Xi Jinping promete China mais verde, mas minimiza energia suja

Xi Jinping
Noel Celis/AFP

O Congresso do Partido Comunista da China, realizado nesta semana, consagrou o atual presidente do país, Xi Jinping, como o líder mais poderoso desde Mao Tsé-Tung. Depois de dois mandatos à frente de Pequim, Xi deve receber um inédito 3º mandato, com vistas a se manter no poder por mais tempo, sem sombras de adversários internos – ao menos, adversários dentro do Partido e da burocracia governamental. Do lado de fora, os desafios se acumulam e a incerteza quanto ao sucesso dos planos ambiciosos do líder chinês seguem grandes.

Em seu discurso de abertura do Congresso, na última 4ª feira (19/10), Xi ressaltou que o governo chinês seguirá perseguindo a “proteção ecológica e ambiental”, ressaltando os avanços obtidos pelo país na última década, especialmente no controle à poluição atmosférica. Ele também prometeu liderar a China em uma nova “revolução industrial verde global”, destacando o compromisso de o país atingir o pico de suas emissões de carbono até 2030 e a neutralidade líquida até 2060.

Ao mesmo tempo, o líder chinês também buscou driblar eventuais críticas quanto à estratégia adotada pelo país desde o começo da pandemia para garantir a segurança energética: novos investimentos para exploração e queima de carvão para geração elétrica. “Trabalharemos de forma ativa e prudente em direção aos nossos objetivos. Com base nas dotações de energia e recursos da China, avançaremos com iniciativas para atingir o pico de emissões de carbono de maneira bem planejada e faseada, de acordo com o princípio de obter o novo antes de descartar o antigo”, disse Xi. Bloomberg, Guardian e Reuters destacaram os principais pontos da fala.

Não é apenas a energia mais suja agora que complica os planos climáticos de Xi. Como assinalou o NY Times, o contexto geopolítico também é um desafio importante para as lideranças de Pequim. A invasão da Ucrânia pela Rússia deixou o governo chinês em lado oposto aos países da União Europeia e aos Estados Unidos. A tensão se intensificou em agosto passado, depois de a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, visitar Taiwan à revelia das autoridades chinesas; por conta disso, o governo de Xi suspendeu a cooperação diplomática com Washington, inclusive na questão climática.

Em tempo: Por falar na guerra entre russos e ucranianos, o Washington Post destacou uma situação curiosa. Em geral, os países tendem a fugir de suas responsabilidades climáticas como o diabo foge da cruz e, para ficar numa analogia bem “Brasil 2022”, tentando jogar nas costas alheias eventuais emissões que possam aumentar sua pegada de carbono. No entanto, Moscou e Kiev lutam para incluir em sua conta nacional as emissões da península da Crimeia, anexada ilegalmente pela Rússia em 2014, bem como de outros territórios igualmente invadidos pelas forças de Vladimir Putin neste ano. Tanto o governo russo como o ucraniano consideram em suas contas nacionais as emissões dessas áreas, o que cria uma “dupla contagem” às avessas – ou seja, o mesmo carbono é incluído na contabilidade de dois países diferentes.

 

ClimaInfo, 21 de outubro de 2022.

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