ClimaInfo, 28 de agosto de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

GOVERNO BRASILEIRO PROMOVE UM ‘MONÓLOGO TALANOA’

O governo Temer se esmera em demonstrar não ter entendido nada do Diálogo Talanoa proposto na Conferência do Clima do ano passado. No começo deste mês, organizou uma reunião a portas fechadas, quase que exclusiva para membros do governo. Ontem, o MMA soltou um convite a contribuições… por e-mail, em uma demonstração escancarada da disposição em não ouvir. Como dissemos no começo do mês, na tradição das ilhas do Pacífico, Talanoa é um processo “de diálogo inclusivo, participativo e transparente… O propósito é compartilhar histórias, construir empatia e tomar decisões sábias para o bem comum” (Plataforma do Diálogo Talanoa 2018).

http://www.mma.gov.br/informma/item/15058-mma-recebe-contribui%C3%A7%C3%B5es-para-di%C3%A1logo-sobre-clima.html

 

ABERTURA DO MERCADO DE GÁS NATURAL ENFRENTA PROBLEMAS LOGÍSTICOS

Doze empresas que distribuem gás natural no país se associaram para lançar editais de compra conjunta e ampliar o leque de fornecedores. Um grupo formado pelas distribuidoras do sul, de São Paulo e Minas Gerais quer comprar 12 milhões de m3 por dia. Outro grupo de distribuidoras do nordeste quer comprar 9 milhões de m3 por dia. As empresas estão convidando, além da Petrobras, operadoras dos campos terrestres da bacia do Parnaíba, dos campos de petróleo do pré e do pós-sal e operadores da Bolívia. Juntas, as distribuidoras representam 35% do mercado.

Até agora, o grande e quase único ator no mercado é a Petrobras. Devido à tremenda crise em que a empresa está enfiada, outros agentes estão aparecendo. Um artigo no DCI fala sobre como os gargalos logísticos limitam o tamanho do mercado.

No entanto, é importante ter em mente que investimentos em dutos e infraestrutura de transporte de gás, em geral, só fazem sentido no médio e longo prazos. Prazos esses que não combinam com metas ambiciosas de descarbonização da matriz energética até meados do século.

https://www.valor.com.br/empresas/5772787/produtoras-do-pre-sal-despontam-como-fornecedoras-de-gas

https://www.dci.com.br/industria/gargalo-logistico-pode-impedir-que-gas-do-pre-sal-chegue-ao-consumidor-1.735143

 

PRIMEIRO SISTEMA DE BATERIAS ENTRA EM OPERAÇÃO NO BRASIL

A AES-Tietê implantou um banco de baterias de lítio-íon associado à sua hidrelétrica de Bariri, no Rio Tietê. Ainda é um sistema-piloto com capacidade de pouco mais de 160 kW, mas é o primeiro banco de baterias conectado com o Sistema Nacional. Julian Nebrada, presidente da AES, disse que “o país tem um dos maiores sistemas de interligação nacional do mundo. É um país continental. Então, o uso de baterias pode colaborar com o fortalecimento do sistema interligado”. As baterias serão peças fundamentais no futuro para completar o funcionamento intermitente das eólicas e fotovoltaicas.

https://www.dci.com.br/dci-sp/usina-inicia-armazenamento-de-energia-1.735154

 

LINHÃO DAS USINAS DO MADEIRA PODE BARATEAR ELETRICIDADE NO MERCADO LIVRE

A partir de janeiro, as usinas Jirau e Santo Antônio poderão entregar toda a sua capacidade, depois de cinco anos de operação. O último problema com a linha de transmissão está para ser resolvido, o que permitirá que entregue até 7,3 GW na rede nacional. Com isso, o Operador Nacional do Sistema não precisará acionar tanto as térmicas fósseis e, talvez um dia, os consumidores possam ter uma redução na conta de energia. As duas usinas, por força de contratos, tiveram que comprar energia no mercado spot, seja por problemas internos, seja porque não havia como entregar a energia gerada. Assim, a partir de janeiro, haverá um grande comprador a menos no mercado spot, o que deve fazer o preço baixar. E isso também acaba permitindo reduzir o valor das tarifas.

https://www.valor.com.br/brasil/5772849/energia-deve-ficar-10-mais-barata-apos-linhao-do-madeira

 

O 1o MILHÃO DE CARROS ELÉTRICOS NA EUROPA, E MAIS NA CHINA

Na Europa, a venda de carros elétricos, híbridos e puros, neste primeiro semestre, saltou 40% e o mercado atingiu a venda acumulada de um  milhão. Até o final do ano, a expectativa é chegar a 1,35 milhão. Até agora a Noruega tinha a maior frota na Europa, mas deve ser ultrapassada pela Alemanha até o final do ano.

Por sua vez, a China disparou na frente de todo o mundo e analistas acham que ela vai mudar a cara da indústria automobilística. Por lá, no primeiro semestre, as vendas de carros híbridos aumentaram 50% e a de elétricos puros simplesmente dobrou, passando de 1 milhão. Por trás do movimento está o esforço do governo chinês para atacar o problema da poluição nas grandes cidades. O governo implantou padrões mais rigorosos de eficiência e emissão para carros fósseis e distribuiu subsídios para os elétricos que chegaram a US$ 1 bilhão no ano passado. Mas tanto a China como outros países têm datas certas para eliminar todos os subsídios e deixar o mercado se ajustar.

Existem dois grandes obstáculos. O mais óbvio é a rede de recarga de baterias, ainda incipiente. Mas o pior são os trilhões em subsídios dados aos fósseis, que distorcem o mercado mais que qualquer apoio dado aos carros elétricos.

https://www.theguardian.com/environment/2018/aug/26/electric-cars-exceed-1m-in-europe-as-sales-soar-by-more-than-40-per-cent

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-08-24/can-electric-cars-make-china-this-century-s-detroit-quicktake

 

MADRI APRENDEU A DESPERDIÇAR MENOS ÁGUA

A população na região de Madri cresceu 7% nos últimos dez anos, enquanto o consumo de água caiu 7%. O motivo principal foi a detecção e o conserto de vazamentos. Hoje, a cidade perde apenas 3,2% da água que trata, metade do que perdia em 2010. A região tem uma rede de abastecimento de água potável de quase 18 mil quilômetros de extensão para 6,5 milhões de pessoas. Para comparar, a região metropolitana de São Paulo tem mais de 29 milhões de habitantes, 4,4 vezes maior; uma rede de distribuição de água de 60 mil quilômetros, 3,3 vezes maior; e uma perda de água tratada que oscila entre 30% e 40%, 10 vezes maior.
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/08/15/internacional/1534357550_367961.html

 

ENERGIA SOLAR PARA A EXTRAÇÃO DE PETRÓLEO NA COLÔMBIA

Uma notícia um tanto inusitada: o segundo maior campo de petróleo da Colômbia será suprido da eletricidade gerada por um novo parque fotovoltaico que a proprietária, a Ecopetrol, construirá no ano que vem. O parque terá capacidade entre 10 MW e 15 MW. A petroleira colombiana tem investido em renováveis e já tem projetos para mais de 140 MW na fila.

http://epbr.com.br/ecopetrol-constroi-parque-solar-para-abastecer-campo-de-petroleo/

 

PETROLEIRAS PEDEM PROTEÇÃO CONTRA O CLIMA NO TEXAS

No ano passado, o furacão Harvey causou um prejuízo bilionário à indústria do petróleo. Agora, o governo do Texas está pedindo recursos federais para construir um muro de concreto ao longo do litoral do Golfo do México e seguindo até o estado vizinho da Louisiana. Enquanto várias localidades litorâneas estão levantando muros para proteger casas e edificações, esse megamuro seria construído para proteger as refinarias, dutos e tanques de armazenagem de fósseis. A matéria do noticiário da CBS diz que “não cai bem para muitos a ideia de que contribuintes do país todo paguem para proteger refinarias que valem bilhões, e num estado onde os principais políticos ainda duvidam da veracidade da mudança climática”.

https://www.cbsnews.com/news/texas-protect-oil-facilities-from-climate-change-coastal-spine/

 

AUMENTA INCIDÊNCIA DE DOENÇAS TROPICAIS NA EUROPA

A Europa registrou, até agosto, 400 casos do vírus do oeste do Nilo (West Nile virus) com 22 mortes. Esta é uma das mais graves das doenças transmitidas por mosquitos e carrapatos que estão se espalhando pela Europa na esteira das ondas de calor e do aquecimento da atmosfera em geral. A “invasão” dos vírus se dá pela leva de refugiados e, também, pelo grande aumento de viagens internacionais. Já os hospedeiros têm sua propagação favorecida pelas ondas de calor. No ano passado, houve uma ameaça de surto de chikungunya no sul da França e na Itália, e o Aedes Albopictus, um transmissor importante, é mais facilmente encontrado na Europa do que seu primo, o Aegypti. O Dr. Diarmid Campbell-Lendrum, que chefia a área de mudança climática na Organização Mundial da Saúde, comentou que “não podemos dizer que um dado surto é atribuível à mudança do clima. Mas podemos afirmar que a mudança do clima está facilitando a transmissão desses tipos de doenças”.

https://www.theguardian.com/global-development/2018/aug/23/tropical-disease-outbreaks-are-growing-threat-in-europe-as-temperatures-rise

 

MAIS CO2 NA ATMOSFERA, MENOS NUTRIENTES NOS ALIMENTOS

Ontem, a Nature Climate Change publicou um trabalho dando conta que o aumento da concentração de CO2 na atmosfera faz culturas importantes para a alimentação humana perder nutrientes como zinco, ferro e várias proteínas. A concentração média, hoje, está pouco acima de 400 ppm; os pesquisadores dizem que, se esta ultrapassar os 550 ppm, a perda de nutrientes pode chegar a até 17%. Esta concentração pode ocorrer até o final do século, caso as emissões continuem crescendo como agora. Nesta situação, mais 175 milhões de pessoas teriam déficit de zinco e mais 122 milhões de pessoas teriam déficit proteico. Para 1,4 bilhão de crianças e mulheres em idade fértil que moram em áreas com prevalência de anemia, haveria uma perda de 4% de ferro nutricional. Países situados no sul e sudeste da Ásia, na África e no Oriente Médio, serão obrigados a prover cuidados adicionais para que o quadro não piore ainda mais.

https://www.nature.com/articles/s41558-018-0253-3

https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/meio-ambiente/elevacao-das-concentracoes-de-carbono-na-atmosfera-ameaca-nutricao-humana-23014840

 

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