
A eleição geral deste domingo (23/2) na Alemanha pode ter colocado a pá de cal na ambição climática da maior economia da União Europeia. De acordo com pesquisas de boca-de-urna, os conservadores da União Democrata Cristã (CDU) obtiveram cerca de 30% dos votos, quase o dobro dos 16% angariados pelo Partido Social Democrata (SPD) do premiê Olaf Scholz.
O resultado inviabiliza a continuidade do atual governo, apesar do bom desempenho de seus aliados do Partido Verde, com quase 13% dos votos. No entanto, mais do que a vitória da CDU e a derrota do SPD, o desempenho do partido neofascista Alternativa para a Alemanha (AfD) foi o resultado mais impressionante. Os extremistas de direita obtiveram mais de 20% dos votos e podem se tornar o 2º maior partido do Parlamento alemão (Bundestag).
Sob esse panorama, dificilmente a Alemanha seguirá na dianteira das discussões sobre clima na União Europeia. Como a Deutsche Welle destacou, durante a campanha o tema ficou à margem do debate eleitoral, com o próprio Scholz falando pouco ou nada – um contraste significativo em relação às eleições de 2021, quando o clima foi uma das bandeiras de social-democratas e verdes.
O silêncio foi reflexo do sucesso da AfD e de setores mais direitistas da CDU em colocar a culpa pelo desaquecimento da economia alemã nas ações climáticas do governo Scholz. Como de costume, esse discurso antiação climática foi marcado por falsidades, distorções e pelo uso pesado das redes sociais para disseminar essa desinformação.
O site DeSmog destacou a atuação da AfD na campanha de desinformação climática na campanha. A líder do partido, Alice Weidel, disse em debate que a geração eólica seria mais cara do que a do carvão e que os preços da energia na Alemanha eram os mais altos do mundo. Ambas as declarações são falsas, mas não foram desmentidas durante o debate televisivo.
O partido neofascista também prometeu seguir o exemplo do negacionista Donald Trump e deixar o Acordo de Paris, além de acabar com todos os incentivos para a geração renovável e para a transição energética na indústria e no setor de transportes. Da mesma forma que na última eleição norte-americana, o bilionário Elon Musk atuou em favor dos extremistas na Alemanha, inclusive repetindo argumentos revisionistas sobre o nazismo.
Apesar do resultado favorável aos neofascistas, a expectativa é de que os demais partidos políticos sigam a política de isolamento dos extremistas no Bundestag. A composição mais provável é um governo liderado pela CDU e seus aliados da União Social Cristã da Baviera (CSU) com o SPD, mas é possível que seja necessária a inclusão de outros partidos menores.
POLITICO e TIME também repercutiram o impacto das eleições alemãs na agenda climática em Berlim e na UE.