
As inundações estão se tornando um fator crescente de risco para execuções hipotecárias nos Estados Unidos, conforme revela um novo estudo da First Street Technology Inc. A análise aponta que danos por enchentes, não cobertos pela maioria dos seguros residenciais padrão, têm levado a um aumento significativo de perdas de propriedades. Entre 2000 e 2020, 20 das 29 grandes inundações analisadas resultaram em picos anormais de execuções hipotecárias, contrastando com apenas 6 desses ápices em 16 eventos de ventos e 1 em 10 incêndios florestais.
A falta de seguros específicos contra inundações é o principal motivo para esse fenômeno, revelam os dados. Enquanto problemas com pagamentos de seguros explicam as execuções após eventos de vento, nas áreas inundadas a ausência total de cobertura é o fator determinante. Exceções ocorreram apenas em bairros mais ricos, onde a valorização imobiliária ajudou a compensar os prejuízos. A situação se agrava pelo fato de que apenas uma pequena parcela da população americana possui seguro contra enchentes.
O impacto econômico dessa realidade já é mensurável. O caso do furacão Sandy em 2012 demonstrou que propriedades danificadas tiveram probabilidade significativamente maior de execução, resultando em US$ 68 milhões em perdas não previstas pelos credores. Esses números alertam para potenciais efeitos em cascata no mercado de crédito, com a possibilidade de inadimplências acima do esperado em regiões vulneráveis a inundações.
O Financial Times destacou que, de acordo com o estudo, as perdas no mercado imobiliário podem atingir até US$1,2 bilhão já em 2025, com projeção de cerca de 19 mil propriedades em risco de serem executadas este ano devido a danos não segurados por inundações, desvalorização de imóveis e um aumento dos prêmios de seguros. Até 2035, as perdas podem atingir US$5,4 bilhões, com 84 mil imóveis afetados.
O impacto financeiro das mudanças climáticas já é visível no setor segurador, que registrou prejuízos globais de US$ 320 bilhões em 2024. Nos EUA, seguradoras estão elevando preços, restringindo novas apólices ou abandonando áreas de alto risco, como regiões da Califórnia e Flórida. Segundo o Banco Federal de Reservas de Dallas, esses aumentos podem levar a um crescimento da inadimplência em hipotecas e cartões de crédito, colocando em risco tanto as finanças familiares quanto a estabilidade do sistema financeiro.
Diante dessas descobertas, especialistas defendem uma revisão urgente nos modelos de avaliação de crédito. Matthew Eby, CEO da First Street, argumenta que os riscos climáticos associados às propriedades devem se tornar um componente essencial na análise de crédito, tão importante quanto a pontuação do mutuário.
Bloomberg, CNN e USA Today, entre outros, analisaram as descobertas do estudo da First Street.
Em tempo: O mercado imobiliário da Flórida enfrenta pressão crescente devido aos impactos climáticos, com preços médios de residências caindo 3,1% em abril - a maior queda entre os estados americanos - enquanto seguros residenciais atingem valores recordes e taxas de não renovação de apólices dispararam 280% desde 2018, informou a Bloomberg. A combinação entre temporada ativa de furacões, reformas regulatórias e possível redução de verbas federais para resiliência climática cria um cenário onde proprietários que tiveram indenização negada após danos como os causados pelo furacão Milton questionem a sustentabilidade do modelo atual, com muitos abandonando seguros ante a desconfiança nas coberturas.