Indústria fóssil entra na onda negacionista contra investimentos ESG

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Vitaminada com lucros recordes no último ano, a indústria de combustíveis fósseis está mirando os investimentos ESG em sua guerra de narrativas para defender a continuidade de seus negócios poluentes e atrasar a transição energética.

Nos últimos meses, o mercado financeiro ESG vem sendo sacudido por disputas políticas, principalmente nos Estados Unidos, impulsionadas por ações de governos estaduais controlados pelo Partido Republicano que contestam os critérios de sustentabilidade social, ambiental e de governança.

O argumento deles é que o investimento ESG cria distorções na análise dos ativos, prejudicando empresas associadas à produção de petróleo, gás natural e carvão. Pois o mesmíssimo argumento foi utilizado no último domingo (12/2) pelo CEO da Saudi Aramco, Amin Nasser, para acusar os investimentos ESG como uma ameaça à segurança energética global.

“Se as políticas baseadas em ESG forem implementadas com um viés automático contra todo e qualquer projeto de energia convencional [leia-se fóssil], o subinvestimento resultante terá sérias implicações para a economia mundial, a acessibilidade energética e a segurança energética”, disse Nasser durante um evento na capital da Arábia Saudita, Riad.

Como assinalou a Bloomberg, esse raciocínio ecoa uma observação feita pelo secretário-geral da OPEP, Haitham al-Ghais, que afirmou que o setor fóssil sofreu com “anos de subinvestimento crônico” que prejudicaram a produção de combustível. Ele também defendeu que o setor precisará de US$ 500 bilhões em investimentos anuais até 2045 – um total contrassenso em relação ao que é defendido por cientistas e pelas principais agências internacionais do setor energético.

Sobre a COP28, que acontecerá em novembro nos Emirados Árabes Unidos, al-Ghais defendeu que os negociadores “olhem para o quadro geral” e que trabalhem em torno de uma “transição energética que seja ordenada, inclusiva e ajude a garantir a segurança energética de todos”.

Esse recado também foi notado em falas recentes do futuro presidente da COP, Sultan Ahmed al-Jaber, que comanda uma estatal petroleira do país árabe. Aliás, os interesses da indústria petroleira nunca tiveram um espaço tão proeminente dentro das negociações climáticas da ONU, o que segue levantando preocupações com o futuro das conversas e do Acordo de Paris.

Em tempo: O boom das energias renováveis está impulsionando a mineração e pode intensificar problemas estruturais desse setor, especialmente em termos ambientais e de Direitos Humanos. O alerta é de Adam Matthews, diretor de investimento responsável do Conselho de Pensões da Igreja Anglicana. À Bloomberg, ele assinalou que os investidores precisam redobrar a atenção sobre os riscos socioambientais atrelados aos seus portfólios mesmo em ativos tidos como sustentáveis dentro dos princípios ESG.

ClimaInfo, 14 de fevereiro de 2023.

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