Presidente da COP28 defende indústria fóssil como “parte da solução” da crise climática

COP28 presidente fóssil
Christopher Pike/Bloomberg

O tom do Sultan Ahmed al-Jaber em seu 1º discurso após sua indicação para a presidência da próxima Conferência da ONU sobre o Clima (COP28) certamente não ajudará a diminuir a irritação de ativistas climáticos. Em um fórum de energia na Índia, o futuro chefe da COP defendeu nesta 3ª feira (7/2) que os combustíveis fósseis continuarão sendo utilizados mesmo depois da transição energética para fontes renováveis. 

“O mundo ainda precisa de hidrocarbonetos e precisará deles para passar do atual sistema de energia para o novo. Não podemos desconectar o sistema de energia atual antes de construirmos o novo”, disse al-Jaber, que também é CEO de uma das petroleiras estatais dos Emirados Árabes Unidos. Sobre esse “papel duplo”, al-Jaber disse não ver conflito de interesses e defendeu que é “do interesse comum ter a indústria de energia trabalhando ao lado de todos nas soluções de que o mundo precisa”. France24, Bloomberg, Reuters e Um Só Planeta repercutiram a fala.

Na semana passada, a imprensa reportou que outras 12 pessoas que trabalham em petroleiras estatais dos Emirados Árabes também foram designadas pelo governo do país para atuar na organização da COP28. A presença maciça de executivos petroleiros no comando das negociações climáticas levantou preocupação entre ativistas e negociadores sobre o risco da indústria fóssil dificultar o entendimento entre os países e atrasar os esforços globais para reduzir o quanto antes as emissões de gases de efeito estufa.

Ainda sobre o evento na Índia, a Reuters também destacou a cobrança feita por representantes de países pobres pela “hipocrisia” dos países ricos, que defendem a transição energética no mundo em desenvolvimento, mas seguem dependentes dos combustíveis fósseis em suas economias domésticas.

O ministro de energia da Tanzânia, January Makamba, criticou especificamente o governo do Japão por ter rejeitado uma proposta de financiamento para uma usina de gás natural no país. “O Japão é um dos maiores importadores de GNL [gás natural liquefeito]. Então, se o gás é bom para você administrar sua economia, mas é ruim para que a gente aqui possa gerar energia, há algum problema”, disse.

ClimaInfo, 8 de fevereiro de 2023.

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