
As opiniões contraditórias de especialistas e organizações sobre os resultados da Conferência de Bonn (SB62) que terminou na madrugada de 6ª feira (27/6), são, incrivelmente, um bom sinal. Após anos de conferências preparatórias com resultados frustrantes, a presidência brasileira da COP30 conseguiu avançar em dois dos três temas da agenda prioritária que propôs. No entanto, lembraram ((o))eco e Folha, muitas questões chegarão a Belém ainda indefinidas.
Segundo o Valor, o Brasil saiu vitorioso em seus objetivos para Bonn. Contudo, o ressentimento dos países em desenvolvimento com o fraco compromisso financeiro obtido na COP29 assombrou a reunião preparatória à COP30 desde o primeiro dia. Assim, a “ressaca de Baku”, como é conhecida na comunidade climática, pode chegar até Belém.
Como o Estadão assinalou, o financiamento climático segue como o “elefante na sala”. As nações ricas continuam fugindo da responsabilidade, não querendo bancar os custos que as nações pobres e em desenvolvimento já têm e terão com as mudanças climáticas, causadas majoritariamente pelos países ricos e industrializados. Com os EUA de Donald Trump fora do Acordo de Paris, o impasse tornou-se ainda mais grave.
Apesar disso, os negociadores conseguiram em Bonn avançar em temas considerados prioritários pela presidência brasileira da COP30, como adaptação climática e transição energética justa. Ainda que, nesse último quesito, outro “elefante na sala” – um cronograma efetivo para o fim dos combustíveis fósseis – continue assombrando as negociações.
“As vitórias nunca são nítidas. Esse é um dos problemas para avaliar resultados de negociação de clima”, disse Claudio Angelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima (OC). “Considerando o contexto internacional muito ruim, podemos dizer que o Brasil foi aprovado no seu primeiro teste na presidência da COP30”.
Motivo de impasse até os últimos minutos da SB62, a meta global de adaptação (GGA) teve seu texto aprovado, mas este permanece com vários pontos explícitos de desacordo entre as partes. As discussões opuseram fortemente países ricos e em desenvolvimento, sobretudo quanto ao financiamento e à seleção de indicadores para avaliar o progresso das políticas de adaptação.
O texto sobre transição justa, que deveria ter sido construído em Baku, conseguiu ser criado em Bonn. Com cinco páginas, o documento cita a necessidade de distanciamento dos países dos combustíveis fósseis, conforme consensuado no GST da COP28 de Dubai. Entretanto a Arábia Saudita e de outros pretroestados conseguiram levar a questão para Belém. O texto também destaca, pela primeira vez, a necessidade de garantir a participação de pessoas afrodescendentes na transição.
A CEO da COP30, Ana Toni, considerou os resultados positivos e destacou o contexto global complexo, marcado por guerras e disputas geopolíticas. “Houve um pouco de dificuldade no início, mas todos vieram preparados para negociar. Temos textos, o que é uma notícia realmente excelente. A geopolítica não ajudou, mas o regime climático demonstrou força”, disse.
O Globo, Exame, Agência Brasil e CNN Brasil repercutiram os resultados da conferência de Bonn.
Em tempo: A oferta de quartos em Belém continua sendo uma dor de cabeça imensa para a organização da COP30. Segundo a Folha, o governo brasileiro já recebeu cartas oficiais em que países expressam preocupação quanto aos custos elevados de hospedagem, bem como outras questões logísticas relacionadas à conferência. A falta de leitos e os preços astronômicos ameaçam a participação de várias nações na COP30. Diplomatas ouvidos em Bonn demonstraram grande preocupação com essa questão. POLITICO e VEJA também repercutiram a situação.