Contexto internacional atrapalha ação multilateral contra crise climática, afirma CEO da COP30

Para Ana Toni, diretora-executiva da COP30 e secretária nacional de mudanças climáticas, a geopolítica global será um desafio para o sucesso das negociações em Belém.
27 de fevereiro de 2025
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Valter Campanato/Agência Brasil

A instabilidade política internacional será um dos obstáculos mais importantes para o avanço das negociações na próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30) que acontecerá em novembro na cidade de Belém (PA). Essa é a avaliação de Ana Toni, secretária nacional de mudanças climáticas e diretora-executiva da COP.

“Não tenho nenhuma dúvida que o cenário internacional é extremamente difícil. Os Estados Unidos, as eleições que estão acontecendo e os outros governos. Logicamente, então, o cenário internacional para fortalecer o multilateralismo está cada vez mais difícil”, disse Toni durante evento em Brasília, citada pelo Valor.

Além dos reflexos econômicos pós-pandemia e os conflitos na Ucrânia e em Gaza, o retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos complicou a equação geopolítica para as negociações climáticas. Sob o comando de negacionistas, o novo governo iniciou a retirada dos EUA do Acordo de Paris e interrompeu a agenda climática empreendida pela gestão do ex-presidente Joe Biden. 

Mesmo com essas dificuldades, Ana Toni avalia que a realidade da crise climática forçará os países a enfrentar suas consequências, querendo ou não. Para a CEO da COP30, a adaptação climática não é mais “uma escolha, mas, sim, uma necessidade”, e os governos precisarão encará-la, especialmente do ponto de vista do financiamento.

Sobre as negociações climáticas, a chamada troika das Presidências das COPs 28 (Emirados Árabes Unidos), 29 (Azerbaijão e 30 (Brasil) publicou nesta 4ª feira (26/2) uma carta destacando a continuidade dos esforços para incentivar o aumento da ambição dos novos compromissos climáticos e implementação dos instrumentos e objetivos do Acordo de Paris, em especial o limite de 1,5oC para o aquecimento neste século.

O documento reconhece as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) apresentadas pelos países – a despeito de, na prática, pouquíssimos o terem feito até o momento. Ao mesmo tempo, a troika reiterou seu pedido para que os novos compromissos nacionais, em seu conjunto, viabilizem reduções das emissões globais de gases de efeito estufa de 43% até 2030 e 60% até 2035.

“Pedimos a todas as Partes e parceiros – governos, setor privado, sociedade civil e organizações internacionais – para aumentar e acelerar de forma significante seu suporte. Esperamos que todas as Partes cumpram com seus compromissos assumidos nas COP28 e COP29 e definam planos nacionais que ampliem as oportunidades apresentadas através de NDCs robustas para 2035”, destacaram os países da troika.

Ainda sobre as negociações de clima, o g1 abordou a estratégia do governo brasileiro que quer aproveitar a presidência do grupo BRICS neste ano para definir uma posição conjunta das economias emergentes sobre o financiamento climático. Nesta semana, os negociadores do BRICS estão reunidos em Brasília para discutir os temas prioritários estabelecidos pelo Brasil para a cúpula de chefes de estado, programada para acontecer em julho no Rio de Janeiro.

“Teremos a COP no 2º semestre, daí a importância de se conectar todos os processos: G20, BRICS e COP. Os países em desenvolvimento e emergentes não ficaram totalmente satisfeitos com os resultados de Baku [COP29] porque, em termos de financiamento – e dada a necessidade de volumes mais altos de financiamento no combate à mudança do clima – os resultados foram modestos”, disse o embaixador Maurício Lyrio, negociador-chefe do Brasil para o BRICS.

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