O que esperar do Brasil na COP23

Tradicionalmente o Brasil tem um corpo diplomático bastante respeitado por seus pares, beneficia-se do fato de ter uma matriz energética mais limpa que a dos demais países, que é muito mais baseada em carbono que a nossa e, com isso, aproveita as conferências climáticas para tentar passar uma imagem que os ambientalistas afirmam não corresponder à realidade.

 

Mas este ano será diferente. Apesar do recente anúncio de queda no desmatamento, o Brasil chega à COP sob fortes denúncias de retrocessos no campo ambiental. A tentativa de abrir a reserva mineral da Renca à exploração repercutiu internacionalmente. Antes disso, o gigantesco corte na Floresta Nacional do Jamanxim, o vergonhoso corte de 50% na verba que a Noruega destina ao Fundo Amazônia e os dados oficiais que mostraram alta no desmatamento em dois anos subsequentes, 2015 e 2016, também repercutiram a nível internacional.

 

O anúncio do SEEG de que as emissões nacionais de gases do efeito estufa alcançaram seu patamar mais alto desde 2008 (antes da CoP15, de Copenhague), subindo pelo segundo ano consecutivo – e em tempos de recessão econômica – também acendem a luz amarela sobre a possibilidade do país cumprir com as metas apresentadas sob o Acordo de Paris.

 

Esse annus horribilis vem acompanhado de uma série crise econômica que certamente impedirá o país de se comprometer com dotações a qualquer instrumento financeiro, o que pode levar nossos negociadores a se alinharem aos países menos desenvolvidos no pedido de verbas às nações desenvolvidas. Mas isso não será diferente de outros anos: em outras COPs, os negociadores brasileiros já tentaram dizer que o país merece financiamento internacional tanto quando Bangladesh, Honduras ou Somália.