ClimaInfo, 27 de novembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

CORTES NO ORÇAMENTO COMPROMETEM MONITORAMENTO DO DESMATAMENTO E METEOROLOGIA

O orçamento real do Inpe encolheu quase 70% nos últimos sete anos, de R$ 326 milhões, em 2010, para R$ 108 milhões, em 2017, segundo dados obtidos pelo Estadão e corrigidos pela inflação. Já o quadro de funcionários encolheu quase 25% em dez anos. Para 2018, a tendência é piorar: o governo pretende cortar 39% do orçamento de todos os institutos e autarquias ligadas ao MCTIC, incluindo o Inpe e a Agência Espacial Brasileira.

Os cortes ameaçam paralisar projetos e serviços essenciais prestados pelo Inpe, como o monitoramento da Amazônia e as “previsões numéricas” do tempo, que são a base de toda a meteorologia nacional.

Como se não bastasse, o principal supercomputador usado para as previsões do tempo no Brasil está velho e pode parar. É recomendado que computadores desta classe sejam trocados a cada quatro anos. O existente vai completar oito no ano que vem. O contrato de manutenção venceu no mês passado e não foi renovado. Se parar, param as previsões do tempo no país.

Para completar o triste quadro, comentamos na semana passada que o mesmo acontece no Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), que está sem recursos suficientes para manter em funcionamento os mais de seis mil sensores de monitoramento espalhados por todo o Brasil e pagar os salários dos pesquisadores, o que certamente vai impactar as ações das Defesas Civis e governos locais.

Prováveis prejuízos à produção e mortes evitáveis se eventos climáticos extremos não puderem mais serem alertados devem ser colocados na conta de Temer, Meirelles e Kassab. Condenar o país a um futuro sem ciência é um pecado mortal, o suficiente para enterrar qualquer referência nos livros de história. Furar os olhos do país para o tempo e o clima deveria ser crime hediondo.

http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,corte-no-orcamento-do-inpe-ameaca-satelites-e-monitoramento-da-amazonia,70002097320

https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/ag-estado/2017/11/26/previsao-do-tempo-pode-parar-sem-aviso-previo-por-falta-de-recursos.htm

http://jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/2-centro-nacional-de-monitoramento-de-desastres-naturais-pode-deixar-de-funcionar-em-2018/

 

A PRODUÇÃO DE ÁGUA NO CERRADO

Marcelo Leite, na sua coluna de ontem na Folha de São Paulo, fala de um trabalho publicado no ano passado na revista ‘Philosophical Transactions of the Royal Society B’ sobre como , no Cerrado,  a água acaba alimentando nascentes e regularizando os rios. Segundo as autoras, “ecossistemas naturais abertos como campos e savanas são (…) mais eficientes que florestas como geradores de recurso hídrico renovável, e plantar árvores não aumenta a produção de água, embora melhore sua qualidade e contribua para a regulação da vazão ao longo do ano. Uma vez preservados os ecossistemas naturais, adotar práticas de cultivo e conservação do solo que aumentem a infiltração da chuva em toda a bacia, trará contribuição maior do que o plantio de florestas para assegurar a vazão dos rios, mesmo nos meses de estiagem, proporcionando os serviços ecossistêmicos dependentes dessa água”.

O trabalho, ou pelo menos as conclusões das autoras, gera controvérsias. Uma delas foi explicitada pelo jornalista Claudio Angelo no Facebook: “Se o que mantém a água é o capim, então OK desmatar todo o cerrado para botar pasto? Alguém mediu o efeito de vegetação nativa versus pastagens para a água no cerrado?”

http://rstb.royalsocietypublishing.org/content/royptb/371/1703/20150313.full.pdf

http://www.scielo.br/pdf/hoehnea/v44n3/2236-8906-hoehnea-44-03-0315.pdf

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2017/11/1937782-no-cerrado-garantia-de-agua-vem-do-capim-nao-de-arvores.shtml

 

CHINESES CONSIDERAM CONSTRUIR FERROVIA DE ILHÉUS NO ATLÂNTICO ATÉ ILO NO PACÍFICO PERUANO

A China Railway Construction Corporation (CRCC) está considerando investir na construção de uma ferrovia ligando a Ferrovia Norte-Sul ao porto peruano de Ilo. O projeto parte de Campinorte (GO), passa por Lucas do Rio Verde (MT), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC) e acompanha a Estrada do Pacífico até Ilo, no Pacífico. Com a possível ligação, algum dia, do futuro porto de Ilhéus com a Ferrovia Norte-Sul, 260 km ao norte, em Figueirópolis (TO), pela FIOL, a Ferrovia de Integração Oeste-Leste, estaria completada a ligação ferroviária entre o Atlântico e o Pacífico.

Hoje, há três rotas possíveis para a soja do Mato Grosso e do cerrado chegar à China: de caminhão até Paranaguá (PR) ou Santos (SP); de trem pela Norte-Sul até o Itaqui (MA), ou de caminhão até Miritituba no baixo Tapajós (PA) e, de lá, por barcaça até um porto da foz do Amazonas. A partir de qualquer um desses portos, os navios têm que atravessar o Canal do Panamá. A ferrovia da CRCC poderia funcionar como concorrente do Canal e levar a soja das regiões produtoras diretamente a um porto no Pacífico. O canal é visto pelos chineses como um risco posto que, mesmo depois dos EUA terem devolvido a soberania da região e do canal ao Panamá em 1999, eles entendem que os EUA controlam a rota.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/11/1938331-china-quer-construir-ferrovia-no-brasil.shtml

 

ÍNDICE DE PERFORMANCE CLIMÁTICO COLOCA BRASIL EM 19ºLUGAR

As equipes da Germanwatch, da New Climate e da Climate Action Network montaram um índice para avaliar o desempenho dos países quanto às suas iniciativas e esforços (ou não) para a redução da concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera. O índice existe há 13 anos e foi incrementado em 2015 para acompanhar os compromissos assumidos junto ao Acordo de Paris. Ele abarca 56 países mais a União Europeia e congrega informações em três grandes blocos: emissões de GEEs, energia renovável e uso da energia. E também avalia a compatibilidade das metas com o que seria esperado para a limitação do aquecimento global em 2°C. As equipes contaram com o apoio de mais de 300 especialistas dos países analisados para obterem uma avaliação local das iniciativas e políticas. Pelos critérios adotados, nenhum país alcançou o que eles exigiriam dos três primeiros colocados. Assim, o melhor colocado, a Suécia, ficou em 4o lugar. Na lista de 60 países, o Brasil ficou em 19º. A relativamente boa colocação vem por termos uma matriz fortemente hidrelétrica e termos um tanto de etanol movendo os automóveis, pelo menos muito mais do que os outros países. O calcanhar de Aquiles é, claro, o desmatamento e, logo na análise introdutória, é dito que “os sinais promissores de uma redução das emissões florestais foram relativizados quando o governo cortou ou reduziu políticas importantes para o setor”. O Brasil ficou bem na frente da China (41º) e dos EUA (56º). Aliás, Trump está em “boa” companhia porque, atrás deles, só a Austrália, a Coreia do Sul, o Irã e a Arábia Saudita.

Leitura interessante, o relatório completo está no link http://germanwatch.org/en/14639

 

FUVEST COBRA TEMAS AMBIENTAIS

O Acordo de Paris, o papel das terras indígenas na contenção do avanço do desmatamento e a poluição de plásticos nos oceanos foram assuntos cobrados na primeira fase do vestibular da Fuvest. A repórter de meio ambiente do Estadão, Giovana Girardi, comenta a importância desses temas e as respostas corretas em live com a repórter especial de educação.

https://www.facebook.com/estadao/videos/2251865658161817/

 

AS EÓLICAS ALEMÃS GERARAM MAIS ENERGIA DO QUE AS NUCLEARES E AS TÉRMICAS A CARVÃO ANTRACITO

As plantas eólicas alemãs, em terra e offshore, geraram este ano quase 90 TWh (terawatts-hora, bilhões de kWh) enquanto as térmicas que queimam o carvão antracito (hard coal) geraram cerca de 70 TWh e as nucleares 45 TWh. Ainda assim, as térmicas a carvão do tipo lignito geraram 117 TWh e continuam sendo a peça mais importante do sistema elétrico alemão.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-11-24/german-wind-power-beats-hard-coal-nuclear-power-for-first-time

 

SUÉCIA APROVEITA 99% DO LIXO PARA GERAR ELETRICIDADE E CALOR E TOCAR A FROTA DE ÔNIBUS

A revista Página 22, do GVces, traz um artigo interessante sobre o aproveitamento de lixo na Suécia onde apenas 1% acaba parando em algum aterro. Já faz tempo que os resíduos orgânicos são separados e vão para biodigestores. O gás nestes gerado toca  frotas de ônibus e até carros particulares. Do resto, metade do lixo é reciclada e vira matéria prima. A outra metade é queimada em incineradores para geração  de eletricidade e calor para os sistemas distritais de aquecimento.

Um exemplo é uma usina térmica a noroeste de Estocolmo que, originalmente, queimava óleo e carvão e foi parcialmente convertida para queimar madeira reciclada, resíduos de biomassa e roupas que a cadeia H&M não consegue vender. O objetivo, segundo o gerente de suprimento de combustíveis, é queimar apenas combustíveis renováveis e os reciclados. Para ele, a roupa da H&M é um combustível como outro qualquer.

Em tempo: de modo geral, os sistemas de filtragem dos gases de exaustão dos incineradores hoje em operação são impressionantes, ocupando várias vezes a área e o volume dos incineradores em si, e o controle técnico e social sobre as plantas é visto como essencial para que estas sigam operando.

http://pagina22.com.br/2017/11/23/aprendendo-com-o-pais-onde-falta-lixo/

https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-11-24/burning-h-m-rags-is-new-black-as-swedish-plant-ditches-coal

 

MEGAPROJETOS DE INFRAESTRUTURA VIRARAM MEGAFRACASSOS

Um artigo na National Geographic diz que megaprojetos de infraestrutura estão apanhando feio das novas renováveis e de tecnologias mais limpas. Na história contada, 2011 foi um ano de virada, quando uma série de desastres naturais empoderaram a resistência da sociedade civil a grandes projetos de energia fóssil e de mineração. Aquele ano começou com o acidente de Fukushima que, basicamente, congelou projetos nucleares pelo mundo todo. Em seguida, duas grandes térmicas fósseis indianas faliram e, pouco mais tarde, uma grande hidrelétrica, também indiana, foi paralisada. De lá para cá, o artigo vai mostrando que usina após usina, mina após mina, foram encontrando obstáculos que, quando não as paralisavam, tornavam as obras muito mais caras do que previstas para atender uma sociedade civil cada vez mais organizada e demandante.

A lista do artigo não inclui o projeto do Complexo Tapajós, que teria 10,7 GW e que está, por ora, trancado numa gaveta do Ibama.

https://news.nationalgeographic.com/2017/11/mega-projects-fail-infrastructure-energy-dams-nuclear/

 

A SOBREOFERTA DE BICICLETAS QUEBRA EMPRESAS DE ALUGUEL NA CHINA

As fotos no The Guardian impressionam: em Xiamen ,na China, uma pilha gigantesca de milhares de bicicletas azuis, vermelhas e amarelas. Todas de empresas de aluguel que compraram equipamentos demais. Uma delas, a das azuis, a Bluegogo, faliu. As bicicletas podiam ser pegas e deixadas em qualquer lugar e eram liberadas aproximando um celular do QR Code nelas impresso. A competição levou os preços para baixo, por poucos centavos a cada 30 minutos e elas encheram as cidades de bicicletas para garantir que seus usuários as encontrassem facilmente. Só em Shangai, 24 milhões de habitantes, havia 1,5 milhão de bicicletas: uma para cada 16 habitantes. As calçadas começaram a ficar entupidas de bicicletas dificultando a vida dos pedestres.

https://www.theguardian.com/uk-news/2017/nov/25/chinas-bike-share-graveyard-a-monument-to-industrys-arrogance

 

O DRAMA DAS FAMÍLIAS ATÉ HOJE DESABRIGADAS PELOS FURACÕES NOS EUA

Nos EUA, a passagem dos furacões deste ano criou crises habitacionais séria no Texas, na Flórida, em Porto Rico e nas Ilhas Virgens americanas. Houston e Orlando têm menos de 18 casas para aluguel para cada 100 famílias de renda baixa. Em Porto Rico, 45% da população está vivendo abaixo da linha de pobreza, assim como 30% da população das Ilhas Virgens (a média nos EUA é de 15%). Mais de 70 mil pessoas, incluindo milhares de crianças, ainda estão vivendo em abrigos temporários de um programa governamental de atendimento de emergências. E milhares estão em outros abrigos menos oficiais. Um artigo no The Hill aponta que o maior risco é, com o final dos programas emergenciais, a maioria dessas pessoas se tornem sem-teto. O que acrescentaria mais uma nota triste na já longa lista de Trump, o presidente do país mais rico do mundo.

http://thehill.com/opinion/energy-environment/361546-hurricane-victims-are-headed-for-homelessness

 

É ALARMANTE O NÚMERO DE CASAMENTOS COM MENINAS NA ÁFRICA POR CAUSA DE CRISES CLIMÁTICAS

Mais de um milhão de meninas do Malawi correm o risco de serem casadas. Enchentes ou secas que destroem plantações deixam as famílias com pouca ou nenhuma receita e vender as filhas em casamento passa ser quase uma necessidade para levantar um pouco de recursos e tirar uma boca da mesa. O número de casamentos de meninas entre 11 e 15 anos vem crescendo. E, claro, a quantidade de filhos nascidos desses casamentos. Em Moçambique, talvez o país com a maior incidência de casamentos adolescentes, estima-se que metade das moças é casada antes dos 18 anos e, em cada sete, uma é casada antes dos 15. Enquanto documentários mostram os danos a corais e filmes-catástrofe mostram ondas gigantes destruindo cidades, o clima já está afetando irreversivelmente a vida de milhares de meninas africanas.

https://www.theguardian.com/society/2017/nov/26/climate-change-creating-generation-of-child-brides-in-africa

 

PESQUISA MOSTRA QUE O MUNDO PREFERE AS RENOVÁVEIS. NUCLEAR E CARVÃO SÃO AS MENOS COTADAS

Pela primeira vez foi feita uma pesquisa mundial de opinião sobre as fontes renováveis de energia. Em julho, uma empresa dinamarquesa, a Oersted, fez a pesquisa com 26 mil pessoas em 13 países, para que as 2 mil respostas de cada país fossem estatisticamente representativas. EUA, China, Canadá e países da Europa foram os alvos. Brasil, Índia, Austrália não foram pesquisados. A principal pergunta foi “Quão importante você acha que é criar um mundo inteiramente movido a energia renovável (queremos dizer energia produzida de modo a não impactar o clima ou o fazer de forma limitada)”. 82% dos respondentes disseram que o objetivo era importante. Com essa maioria, as quebras por idade, educação e até por inclinação política não mostraram diferenças expressiva. Perguntados sobre quais seriam os maiores riscos da atualidade, o terrorismo veio em 1o lugar e a mudança do clima em 2o. Também foi pedido para classificar as fontes de energia e a fotovoltaica veio em 1o. A nuclear ficou em penúltimo, na frente apenas do carvão.

https://orsted.com/-/media/WWW/Docs/Corp/COM/Barometer-campaign/Green-Energy-Barometer-2017_with-appendix.ashx

https://www.vox.com/energy-and-environment/2017/11/20/16678350/global-support-clean-energy