Barbalho defende exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas

“Em Copacabana pode, mas lá na Amazônia a gente não tem direito de ver nossa riqueza se tornar desenvolvimento”, disse o governador do Pará.
9 de junho de 2025
helder barbalho
Divulgação / Grupo Esfera

O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), é cobrado pelas obras para a COP30, em Belém; a oferta ínfima de quartos na capital do Pará; a abertura de uma via que derrubou árvores da Floresta Amazônica; o embargo do IBAMA a fazendas do estado por grilagem e desmatamento; e uma denúncia do Ministério Público Federal (MPF) de irregularidades na venda de créditos de carbono. No entanto, resolveu desviar o foco para o Amapá, engrossando o coro dos defensores da exploração de petróleo na foz do Amazonas.

Não chega a ser novidade a posição de Barbalho. Há vários meses, o governador paraense acionou a narrativa amenizadora de que a Petrobras deveria fazer a “pesquisa” no bloco FZA-M-59, no litoral amapaense, para saber se há petróleo na região – o que, no jargão do setor petrolífero, atende pelo nome de “exploração”. Desde então, mantinha-se à margem da pressão sobre o IBAMA pela licença para o poço de combustíveis fósseis na área.

Na 6ª feira (6/6), porém, Barbalho resolveu atacar, em um evento organizado pelo grupo Esfera Brasil, em Guarujá (SP), em debate com Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, e Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro. Foi um show de equívocos e declarações duvidosas sobre petróleo e desenvolvimento.

Repetindo a cartilha do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o governador do Pará disse que a licença do bloco 59 e consequente exploração da foz está permeada de “ideologias”, destaca o Valor. Disse ainda que o Brasil não pode abrir mão dos combustíveis fósseis para seu “desenvolvimento econômico”, relata a Folha. Em mais uma narrativa batida e já desmentida, recomendou que a Petrobras use essa “riqueza nacional” [que ainda não se saibe se que ela exista] para “financiar a transição energética”.

Segundo o Metrópoles, Barbalho fez uma “dobradinha” com Castro, do Rio – estado que lidera a produção de petróleo no país, o que lhe rende bilhões em royalties, e que, por sua imensa desigualdade econômica e social, prova que petróleo não gera nem riqueza, nem desenvolvimento. O resultado foi risível.

Ao criticar a partilha dos royalties da União, o governador fluminense disse que espera que a foz do Amazonas esteja disponível para a exploração de petróleo. No que Barbalho respondeu que explorar combustíveis fósseis não era uma “escolha”, mas uma “necessidade”. E decidiu comparar Copacabana, na Zona Sul da capital carioca, com a foz.

Assim, o governador do Pará disse que, a 200 km da orla de Copacabana, em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, há exploração de petróleo, mas a 500 km da Floresta Amazônica há “contaminação ideológica” para frear a atividade. “Em Copacabana pode, mas lá na Amazônia a gente não tem o direito de ver a nossa riqueza se tornar o desenvolvimento do povo”, disse.

Barbalho devia saber que o bloco 59 está a cerca de 160 km de Oiapoque, no extremo norte do Amapá – na Floresta Amazônica. Além disso, um vazamento de petróleo na área e em outros blocos da foz do Amazonas – 47 deles serão leiloados em 17 de junho pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) – acabará com os manguezais da Amazônia. Do Amapá ao Maranhão, passando pelo Pará, estão 75% dos manguezais brasileiros, que estocam percentual semelhante de carbono. Liberar esse estoque, além das emissões com a queima do petróleo da foz, não tem nada de “desenvolvimento”.

CNN, Brasil 247, Correio Braziliense, O Globo e UOL também repercutiram as falas de Helder Barbalho sobre petróleo na foz do Amazonas.

  • Em tempo: Enquanto o governador do Pará quer petróleo na foz do Amazonas, os Povos Indígenas do Amapá estão cada vez mais preocupados com a iminência da exploração de combustíveis fósseis na região, relata a coordenadora executiva da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (APOIANP), Luene Karipuna, a France24. “Com a chegada de pessoas para o potencial projeto [do bloco 59, da Petrobras], o garimpo ilegal na região também está aumentando. Também há sobrevoos; não sabemos quais serão os fluxos nesse processo. Isso afeta o circuito de aves, que tem vários ninhos em nosso território. São aves que vêm ao nosso território para se reproduzir e depois retornam ao seu habitat natural, tanto aves oceânicas quanto aves nativas da região”, explicou.

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