevereiro de 2025
(Valter Campanato/Agência Brasil)

A pouco menos de nove meses da abertura da COP30 em Belém (PA), o governo federal segue quebrando a cabeça para viabilizar a hospedagem para os cerca de 50 mil participantes esperados. Apesar dos projetos de expansão, o crescimento da rede hoteleira da capital paraense é lento e não consegue conter o inflacionamento das tarifas, o que preocupa negociadores e observadores da sociedade civil de todo o mundo.

O secretário extraordinário do governo federal para a COP30, Valter Correia, reforçou a promessa de que Belém terá condições de receber todos os participantes da Conferência, mas defendeu uma reflexão por parte dos governos sobre o tamanho de suas delegações. Segundo ele, os países precisam “baixar a bola” e reduzir a quantidade de pessoas credenciadas para a COP – esquecendo que o Brasil é historicamente um dos países com as maiores delegações nas COPs.

“É como o presidente Lula fala, as delegações precisam baixar a expectativa porque Belém ou qualquer outra cidade aqui não é uma Dubai, que não é uma Baku”, disse Correia, citado pelo Estadão. O secretário também admitiu que o governo brasileiro vem orientando as embaixadas a “não estimular tantas pessoas para virem desnecessariamente” a Belém.

Correia reiterou que Belém estará preparada para receber a COP30 em novembro, mas admitiu que haverá limitações. “Nós estamos criando os hotéis possíveis em áreas possíveis. Não dá para transformar Belém numa Baku em um ano. Mesmo o aeroporto, ele é limitado. Eu não consigo ampliar o aeroporto, fazer mais pistas. Não há como a gente fazer essas coisas. Tem um limite”, disse ao Valor.

Além de apelar pela parcimônia das delegações, o governo também busca adaptar a realização da COP30 de forma a diminuir a pressão sobre a rede hoteleira em Belém. De acordo com O Globo, o Brasil negociou com a ONU a antecipação da reunião de chefes de estado: o segmento, que costuma abrir a COP, deve acontecer entre os dias 5 e 8 de novembro, antes da abertura da Conferência, no dia 10. A expectativa é que a mudança de data gere uma economia de 22 mil pessoas.

Enquanto isso, os preços cobrados por hospedagens em Belém seguem em um patamar muito acima do normal. A Deutsche Welle mostrou valores de aluguel que chegam a R$ 3 milhões para os 12 dias da conferência.

Além da expansão da rede hoteleira, Belém vem realizando uma série de obras de infraestrutura para receber a Conferência do Clima. No entanto, como abordou a RFI, algumas dessas obras contradizem o espírito do evento, ao privilegiar o transporte motorizado particular e derrubar áreas florestais preservadas, como é o caso da duplicação da Rua da Marinha e da construção da Avenida Liberdade.

“A gente não pode dizer que não houve [sustentabilidade], mas está muito aquém do que nós esperaríamos de um evento cujo tema é mudanças climáticas. Tem muita obra e muito investimento que está sendo feito que não tem nenhuma compatibilidade com a nova agenda urbana sustentável”, argumentou o arquiteto e urbanista Lucas Nassar, do Laboratório da Cidade.

  • Em tempo: O secretariado da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) está retomando a realização das Semanas Climáticas Regionais em 2025, depois de cancelá-las no ano passado por falta de verba. Os eventos foram reformulados e passarão a ocorrer duas vezes ao ano, com um formato mais focado em acelerar as negociações sobre questões-chave, como financiamento, transição justa e mercados de carbono. Segundo o Climate Home, o primeiro evento deverá ser realizado ainda neste semestre na América Latina, enquanto um país africano deverá sediar a segunda semana antes da COP30.

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