ClimaInfo, 16 de janeiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

PERSPECTIVAS PARA A ENERGIA EM 2018

O que de importante deve acontecer com a energia no Brasil neste ano foi o tema das conversas que a Agência E&P Brasil teve com gente do governo e do setor privado nesse começo de ano. Os temas relevantes para os entrevistados foram: 1) a privatização da Eletrobrás; 2) as pendências judiciais e o novo marco regulatório do setor elétrico; 3) a regulamentação do RenovaBio; e 4) a exploração do pré-sal.

Interessante notar que a mudança do clima é levada em conta, mas como uma força para a extração de todo o petróleo possível antes que o mundo abandone os fósseis. Sem nenhuma menção aos impactos climáticos agudizados.

No mundo, os quatro temas a acompanhar são: 1) a Arábia Saudita, sua estabilidade política e o conflito cada vez mais aberto com o Irã: analistas acham que, num eventual confronto aberto, o Irã ganha, a produção mundial despenca e o preço do barril sobe; mesmo do jeito que está, a instabilidade saudita vai pressionar o preço do petróleo para cima; 2) a exploração dos fósseis de folhelho nos EUA cresceu 10% no ano passado, e segue favorecida pelo aumento do preço do petróleo; 3) a China que, por um lado voltou a crescer, por outro investiu no aumento da eficiência da economia, produzindo mais com menos energia: a inclinação para um lado ou para outro da balança chinesa também mexe no preço dos fósseis; uma China consumindo menos puxa o preço para baixo; e 4) as renováveis e seu ritmo de crescimento: por enquanto, elas ainda dependem de subsídios dos governos, mas para que a energia mundial realmente se descarbonize ao longo do tempo, é preciso que os subsídios desapareçam; a dúvida, portanto, é quando isso vai acontecer. Dificilmente 2018 será o ano da grande virada, mas será preciso dar grandes passos na direção correta.

http://epbr.com.br/o-que-esperar-para-o-setor-de-energia-em-2018/

https://www.ft.com/content/c9bdc750-ec85-11e7-8713-513b1d7ca85a

https://medium.com/world-economic-forum/the-key-trends-that-will-shape-renewable-energy-in-2018-and-beyond-1a166695feba

 

VENEZUELA: MINERAÇÃO MATA POR DISPUTAS, CONTAMINAÇÃO E MALÁRIA

A crise econômica venezuelana está levando o governo a incentivar a mineração de ouro na Amazônia ao longo do arco do Orinoco, o que traz na esteira desmatamento e mortes. No ano passado, oficialmente, foram extraídas 8,5 toneladas de ouro e mais um monte de diamantes e coltan, um minério que combina columbita e tantalita, de onde se extrai nióbio e tântalo para a indústria de semicondutores. O governo tentou parcerias com as grandes mineradoras globais, mas nenhuma topou. Assim, as áreas estão sendo exploradas por garimpeiros que usam muito mercúrio e nenhuma precaução ambiental. O resultado, conhecido em toda a região amazônica, é a contaminação das águas, as doenças provocadas por essa poluição e mais malária e mortes por conflitos acirrados pelas gangues que se formam para extorquir ouro dos garimpeiros. Entre janeiro e outubro do ano passado, foram registrados mais de 1.400 assassinatos. A Folha de ontem trouxe um aperitivo do trabalho cuidadoso de Brian Ebus.

https://arcominero.infoamazonia.org/?lang=pt

http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/01/1950328-mineracao-leva-violencia-e-malaria-a-venezuela.shtml

 

A POSSÍVEL RECUPERAÇÃO DA SIDERURGIA BRASILEIRA

A crise das siderúrgicas brasileiras tinham uma causa principal: o excesso de capacidade chinesa. Na década passada, quando a China crescia a taxas acima de 12%, o governo chinês quis garantir o fornecimento de aço e investiu em muitas novas siderúrgicas. Em 2013, com a economia chinesa crescendo bem menos, começou a sobrar aço, ou melhor, fábricas. A sobrecapacidade chinesa chegou a ser maior do que toda a capacidade brasileira. O preço do aço despencou e a siderurgia brasileira, com fábricas construídas antes de 1980, perdeu competitividade. O resultado foi o desligamento de quase metade dos altos fornos. De uns tempos para cá, o governo chinês fechou as siderúrgicas mais antigas, mais ineficientes e mais poluidoras. Com isso, enxugou a capacidade ociosa e o preço do aço subiu, puxando nossa siderurgia junto.

A fabricação de aço é, no setor industrial, a principal emissora de gases de efeito estufa, por usar muito carvão mineral que fornece calor e o carbono que compõe o aço. Com isso, as emissões nacionais vão crescer.

http://www.valor.com.br/empresas/5257827/siderurgia-tem-o-melhor-momento-em-muitos-anos

PROTESTOS CONTRA TRUMP ANTES DE SUA VIAGEM AO FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL

Na semana passada, o presidente Trump cancelou a viagem que faria ao Reino Unido no próximo mês para inaugurar a nova embaixada dos EUA em Londres. A Casa Branca alegou motivos de segurança diante das ameaças de manifestações contra o presidente. Já Trump twittou que a mudança de endereço da embaixada, obra da gestão Obama, foi um “mau negócio”. Ontem na Suíça, aconteceram manifestações contra Trump, que prometeu comparecer ao Fórum Econômico Mundial em Davos no mês que vem. Foram levadas faixas com palavras de ordem contra o capitalismo, a globalização e pela ação climática. Durante os últimos anos, não houve grandes manifestações contra o Fórum de Davos. Trump pode estar virando motivo para a retomada das manifestações.

https://www.thecanary.co/global/2018/01/14/switzerlands-response-donald-trump-may-explain-just-cancelled-uk-visit/

A LENTIDÃO JAPONESA EM ABRAÇAR AS FONTES RENOVÁVEIS É CRITICADA PELO SEU MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

No último meio século, a economia japonesa avança mais lentamente do que a mundial, inclusive na adoção de fontes renováveis de energia. Essa inércia foi duramente criticada pelo ministro das relações exteriores japonês, que vê o país ficando para trás nos seus compromissos junto a Paris, e que poderia avançar muito mais rapidamente na adoção das fontes solares e eólicas. Ao invés disso, o Japão se transformou no principal comprador mundial de gás natural liquefeito, além de continuar a ser o terceiro maior comprador de carvão mineral. As declarações do ministro foram feitas na assembleia da Irena, Agência Internacional de Energia Renovável, em Abu Dhabi.

http://www.valor.com.br/internacional/5257631/ministro-japones-critica-desempenho-de-seu-pais-na-geracao-de-energia#

https://www.eia.gov/beta/international/analysis.cfm?iso=JPN

https://www.eia.gov/beta/international/analysis_includes/countries_long/Japan/japan.pdf

UM BALANÇO DA MUDANÇA CLIMÁTICA NOS TRIBUNAIS E NA LEGISLAÇÃO

Pesquisadores do Grantham Research Institute, de Londres, foram atrás da relação entre os mundos legislativo e jurídico e a mudança do clima. Encontraram mais de 1.200 leis relevantes sobre a questão climática, um aumento de vintes vezes nos últimos vintes anos. Na medida em que as bases legais foram sendo estabelecidas, os pesquisadores viram que a quantidade de novas leis caiu de 100 novas peças, em 2009, para menos de 40, em 2016. O desafio, segundo os autores, é fortalecer o que já existe e completar as lacunas. Os pesquisadores também notaram que, em países de baixa renda, os instrumentos legais são mais voltados para o aumento da resiliência do que para mitigação de emissões.

Os tribunais também estão atuantes. Em mais de 250 casos examinados fora dos EUA, em dois terços deles as cortes reforçaram as regulações climáticas e, no outro terço, a enfraqueceram.

A pesquisa não trata dos esforços que Trump e Scott Pruitt têm empreendido para reverter a regulação climática nos EUA. Mas ao destacar a importância do reforço das estruturas legais, os pesquisadores deviam estar pensando nos destruidores americanos.

Marcelo Leite, na sua coluna de ontem, também tocou na judicialização do clima e juntou com a notícia das mortes pelos impactos climáticos na Califórnia e um toque sobre a Lava Jato e o acordo que a Petrobras fechou com investidores internacionais.

http://www.lse.ac.uk/GranthamInstitute/publication/global-trends-in-climate-change-legislation-and-litigation-2017-update/

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2018/01/1950383-corrupcao-aleija-mas-mudanca-do-clima-mata.shtml

FORD REFORÇA GUINADA EM DIREÇÃO AOS ELÉTRICOS

Neste domingo, a Ford anunciou que elevará os investimentos planejados em veículos elétricos para US$ 11 bilhões até 2020 – um aumento significativo em relação aos US$ 4,5 bilhões até 2020 anunciados anteriormente. O objetivo é ter 40 veículos híbridos e elétricos puros em sua linha até os primeiros anos da próxima década. Desses, 16 devem ser totalmente elétricos; os demais devem ser híbridos plug-in. Alguns serão produzidos com a joint-venture da Ford na China, visando o mercado chinês.

Além da inveja – não muito branca – da supervalorização da Tesla, os fabricantes de automóveis, em geral, estão reagindo à pressão dos reguladores na China, na Europa e na Califórnia no sentido de reduzir as emissões de carbono dos combustíveis fósseis. China, Índia, França e Reino Unido anunciaram planos para eliminar os veículos movidos por motores de combustão a combustíveis fósseis entre 2030 e 2040.

A GM anunciou, no ano passado, planejar 20 elétricos em sua linha global até 2023, com promessa aos acionistas de que teria lucro vendendo carros elétricos até 2021. A Volkswagen anunciou, em novembro, que investirá US$ 40 bilhões em carros elétricos, condução autônoma e novos serviços de mobilidade até o final de 2022.

http://fortune.com/2018/01/14/ford-11-billion-electric-car-investment

 

PETROLEIRO IRANIANO EXPLODE E AFUNDA NO MAR DA CHINA; ÓLEO PODE CONTAMINAR LITORAL

Há dez dias, o petroleiro iraniano Sanchi (de bandeira panamenha) colidiu com um cargueiro e explodiu matando seus 32 tripulantes. Ele estava a 180 km a leste de Shanghai e estima-se que transportava um milhão de barris de condensado de petróleo rumo à Coreia do Sul. O navio ficou queimando durante dias até que, no último domingo, afundou depois de uma explosão final, cujas chamas e gases chegaram a 1 km de altura. Só três corpos foram encontrados. O temor agora é com a mancha de óleo que se espalha na direção do litoral. Estima-se que pode atingir a costa coreana em três meses. Ainda há muita incerteza sobre o que vai acontecer com o óleo que se espalhou no mar.

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/01/180113093733.htm

http://www.abc.net.au/news/2018-01-14/iranian-oil-tanker-sinks-after-explosion/9328106

CONSTRUINDO ABRIGOS PARA SEM-TETO COM IMPRESSORAS 3D EM NY

Uma firma de arquitetura desenvolveu um projeto para abrigar moradores de rua, simples e de baixo custo, usando impressoras 3D e espaços verticais vazios entre edificações. Nova York tem um problema comum a todas as grandes metrópoles: uma população de rua crescente e, mesmo em condições de país grande, com espaços insuficientes para abrigá-los. A crise fica bem séria durante o inverno, especialmente com o que a cidade está atravessando. Como cada metro de terreno é disputado, a equipe começou a pensar em soluções que aproveitassem vazios entre prédios de diferentes alturas ou com recuos em paredes sem janelas. Com uma estrutura feita em aço, criaram módulos com impressoras 3D similares a colmeias, com espaço para uma cama e um pouco mais. Alguns gomos das colmeias são equipados com chuveiro e privada acessíveis a todos os moradores. Vale dar uma espiada. O material empregado preserva o calor no inverno e aberturas facilitam a refrigeração no verão. Sem precisar de ar-condicionado. E sem precisar de cimento – um dos materiais de construção mais intensivos em carbono.

https://www.framlab.com/homed

https://www.archdaily.com.br/br/886560/capsulas-construidas-com-impressao-3d-podem-abrigar-moradores-de-rua-em-nova-iorque

O JET-STREAM DO ATLÂNTICO NORTE ESTÁ POR TRÁS DOS EXTREMOS CLIMÁTICOS E VAI PIORANDO COM A MUDANÇA DO CLIMA

A onda de frio que desceu do Ártico atravessando o meio do Canadá e o centro-leste dos EUA foi causada por uma oscilação do jet-stream do Atlântico Norte (NAJ, da sigla em inglês). Em um artigo publicado na Nature Communications da semana passada, os autores refizeram a história da variabilidade desse jet-stream desde 1735, por meio da análise dos anéis de crescimento de árvores. Simplificando muito a pesquisa, em anos em que o jet-stream é fraco, o clima no norte dos EUA e da Europa fica mais quente, as árvores crescem mais e os anéis ficam mais largos. Nos anos em que o jet stream é forte, o oposto acontece. Os pesquisadores descobriram uma correlação muito forte entre os extremos de variabilidade do jet stream voltados para o norte, que resultaram em de ondas de calor intenso e secas, enquanto os dirigidos para o sul, provocaram incêndios florestais no sudeste da Europa. Ao usar três séculos de dados, os pesquisadores confirmaram que o posicionamento do jet stream até meados do século passado era compatível com a variabilidade histórica, mas que nesses primeiros anos do século 21, o número e a intensidade das anomalias não têm precedentes nos dados coletados na análise das árvores. Fenômenos como a onda de calor que fustigou a Europa em 2003, até os incêndios no ano passado na Espanha e em Portugal, são compatíveis com essa crescente anomalia. Da mesma forma que a onda de frio no norte do continente americano na virada do ano.

https://www.nature.com/articles/s41467-017-02699-3

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/01/180112091209.htm

SITE DA ANEEL EM OBRAS

No Climainfo de ontem, colocamos um link para a página da Aneel com os dados nacionais de geração. Descobrimos que o site da Aneel está sendo reformulado. Assim que voltar ao ar, passamos o link atualizado.

 

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