Acusado de negacionismo climático, presidente do Banco Mundial antecipa saída do cargo

David Malpass negacionismo climático
Brendan Smialowski/AFP

Demorou, mas finalmente o presidente do Banco Mundial, David Malpass, cedeu à pressão e anunciou a antecipação de sua saída do cargo para o final de junho, quase um ano antes do final de seu mandato. A saída acontece depois de meses de cobrança por conta de observações negacionistas sobre a crise climática feitas em setembro, o que motivou críticas de governos, ativistas climáticos e especialistas.

Nomeado pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump, Malpass sempre foi visto com desconfiança entre a comunidade internacional, principalmente em assuntos relacionados a meio ambiente e clima. Trump é um notório negacionista da crise climática, tendo retirado momentaneamente os EUA do Acordo de Paris.

Essa desconfiança ficou maior depois de Malpass afirmar em um evento sobre finanças climáticas que não poderia dizer se a queima de combustíveis fósseis está provocando o aquecimento do planeta. “Eu não sei. Não sou cientista”, disse ele.

A polêmica com Malpass intensificou uma crítica que já acontecia sobre o desempenho do Banco Mundial no financiamento para projetos de mitigação e adaptação climática ao redor do mundo. Uma das críticas é a insistência da instituição em financiar projetos de combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que mantém os níveis de financiamento para projetos de energia renovável em patamares insuficientes.

Com a saída de Malpass, a expectativa dentro e fora do Banco Mundial é de que a instituição busque se “reinventar” na agenda climática. Essa demanda se insere em um debate mais amplo sobre financiamento climático, inclusive para perdas e danos decorrentes de eventos extremos, e o papel das instituições financeiras multilaterais.

“O mundo precisa de mais e melhores financiamentos climáticos para atender à escala da crise climática e às necessidades dos países em desenvolvimento”, afirmou Jake Schmidt, do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais (NRDC) dos EUA, ao Guardian. “Com uma nova liderança, agora o Banco Mundial precisa evoluir rapidamente, como um coro crescente de países e especialistas têm insistido.”

O sucessor de Malpass no Banco Mundial deverá ser definido pelo governo dos EUA, como é tradição dentro da entidade. A secretária do Tesouro norte-americano, Janet Yellen, confirmou que o presidente Joe Biden deve anunciar um nome para a presidência do Banco Mundial em breve. A notícia teve ampla repercussão na imprensa internacional, com manchetes na Axios, BBC, Bloomberg, Climate Home, CNN, Deutsche Welle, Guardian, NY Times, Wall Street Journal e Washington Post, entre outros.

ClimaInfo, 17 de fevereiro de 2023.

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