O carbono hoje estocado nas profundezas do oceano foi responsável por uma mudança do clima ocorrida há um milhão de anos

Há um milhão de anos, um longo ciclo de eras glaciais alternadas por períodos quentes mudou drasticamente. De repente, as eras glaciais se tornaram mais longas e mais intensas. Há muito, a ciência suspeita que esta mudança teve ligação com a desaceleração de um sistema-chave de correntes do Oceano Atlântico, a AMOC (Atlantic Meridional Overturning Circulation), que hoje, mais uma vez, está se desacelerando. Um novo estudo dos sedimentos do fundo do Atlântico publicado na Nature Geoscience liga diretamente aquela desaceleração com uma acumulação maciça de carbono arrastado da atmosfera para o abismo, resume a State of the Planet, da Columbia University. Com a AMOC funcionando em velocidade máxima, este carbono teria retornado à atmosfera rapidamente, mas com a desaceleração das correntes, se estagnou nas profundezas. A constatação sugere que a redução do carbono atmosférico resfriou o planeta, num processo oposto ao efeito estufa que agora observamos, por conta do carbono bombeado à atmosfera pelas atividades humanas. Antes que algum otimista desavisado pense que nossos problemas climáticos acabaram, os autores alertam que não dá para vislumbrar um eventual resfriamento global, mesmo se a AMOC continuar desacelerando.

 

ClimaInfo, 9 de abril de 2019.