Representantes de mais de 190 países se reúnem, a partir desta 2ª feira (5/6), na cidade de Bonn, no oeste da Alemanha, para pavimentar o caminho diplomático até a próxima Conferência da ONU sobre o Clima (COP28), que acontecerá no final do ano em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A agenda de discussão é extensa, e a margem para erro, diminuta: o mundo precisa avançar significativamente em diversas frentes para viabilizar os objetivos do Acordo de Paris.
De fato, desafios não faltam aos negociadores em Bonn. Um dos itens da agenda é o 2º Diálogo de Glasgow, instância criada na COP26, na Escócia, para discutir a resposta dos governos às perdas e danos decorrentes da crise climática. Com a decisão de se criar um fundo específico para compensar essas perdas e danos, a ocasião ganhou contornos mais estratégicos, sendo vista como um passo crucial para a estruturação do futuro fundo, a ser formalizada pelos países na próxima Conferência do Clima.
Outro tema que será discutido na Alemanha será o Global Stocktake, uma das etapas do processo de revisão cíclica das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na sigla em inglês) dos países sob o Acordo de Paris. Nessa etapa, governos e observadores deverão submeter informações e análises sobre o processo de implementação das NDCs atualmente em vigor, bem como sugestões a serem consideradas no próximo ciclo de contribuições.
Para fechar, outros temas “perenes” das negociações climáticas devem tomar espaço na agenda de Bonn, como a ampliação da oferta de financiamento climático para os países em desenvolvimento e a implementação dos dispositivos do Artigo 6 do Acordo de Paris, sobre o uso de instrumentos de mercado para redução das emissões.
“Seis meses antes da COP28, ainda não recebemos um sinal claro de que a cúpula do clima deste ano cumprirá o compromisso de uma eliminação equitativa e justa dos combustíveis fósseis, juntamente com os esforços para aumentar os investimentos em energia renovável e eficiência energética”, destacou a Climate Action Network (CAN International), principal coalizão de organizações da sociedade civil no tema climático.
O encontro na Alemanha será também a primeira ocasião em que o futuro presidente da COP28, o executivo da indústria petroleira Sultan Al-Jaber, se apresentará aos negociadores e aos observadores nessa condição, em um espaço oficial de negociação da ONU.
A recepção deve ser fria, a depender da sociedade civil organizada, pois diversas organizações seguem reivindicando a substituição de Al-Jaber, sob o argumento de que ele possui conflitos de interesse que podem solapar qualquer avanço nas negociações deste ano.
“Se me perguntassem como tornar a COP28 um sucesso, não colocaria o chefe de uma empresa de combustíveis fósseis encarregado de organizá-la”, disse ao Guardian a cientista Friederike Otto, do Grantham Institute, do Imperial College London. “Eu não convidaria lobistas de empresas de combustíveis fósseis. Eu tentaria garantir que tudo fosse feito para remover a energia fóssil do suprimento energético global o mais rápido possível.”O governo dos Emirados Árabes Unidos, no entanto, segue convicto de sua decisão. À Associated Press, Majid Al-Suwaidi, diretor-geral da organização da COP28 no país, reiterou que pretende incluir a indústria dos combustíveis fósseis nas negociações, em Dubai. “Precisamos ter petróleo e gás, indústria, aviação, transporte marítimo, precisamos ter todos os setores difíceis de mitigar, de todos aqueles que podem entregar o que for possível, independentemente de quem sejam”, disse.
ClimaInfo, 5 de junho de 2023.
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