ClimaInfo, 16 de outubro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

MAIOR LAGOA PERTO DO SÃO FRANCISCO SECOU

A Lagoa Itaparica, a maior lagoa marginal do rio São Francisco, secou. Quando cheia, cobria 2.200 hectares. É a quarta vez em 40 anos que a lagoa seca, deixando os restos de três milhões de peixes. A lagoa era um dos principais berçários de surubins, curimatãs e dourados. “Os peixes desovam, os filhotes ficam lá crescendo e um ano depois seguem para o rio. Com a lagoa seca, esse ciclo é interrompido. Desta forma, o impacto não ficará restrito às duas mil famílias de ribeirinhos que vivem em torno da lagoa. Todo o trecho do rio desde (a fronteira com) Minas Gerais até a barragem de Sobradinho, próximo a Juazeiro, na Bahia, será afetado”, diz Vanderlei Pinheiro, engenheiro de pesca e analista ambiental do Ibama. Além da seca de seis anos no São Francisco, a situação da lagoa é agravada pelo assoreamento, já que houve tempos em que ela chegava a ter seis metros de profundidade.

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1924835-bercario-do-rio-sao-francisco-seca-e-deixa-tres-milhoes-de-peixes-mortos.shtml

 

NÃO É POSSÍVEL SABER SE PLANO DA AGRICULTURA DE BAIXO CARBONO FUNCIONA

As emissões da agropecuária somaram cerca de 25% dos gases de efeito estufa emitidos pelo país em 2015. Desde 2009, existe um plano para reduzir estas emissões, o Plano ABC, ou na versão por extenso do pomposo nome: Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura. Basicamente ele oferece uma linha de crédito para quem adotar práticas agropecuárias de baixa emissão. Desde o princípio, o Plano ABC vive uma série de problemas. Durante um bom tempo, era mais barato tomar recursos no tradicional Plano Safra do que no ABC. O volume de recursos disponibilizados no ABC nunca passou de 3% do oferecido no Safra. Sem falar na falta de informações tanto para o agricultor como para que o pessoal de ponta das agências bancárias pudesse “vender” o Plano. Na semana passada, Marina Piatto e Ciniro Costa Jr, do Imaflora, escreveram um artigo apontando um problema ainda sem solução: não há como medir se as emissões de quem toma recursos do Plano ABC realmente caem. Apesar dos muitos alertas, ninguém se deu ao trabalho de pensar em como verificar se o programa funciona.

http://epoca.globo.com/ciencia-e-meio-ambiente/blog-do-planeta/noticia/2017/10/o-brasil-tem-um-plano-para-emissoes-na-agricultura-mas-ninguem-sabe-se-funciona.html

 

FORÇA NACIONAL OCUPA OBRAS DE HIDRELÉTRICA PARA IMPEDIR NOVO PROTESTO INDÍGENA

A Força Nacional foi chamada pela justiça do Mato Grosso para impedir que indígenas voltem a ocupar o canteiro de obras da Hidrelétrica São Manoel, como fizeram em julho passado. Isso apesar da empresa não ter cumprido uma série de pontos acordados, como a oferta de oficinas para jovens e um pedido formal de desculpas por ter destruído locais sagrados. As desculpas foram combinadas com o general presidente da Funai, mas a empresa não compareceu ao evento programado para tal. Aliás, nem representante da Funai.

http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,forca-nacional-faz-operacao-para-impedir-protesto-de-indigenas-em-hidreletrica-na-amazonia,70002044892

https://medium.com/fórum-teles-pires/a-gente-vai-sofrer-quando-a-barragem-fechar-41c611ee0edb

 

RURALISTAS PEDEM A EXONERAÇÃO DA PRESIDENTE DO IBAMA PORQUE ELA ATRAPALHA

A poderosa bancada ruralista foi a Temer pedir a cabeça de Suely Araújo, presidente do Ibama. Eles não querem que ela continue atrapalhando seus negócios, não dando licenças e exigindo “pormenores” na documentação. Com a cabeça de Temer nas mãos desse congresso, não vai ser surpresa se a mudança de comando ocorrer.

https://www.poder360.com.br/governo/ruralistas-pedem-para-temer-demitir-presidente-do-ibama-que-tem-dificultado/

 

A CIÊNCIA NÃO INFLUENCIA AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL

Uma pesquisa da London School of Economics revelou que os cientistas e a ciência pesam quase nada na formulação de políticas públicas no Brasil. Embora a comunidade científica brasileira publique bem e sobre temas relevantes para o país, “o uso dos argumentos científicos é muito superficial na política brasileira”, segundo a autora da pesquisa, Flávia Donadelli, cientista política. Ela estudou se e como as ciências biológicas e exatas influenciaram a elaboração do Código Florestal, da lei de acesso a recursos genéticos e a regulação de importação de pesticidas e agrotóxicos. Apesar da produção científica ser relevante nesses temas, ela diz que “pela análise dos debates no Congresso, avaliação de 343 documentos e de acordo com as 58 entrevistas, não achei praticamente nenhuma referência a argumentos científicos no processo de formulação e definição de políticas. (…) Minha análise mostrou que quem pesa é a força do agronegócio”. Isso, claro, se reflete na qualidade da nossa legislação.

http://m.folha.uol.com.br/ambiente/2017/10/1926646-politicos-brasileiros-ignoram-cientistas-e-pesquisas-diz-estudo.shtml#

 

MEDINDO AS EMISSÕES  DE CO2 POR SATÉLITE

Cientistas da NASA estão usando o satélite OCO-2 para medir as emissões de CO2 de usinas térmicas a carvão. O OCO-2 foi construído para medir as emissões de CO2 da vegetação natural e da agricultura, mostrando como sua concentração varia conforme as estações do ano e o tipo de lavoura. Pela primeira vez, uma equipe olhou para os pontos específicos onde existem térmicas a carvão e os resultados das medições ficaram numa margem de quase 20% do medido diretamente nas chaminés. A equipe está refinando os modelos que levam em conta temperatura e ventos que influenciam a concentração de CO2 na proximidade das chaminés. Paulo Artaxo, professor de Física da USP, acredita que será possível “medir” a emissão de CO2 do Brasil ou dos Estados Unidos, por exemplo, e acompanhar a implantação do Acordo de Paris de cada país em tempo real. (…) Vai ser possível monitorar a emissão de CO2 de queimadas na Amazônia em tempo real, e checar a efetividade (ou não) das políticas de redução de emissões”.

Vale dar uma olhada nos vídeos produzidos pela NASA a partir dos dados do satélite no primeiro link abaixo.

https://oco.jpl.nasa.gov/

https://eos.org/articles/satellite-quantifies-carbon-dioxide-from-coal-fired-power-plants

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/2017GL074702/full

 

INCÊNDIO NA CALIFÓRNIA DURA UMA SEMANA E JÁ MATOU 40 PESSOAS

Os ventos fortes da última semana ajudaram a propagar o que já é considerado um dos piores incêndios já sofridos pela Califórnia. Até ontem à noite, a contagem de mortos tinha batido em 40 e milhares de pessoas tiveram que abandonar suas casas. Dez mil bombeiros e voluntários estão espalhados numa área de 865 km2, combatendo os dezesseis grandes incêndios numa frente de 160 km. Suspeita-se que o incêndio começou com a queda de um fio de alta tensão no norte do estado.

https://br.reuters.com/article/worldNews/idBRKBN1CK0HU-OBRWD

https://www.apnews.com/962f708143144d2eb356df659277435b/Wildfires-now-up-to-100-miles-wide-as-death-toll-reaches-40

 

AVIAÇÃO QUER BIOCOMBUSTÍVEIS PARA REDUZIR EMISSÕES E AMEAÇA DESMATAR PARA PRODUZIR ÓLEO DE PALMA

Na semana passada, a ICAO (sigla inglesa da Organização da Aviação Civil Internacional) realizou seu congresso anual e anunciou que vai buscar aumentar o uso de biocombustíveis para reduzir suas emissões e compensar o restante comprando créditos de carbono ou algo equivalente. Colocou números na mesa: até 2050 os aviões estarão queimando 285 milhões de toneladas de biocombustíveis e outro tanto de fósseis. Houve uma reação forte de entidades ambientais porque, até agora, o melhor candidato para a aviação é o óleo de palma que já desmatou muito na Indonésia e Malásia, e uma demanda desse tamanho multiplicaria a área desmatada. A Biofuelwatch publicou um estudo e entregou uma carta à ICAO se posicionando fortemente contra esse cenário. Diz que a única medida aceitável é a redução drástica dos voos.

Na reunião não se falou muito no etanol como alternativa. A produção atual dos EUA e do Brasil é de, aproximadamente, 70 milhões de toneladas, um quarto do que seria necessário em 2050. Não parece uma meta muito assustadora e muito provavelmente não criaria pressão sobre florestas nativas.

https://www.icao.int/Meetings/CAAF2/Documents/CAAF.2.WP.013.4.en.pdf

http://www.biofuelwatch.org.uk/wp-content/uploads/Aviation-biofuels-report-ES.pdf

http://www.biofuelwatch.org.uk/wp-content/uploads/Aviation-biofuels-sign-on-letter.pdf

https://www.theguardian.com/environment/2017/oct/12/new-airplane-biofuels-plan-would-destroy-rainforests-warn-campaigners

 

MORTICÍNIO DE PINGUINS NA ANTÁRTICA

A colônia de 18 mil pinguins da Ilha Petrel sofreu um desastre pela segunda vez em mais de cinquenta anos. Só sobreviveram dois filhotes dos quase 40 mil ovos e crias do começo do ano. Em 2013, como agora, a camada de gelo se estendeu por mais de 100 km forçando os pinguins a realizarem maratonas para buscar alimentos para as crias. Sem os pais por perto, elas foram morrendo de fome e frio. O derretimento de gelo durante o verão na Antártica está aumentando, mas, especificamente na Ilha Petrel, a camada de gelo aumentou. Cientistas estão estudando a conexão entre as rupturas de plataformas de gelo que geram gigantescos icebergs com mudanças nos regimes de gelo e degelo ao redor do continente.

Fora isso, há uma preocupação com a sobrepesca, especialmente do krill, base da cadeia alimentar nos polos. Menos krill implica menos peixes de todos os tamanhos, o que implica menos alimento para pinguins.

https://www.theguardian.com/commentisfree/2017/oct/13/penguins-starving-death-something-very-wrong-antarctic

https://www.theguardian.com/environment/2017/oct/12/penguin-catastrophe-leads-to-demands-for-protection-in-east-antarctica

 

APARECEU UM ENORME BURACO NA ANTÁRTICA

Em setembro, cientistas que analisavam imagens de satélite encontraram um buraco do tamanho da Paraíba na plataforma de gelo Filchner-Ronne, no Mar de Weddell. A novidade não é tanto o aparecimento de buracos, mas o tamanho deste, que chegou a mais de 60 mil km2. É novidade, também, o aparecimento de um buraco grande assim no final inverno, quando o volume da camada de gelo atinge seu pico. Fazia 40 anos que um buraco desses não aparecia por lá. Fica a pergunta, claro, se o aquecimento global tem alguma relação com o fato, mas por enquanto não existem informações a respeito.

https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/cientistas-descobrem-buraco-maior-que-a-paraiba-no-gelo-da-antartida.ghtml

 

MAIS UM FURACÃO NO ATLÂNTICO, E 2017 PODE BATER RECORDE

A última vez na qual se registrou dez tempestades consecutivas virando furacões numa mesma estação foi em 1893. Na 4a feira passada, a décima deste ano, Ofélia passou de tempestade para furacão categoria 1 e bateu na Irlanda na noite de ontem. A estação vai até o mês que vem, de modo que ainda há tempo para mais um recorde, posto que, desde que começaram os registros em 1851, nunca foram registrados onze furacões numa única temporada.

https://www.nytimes.com/2017/10/11/climate/hurricane-ophelia.htm