#Climainfo, 28 de setembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

UM ERRO DE AVALIAÇÃO EDITORIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Um editorial do Estadão de ontem acusa o governo de ter cometido um “erro de avaliação” ao revogar o decreto que extinguia a Renca dando ouvidos a manifestações de artistas que “entendem tanto de meio ambiente quanto o governo entende de moda ou rock and roll”. O editorial afirma que a extinção da Renca é fundamental para o desenvolvimento do país. Se o editorialista tivesse lido a matéria da Folha saberia que o garimpo ilegal na região é pífio e não “amplamente praticado”. Se tivesse lido e parado para refletir sobre as muitas manifestações técnicas, talvez entendesse que esse governo não demonstrou ter qualquer interesse na preservação do meio ambiente e na proteção às comunidades tradicionais, e que foi por essa vocação destruidora que a extinção da Renca foi entendida, sim, como uma ameaça ao futuro da sociedade brasileira. Se trata antes de estabelecer uma governança por meio da qual tragédias como a de Mariana não sejam vistas como fatalidades, mas, pelo contrário, que as leis sejam cumpridas a ponto de evitá-las. A partir daí, a discussão sobre a mineração na Amazônia pode ser colocada para a sociedade examinar e decidir. Jamais se publicando um decreto antes disso.

A acrescentar, a nota do Maurício Tuffani no Direto da Ciência sobre o interesse de mineradoras na área e um governo que quer fazer caixa de qualquer maneira. Ou, como lembrando o que disse Eduardo Gianetti sobre a privatização da Eletrobras, mas que cabe perfeitamente no caso da Renca: “Não se vende a prata para a família jantar fora”.

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,erro-de-avaliacao,70002017525

http://www.diretodaciencia.com/2017/09/27/por-que-o-estadao-e-contra-a-renca/

CONFUSÃO E PERPLEXIDADE NO LEILÃO DAS ÁREAS PARA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO

Ontem foi realizada a 14a Rodada de Licitações de blocos para exploração e produção de petróleo e gás natural. As ONGs 350.org e Não Fracking Brasilse juntaram a representantes de comunidades indígenas para se manifestarem contra a realização do leilão. Os manifestantes gritavam a palavra de ordem “petróleo, gás, carvão, é para ficar no chão”. O protesto acabou em pancadaria com os seguranças do local do evento. A PM foi chamada e só então o leilão começou.

No final, foram arrematados 37 dos 287 blocos pelo surpreendentemente alto valor de R$ 3,84 bilhões, quase tudo vindo dos blocos na Bacia de Campos. Estes somaram R$ 3,66 bilhões, enquanto os demais 277 blocos somente R$ 187 milhões. Exceto por um bloco que não recebeu ofertas, sete foram arrematados por um consórcio entre a Petrobrás e a ExxonMobile e dois pela Exxon sozinha. Dois dos blocos do consórcio foram realmente especiais; foram os únicos de todo o leilão a receberem mais de duas ofertas; o consórcio ofertou R$ 2,24 bilhões por um e R$ 1,20 bilhões pelo outro. Uma enorme pulga, destas que se alojam atrás da orelha, emergiu porque as ofertas concorrentes foram bem mais baixas: menos de R$ 450 milhões pelo primeiro bloco e menos de R$ 67 milhões pelo segundo. É uma diferença que chama muito a atenção. Como chama a atenção o fato dos blocos arrematados em Campos ficarem grudados no chamado Polígono do Pré-Sal, área que, segundo o Sumário Geológico, “se destaca pelo potencial promissor relacionado às estruturas da seção Pré-Sal”. O diretor-geral da ANP, Décio Oddone, reconheceu que os lances feitos no último setor da Bacia de Campos, que causaram a virada no resultado, foram “acima do esperado” pela autarquia. Antes do leilão, o ministério esperava arrecadar R$ 1 bilhão e a ANP ficaria feliz com R$ 500 milhões.

Alguém pode colocar uma lupa no que aconteceu?

No mês que vem a ANP fará duas rodadas de licitação de áreas do pré-sal e espera arrecadar quase R$ 8 bilhões.

http://www.brasil-rounds.gov.br/Round_14/portugues_R14/setores.asp

http://www.valor.com.br/empresas/5135400/leilao-de-blocos-exploratorios-da-anp-arrecada-r-384-bilhoes

http://www.valor.com.br/brasil/5135140/anp-14-rodada-de-licitacoes-e-aperitivo-para-leiloes-do-pre-sal

https://g1.globo.com/economia/noticia/pm-e-chamada-apos-confusao-em-protesto-durante-14-rodada-de-licitacoes-da-anp.ghtml

http://jovempan.uol.com.br/noticias/brasil/segurancas-de-hotel-trocam-socos-com-ambientalistas-durante-leilao-do-petroleo-no-rio.html

GOVERNO CONSEGUE R$ 12 BILHÕES LEILOANDO USINAS DA CEMIG

Ontem, um dia de leilões, foram leiloadas quatro hidrelétricas que a Cemig teve que devolver à União. O mínimo fixado pelo governo era de R$ 11 bilhões. A Goldman Sachs estimava que o valor ficaria entre R$ 14,5 e R$ 18 bilhões. No final, o governo arrecadou R$ 12,1 bilhões: R$ 7,2 bi da chinesa SPIC pela usina de São Simão, R$ 3,5 bi da francesa Engie por Jaguara e Miranda e R$ 1,4 bi da italiana Enel.

Em 2012, a presidente Dilma precisava de resultados para ter chance de um segundo mandato e decidiu forçar as donas de hidrelétricas mais antigas, cuja concessão venceria nos anos seguintes, a baixar o preço da energia. Se não baixassem, perderiam a chance de renovar a concessão. Foi um salseiro tremendo cuja conta o consumidor vai continuar a pagar por um bom tempo. Nessa leva, a Cemig decidiu trucar e acabou perdendo a concessão dessas quatro usinas. Curiosamente ninguém está falando que esses R$ 12,1 bilhões deveriam voltar aos bolsos dos consumidores. Nem de que, pelo contrário, eles ajudarão o governo a colocar mais um pedaço de fita durex no rombo fiscal deste ano.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1922154-governo-leiloa-usina-hidreletrica-de-sao-simao-por-r-72-bilhoes.shtml

COM A DENÚNCIA NA PAUTA DO CONGRESSO, TEMER ABRE O CORAÇÃO PARA OS RURALISTAS

Anteontem, a denúncia da PGR contra o presidente foi finalmente lida na Câmara, cumprindo o primeiro passo no processo de exame que os deputados terão que fazer. O primeiro acordo fechado com a numerosa bancada ruralista vai prorrogar o prazo de adesão ao plano de regularização das dívidas deles para com o Funrural. Os ruralistas querem nada menos que uma anistia de R$ 17 bilhões, coisa que a Fazenda não aceita. Com essa prorrogação, Temer acredita que consegue se safar da 2a denúncia contra ele para depois voltar a negociar anistias e outras benesses, sem a faca no pescoço.

http://politica.estadao.com.br/blogs/coluna-do-estadao/para-atender-ruralistas-governo-deve-ampliar-prazo-de-adesao-ao-refis-do-setor/

NESTA 6a FEIRA EMPRESAS HIDRELÉTRICAS PEDIRÃO DESCULPAS A ÍNDIOS

Na aldeia Missão Cururu haverá uma audiência pública para a qual foram convidadas as principais lideranças Munduruku, Kayabi e Apiakás, moradores da região dos rios Teles Pires e alto Tapajós. As empresas controladoras das hidrelétricas Teles Pires e São Manoel pedirão desculpas formais aos índios pelos danos causados pelas obras e pelas usinas. Isso faz parte do acordo feito na presença do Ministério Público quando da ocupação do canteiro de obras de São Manoel em julho.

http://www.mpf.mp.br/pa/sala-de-imprensa/noticias-pa/empresas-responsaveis-por-usinas-no-rio-teles-pires-devem-pedir-desculpas-por-danos-a-povos-indigenas

UM LONGO E BELO PASSEIO DE BICICLETA PELA TRANSAMAZÔNICA

Oswaldo Stella, Paulo Moutinho e Chris Cassidy, os dois primeiros do IPAMe, o último, chefe dos astronautas da NASA, percorreram de bicicleta mais de mil quilômetros de Itaituba no Pará até Humaitá no estado do Amazonas em 16 dias. A aventura foi batizada de Transamazônica+25, comemorando os 25 anos desde que Stella fez o percurso pela primeira vez. Os três passaram por áreas desmatadas e constataram a fragilidade do ecossistema quando desequilibrado por garimpos ilegais e pastos extensivos. Por outro lado, nas áreas florestadas, passaram por um clima mais ameno com água mais pura. As imagens que registraram e as histórias estão nos links:

http://transamazonica25.org/pb

http://ipam.org.br/mil-quilometros-sobre-duas-rodas-para-entender-transamazonica/

DUKE ENERGY LANÇA CENTRAL DE BATERIAS DE 9 MW NOS EUA

A elétrica americana Duke Energy está investindo US$ 30 milhões em duas centrais de baterias para serem usadas na estabilização da rede elétrica e não necessariamente para complementar as fontes intermitentes. As centrais ficam nas montanhas Apalaches, no estado da Carolina do Norte, onde existem centros de consumo espalhados nos topos das montanhas. Ao invés de aumentar a capacidade da rede toda a cada nova carga, a ideia é usar as centrais de baterias para aliviar os picos localizados de demanda e aproveitar os momentos de baixa para recarregar o sistema.

https://www.greentechmedia.com/articles/read/duke-energy-invests-30-million-in-battery-storage

SETE MODOS PELOS QUAIS A NOVA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL PODE AJUDAR O PLANETA

Um artigo de Celine Herweijer publicado no Fórum Econômico Mundial, conta que a 4a revolução industrial pode abrir caminhos para um mundo melhor, mais limpo e mais seguro. A 4a revolução industrial nasce com o aumento do poder de processamento de informações aliado à conectividade e à inteligência artificial. Integra as tecnologias emergentes em robótica, impressoras 3D, nanotecnologia, biotecnologia, computação quântica, armazenamento de energia e a internet das coisas. Ela é tida como disruptiva em velocidade, escopo e sistemicidade.

O primeiro ponto é a inteligência artificial que pode levar a uma produção mais eficiente, menos intensiva em energia e água e menos geradora de resíduos. O segundo é a expansão da automação para sistemas de produção, de novo mais eficientes e menos intensivos em recursos naturais. O terceiro é a difusão do rastreamento e monitoramento, tornando processos mais transparentes, principalmente no que tange os usos dos recursos naturais e sociais. O quarto é a revolução do compartilhamento para a otimização do uso de recursos. O quinto é a descentralização de sistemas, serviços e recursos. O sexto e sétimo pontos falam de um mundo mais colaborativo e mais rico em experiências.

https://medium.com/world-economic-forum/7-ways-the-fourth-industrial-revolution-can-help-the-planet-fb419e31e728

ESTRADA VOLTA A AMEAÇAR ÁREAS PROTEGIDAS DA AMAZÔNIA BOLIVIANA

O governo boliviano revogou o status de intocável a um parque de 1,2 milhões de hectares na Amazônia boliviana que abriga 14 mil pessoas das tribos Mojeño-Trinitario, Yuracaré e Tsimané. O Tipnis (Territorio Indígena y Parque Nacional Isiboro-Secure) é considerado uma das zonas mais importantes de biodiversidade do mundo.Seis anos atrás, quando começaram as pressões para a construção de uma estrada de mais de 300 km atravessando a área, as comunidades indígenas se mobilizaram e, enfrentando as tropas do governo Morales, conseguiram garantir o status intocável para a área. Agora, o governo voltou atrás. Segundo um dos moradores, “não é pela estrada em si. É pelo que vem junto. Produtores de coca virão e obterão mais terras dentro do Parque. Depois disso, eles tiram a madeira, plantam folhas de coca e assim por diante. E a estrada vai passar pela área mais rica”. O governo garante que fez uma ampla consulta aos moradores e que a maioria quer a estrada. A Federação Internacional de Direitos Humanos, a Assembleia Boliviana Permanente de Direitos Humanos e a Igreja Católica afirmam que a consulta “não foi livre, nem espontânea e não respeitou o princípio da boa fé”. Alguns moradores dizem que concordariam com a estrada se ela ligasse e trouxesse benefícios para as comunidades, mas o projeto não prevê nada disso. Eles acham que a estrada será feita para beneficiar os “cocaleros” que colonizaram a extremidade sul do parque e que querem se conectar com a parte norte. O presidente Morales vem dessa comunidade e foi, ele mesmo, um “cocalero”. Pablo Solon, que era embaixador na ONU e se demitiu há seis anos por discordar da construção da estrada, disse recentemente que “do meu ponto de vista, a situação do Tipnis é maior do que a estrada. É o tipo de modelo de desenvolvimento que o governo quer implantar. É como quando você bate na mesa e diz: Olha, nós vamos construí-la – sim ou sim”.

https://www.theguardian.com/environment/2017/sep/11/they-lied-bolivia-untouchable-amazon-lands-tipnis-at-risk-once-more