Agro brasileiro enxerga oportunidades de investimento chinês sob novo governo de Xi Jinping

agronegócios China
Li Xueren - 16.out.2022/Xinhua

O Partido Comunista da China confirmou no último sábado (20/10) a recondução de Xi Jinping para um 3º mandato consecutivo como presidente do país, feito inédito entre os líderes chineses desde Mao Tse-tung. 

Curiosamente, o agronegócio brasileiro recebeu bem a notícia, a despeito das diferenças políticas entre os dois países; para eles, o novo governo Xi pode ser uma chance importante para destravar novas oportunidades de negócio e investimentos chineses para os produtores brasileiros.

Como Clayton Castelani escreveu na Folha, pelo lado das oportunidades, chama a atenção o foco do governo chinês em reforçar o crescimento econômico a partir do consumo das famílias, inclusive de alimentação. A indústria de proteína animal é quem está mais animada, já que o consumo de carne bovina tem crescido no mercado chinês. Ao mesmo tempo, a demanda por ração animal também deve aumentar, beneficiando os produtores de soja e milho.

A voracidade do mercado chinês pode ser chave para o agronegócio brasileiro resistir a eventuais restrições dos Estados Unidos e da Europa à importação de produtos associados com o desmatamento.

Diferentemente desses mercados, a China ainda não sinaliza essa pretensão, a despeito de colocar (ao menos, no discurso) a questão climática no centro de sua estratégia econômica.

Outro ponto que pode favorecer as empresas brasileiras na estratégia econômica da China de Xi é o investimento em geração de energia renovável. O potencial brasileiro para a eletricidade eólica e solar, bem como para produção de hidrogênio verde, não foge ao radar de Pequim e de suas multinacionais de energia e infraestrutura.

Mas nem tudo é otimismo. O Diálogo Chino trouxe os dilemas da gigante China Construction Communications Company (CCCC), uma estatal que chegou em 2016 ao Brasil com promessas bilionárias ambiciosas, como a construção de um megaporto em São Luiz (MA) e de uma ferrovia no Pará, para a Vale, que conectaria as áreas de extração de minério de ferro e facilitaria o escoamento da produção. No entanto, nada disso saiu do papel.

Um misto de fatores domésticos e externos pode ter dificultado os planos da empresa chinesa. Aqui dentro, a burocracia dita excessiva e o discurso agressivo do presidente Jair Bolsonaro contra o governo chinês certamente não ajudaram.

Lá fora, o impacto da pandemia na China e o reposicionamento geopolítico de Pequim, marcado pela oposição política e econômica aos interesses dos EUA, exigiu um recalibramento de expectativas – e, consequentemente, o abandono de alguns projetos.

Em tempo: Na semana passada, a Justiça dos Países Baixos aceitou uma denúncia internacional contra a empresa norueguesa Norsk Hydro sob a acusação de despejar toneladas de rejeitos químicos em rios e córregos na região de Barcarena, no Pará. Erick Gimenes escreveu no The Intercept Brasil sobre os efeitos da contaminação nas comunidades ribeirinhas que dependem da pesca para sobrevivência; mais do que perder o ganha-pão, muitas famílias convivem com doenças causadas pelos rejeitos da produção de alumínio da empresa. “Não podemos mais pescar, porque o rio virou esgoto da Hydro. O pouco que dá fede a amônia”, reclamou Maria do Socorro Costa, presidente da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (CAINQUIAMA), reclamante na ação.

 

ClimaInfo, 25 de outubro de 2022.

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