ClimaInfo, 11 de dezembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

GREENPEACE: UNIÃO EUROPEIA E MERCOSUL NEGOCIAM ACORDO COMERCIAL CONTRÁRIO AO ACORDO DE PARIS

O Greenpeace holandês vazou documentos secretos de negociações entre países do Mercosul e a União Europeia sobre o comércio carne bovina e soja, principalmente. Observadores esperam que a cota de importação de carne pela Europa aumente mais 130 mil toneladas, quase dobrando a cota do começo do ano. O Greenpeace enxerga a soja e a carne como vetores do desmatamento da Amazônia e do Chaco e, assim, esses acordos comerciais vão em sentido contrário ao dos compromissos assumidos junto ao Acordo de Paris.

https://www.greenpeace.org/eu-unit/en/News/2017/Greenpeace-Netherlands-leaks-EU-Mercosur-trade-papers/

 

NORUEGA CORTA RECURSOS DO FUNDO AMAZÔNIA

A Noruega cumpriu o que prometeu em junho e cortou 60% dos recursos que aportaria ao Fundo Amazônia esse ano. “Quando o desmatamento sobe, os pagamentos baixam”, disse o ministro do Meio Ambiente, Vidar Helgesen, em comunicado. Helgesen também indicou que os pagamentos agora estão com viés de alta, para usar uma expressão do mercado financeiro, porque o desmatamento parou de aumentar tanto. Assim, o futuro presidente-eleito do país possivelmente verá entrar um pouco mais de recursos para fazer a área desmatada aumentar ainda menos. Olhando pelo lado dos doadores, faz todo sentido punir quem não cumpre o prometido. Na prática, o país terá que gastar mais recursos próprios para conter o desmatamento. Aliás, não vale, no ano que vem, dizer que o desmatamento não caiu mais porque a Noruega cortou recursos.

https://exame.abril.com.br/brasil/noruega-reduz-pagamentos-ao-brasil-por-desmatamento-na-amazonia/

https://br.sputniknews.com/europa/2017120810034857-noruega-diminui-pagamentos-brasil/

 

MP DO TRILHÃO: APARECEM MAIS 54 BILHÕES DE PERDÃO

O Unafisco (Associação Nacional dos Auditores da Receita Federal) analisou documentos referentes a tributos cobrados da indústria do petróleo, nacional e estrangeira, entre 2007 e 2014 e descobriu que a Medida Provisória 795, a MP do trilhão, perdoa dívidas destas para com a Receita que somam mais de R$ 54 bilhões.

No final de novembro, a Receita Federal publicou uma nota oficial dizendo que a renúncia fiscal seria menor do que o tal do trilhão calculado por consultores legislativos do congresso e apontando erros de dupla contagem de custos nas contas que levaram à cifra de R$ 1 trilhão. Mas a Receita Federal não disse quanto dinheiro, no seu entender, o contribuinte brasileiro vai dar para os acionistas da Exxon, Shell, BP e Petrobras.

Argumenta-se que o país precisa dar segurança jurídica e atrativos financeiros para atrair investimentos externos. Legislar por Medida Provisória não parece ser o caminho mais transparente e seguro para a tal segurança jurídica. Assim como esconder o tamanho da conta e chamar isso de atrativo financeiro é chamar o contribuinte, direto e indireto, de trouxa.

https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2017/12/08/camara-perdoa-r-54-bilhoes-de-petroleiras-diz-lider-de-fiscais-da-receita.htm

http://idg.receita.fazenda.gov.br/noticias/ascom/2017/novembro/nota-sobre-o-equivoco-contido-na-informacao-de-que-a-mp-795-provocara-perdas-a-uniao-da-ordem-de-r-1-trilhao

 

O QUE O BRASILEIRO PENSA DE PETRÓLEO, PETROLÍFERAS E COMBUSTÍVEIS

60% dos brasileiros acham que o Brasil tem condições de substituir os combustíveis fósseis, mas apenas 37% acreditam que o país fará este movimento. O impacto dos derivados do petróleo é entendido como negativo sobre a qualidade do ar (85% dos entrevistados), na mudança climática (82%) e na qualidade da água (77%).

90% dos entrevistados disseram ser a favor de manter o máximo possível das atuais reservas de petróleo no solo para não contribuir com a mudança do clima. E 80% dos entrevistados se mostraram favoráveis ao fim dos incentivos, subsídios e isenções fiscais às companhias de petróleo. Mas quando a pergunta é sobre o impacto na economia brasileira, a divisão é mais equilibrada: 55% avaliam os combustíveis fósseis como negativos e 38% como positivos.

A mesma dissonância acontece em relação às empresas petrolíferas. A maioria as classifica como gananciosas (88%), politicamente poderosas (87,3%) e sem ética (72%), mas reconhece que estas empresas são vitais para a nossa economia (69%) e uma grande fonte de empregos no país (73%).

A pesquisa foi feita pelo Ideia Big Data, por encomenda dos institutos Clima e Sociedade e Escolhas.

https://exame.abril.com.br/economia/o-que-o-brasileiro-pensa-de-petroleo-petroliferas-e-combustiveis/

 

PARA IMPRENSA RURALISTA CÓDIGO FLORESTAL É MAIOR QUE A LEI DA MATA ATLÂNTICA

A imprensa ruralista abriu fogo novamente contra o ministro Sarney Filho dizendo que ele reverteu uma instrução de sua antecessora, Izabella Teixeira, e “determinou ao Ibama que ignore os Artigos 61-A e 61-B do novo Código Florestal”. Os vários caputs e parágrafos desses artigos permitem que benfeitorias existentes antes de 2008 possam permanecer, mesmo que situadas em Áreas de Proteção Permanentes. Isso contraria a Lei da Mata Atlântica (lei 11.428/2006). Izabella instruiu que valeria o Código. Sarney Filho quer que valha a Lei da Mata Atlântica.

Procuramos e não encontramos o Despacho 64.773/2017 do MMA e, portanto, não podemos afirmar que ele tenha efeitos tais como reportados pela Notícias Agrícolas. A reportagem também não traz ações concretas de agentes do Ibama destruindo casas e currais. Pode ser tudo verdade, como pode ser mais um ataque do lado escuro da força ruralista para minar a proteção ambiental do país.

https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/politica-economia/203909-canetada-de-sarney-filho-revoga-dispositivos-do-codigo-florestal-em-17-estados.html#.Wip-Yt-nHGg

 

CLAUDIO ANGELO: “PORQUE ESPERO ESTAR ERRADO SOBRE O FUTURO DO CLIMA”

O jornalista Claudio Angelo espera um dia rir da “Espiral da Morte” e do futuro sombrio que projeta porque a humanidade conseguiu inverter a trajetória de aumento do aquecimento global e minimizar os impactos das mudanças do clima. Ele lembra os três anos de pesquisas por trás do seu premiado livro “Espiral da Morte” que olha principalmente para o derretimento de gelo na calota Ártica, na Groenlândia e nas várias sub-regiões da Antártica. Se o gelo continental desses dois últimos sumirem, estima-se que o nível do mar suba pelo menos 10 metros, o suficiente para mudar todos os litorais de lugar, inclusive cidades como Shanghai, Rio de Janeiro e Nova York. O Acordo de Paris foi assinado pouco tempo depois da publicação do livro. Claudio comenta que se o Acordo for levado a sério e periodicamente as ambições dos países aumentarem – e se seu cumprimento idem – a humanidade terá a chance de reduzir o tamanho da conta e, como ele diz quase no começo do artigo, evitar “transformar Papai Noel em um sem-teto”.

http://www.comciencia.br/por-que-espero-estar-errado-sobre-mudanca-do-clima/

 

ANÁLISE DO PROTOCOLO DE QUIOTO VINTE ANOS DEPOIS

Um artigo na Folha de São Paulo convidou especialistas para falar sobre o aniversário do Protocolo de Quioto. Vinte anos atrás, em Quioto, Japão, assinava-se o protocolo internacional que levou o nome da cidade. Seguindo a Convenção Clima, o Protocolo separava os países que tinham responsabilidades históricas pelo aumento de concentração de gases de efeito estufa na atmosfera e o resto do mundo. Todos os países ditos desenvolvidos faziam parte do primeiro bloco e assumiram metas de redução de suas emissões. Os outros prometeram se esforçar e ganharam a possibilidade de implantar projetos que reduzissem suas emissões e vender essas reduções para compensar as dos países do primeiro bloco. Vinte anos depois e uma tremenda recessão no meio do caminho, os compromissos foram, grosso modo, cumpridos. A Europa foi a que mais se esforçou por meio da criação de um mercado de emissões. O Japão preferiu investir em projetos de energia renovável, principalmente no sudeste asiático e transferir as reduções de emissão para sua contabilidade nacional. Os EUA nunca ratificaram o Protocolo alegando perda de competitividade frente à China e à Índia, que não tinham metas compulsórias. Aparentemente, os EUA perderam competitividade mesmo assim. Austrália e Canadá também acabaram saindo do Protocolo para não terem que cumprir as metas. Os entrevistados, Paulo Artaxo da USP e do IPCC, André Nahur do WWF, André Ferretti do Boticário e Marcio Astrini do Greenpeace dizem que, no atacado, o Protocolo não funcionou porque os países não se engajaram para reduzir suas emissões. Outro entrevistado, Everton Lucero do MMA, acha que o Protocolo deixou uma herança de instituições e regras para monitoramento das emissões de países e projetos. Lucero diz que o Protocolo criou mercados de carbono. Na verdade, quem criou os mercados foi a União Europeia e, mais recentemente, alguns países, estados ou províncias e cidades chinesas. De Quioto nasceram mecanismos de geração de créditos de carbono a partir de projetos que reduzissem as emissões. A coisa não chegou a ser um sucesso de público, deixou uma infinidade de críticas e falhas ainda não sanadas. E milhões de créditos de carbono micando nas mãos de quem os gerou.

http://tools.folha.com.br/print?site=emcimadahora&url=http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2017/12/1941952-vinte-anos-apos-kyoto-especialistas-torcem-para-paris-ser-diferente.shtml

 

EUA: EMISSÕES DO TRANSPORTE SUPERAM AS DA GERAÇÃO DE ENERGIA

Pela primeira vez em quarenta anos, as emissões das plantas fósseis de geração elétrica dos EUA foram menores do que as emissões dos motores de carros, ônibus, caminhões, barcos, navios, trens e aviões. Ou seja, a emissão para transportar pessoas e cargas superou a emissão da geração de eletricidade. A matéria da Bloomberg traz um gráfico mostrando que as emissões de eletricidade e transporte crescem no mesmo passo até 2008, quando começa a recessão. Depois disso, as emissões da geração caem quase que continuamente, primeiro por causa da recessão em si e, depois, pela entrada das renováveis e da substituição do carvão pelo gás natural. Já no setor de transportes, as emissões basicamente se estabilizaram desde 2009. Saindo da recessão o consumidor americano até coloca um painel fotovoltaico no telhado, mas, na sua garagem, não abre mão de ter um ou mais SUVs ou outra coisa beberrona de combustível fóssil. Um olhar talvez otimista, diria que a entrada dos elétricos é capaz substituir o SUV nas garagens. Mas ainda não apareceu, com a mesma clareza, o futuro do transporte de carga. Lá como aqui, a carga responde por metade das emissões do setor de transporte.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-12-04/america-crowns-a-new-pollution-king

 

GE DEMITE 12 MIL DA ÁREA DE EQUIPAMENTOS E SUPORTE PARA TÉRMICAS FÓSSEIS

Com a geração elétrica ficando cada vez mais limpa nos EUA de Trump e no resto do mundo, a General Electric está reduzindo sua área de geração a fósseis e vai demitir 12 mil empregados. A imensa maioria é do setor de turbinas a gás natural, que está perdendo espaço para as eólicas e fotovoltaicas. Enquanto que na área de gás, a GE praticamente só compete com a Siemens, na área de eólica, onde também é forte, a concorrência é mais acirrada. Esse ano, a GE perdeu a primeira posição nos EUA para a Vestas. Soma-se a isso, a perda de receitas expressivas de manutenção e sobressalentes para as turbinas a gás. Posto que, no mundo eólico, o conjunto é bem mais simples e não sujeito as condições de pressão e temperatura dentro das turbinas a gás.

http://www.valor.com.br/empresas/5221813/ge-vai-demitir-12-mil-na-divisao-de-energia#

https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-12-07/ge-s-12-000-job-cuts-highlight-uneasy-shift-to-renewable-energy

https://thetruth24.net/2017/12/08/general-electric-slashing-12000-jobs/

 

MACRON RECEBE CÚPULA DO CLIMA E DIZ QUE A NAVEGAÇÃO TEM QUE REDUZIR EMISSÕES

Para comemorar 2o ano da assinatura do Acordo de Paris, amanhã acontece a conferência de cúpula que o presidente francês, Emmanuel Macron, concebeu para avançar na agenda climática. Na semana passada, Macron avisou o pessoal da navegação marítima, responsável por quase 5% das emissões mundiais, que eles têm que assumir compromissos de redução de emissões e, de fato, trabalhar para alcançá-los. O recado é direto para a Organização Marítima Internacional (IMO, sigla em inglês) que tem sua reunião de cúpula programada para abril do ano que vem. Como a maior parte das emissões da navegação internacional se dá fora das fronteiras nacionais, os países têm nenhuma ou muito pouca jurisdição sobre elas. Daí o recado para a IMO. As ações de mitigação possíveis vão desde reduzir velocidades dos navios até estratégias de compartilhamento de cargas para que o sistema todo seja mais eficiente.

O Brasil em colocado obstáculos constantes à adoção de metas, medidas e padrões para mitigar as emissões da navegação. Na IMO, as delegações brasileiras são fortemente influenciadas pela Vale. E a Vale tem o maior interesse em manter o frete baixo para continuar competindo no mercado de minério, principalmente de ferro.

A se perguntar se o interesse nacional em combater o aquecimento global deva ser delegado a uma empresa privada interessada principalmente nos dividendos de seus acionistas.

https://www.oneplanetsummit.fr/en/

http://www.climatechangenews.com/2017/12/08/macron-summit-launch-call-shipping-meet-paris-climate-goals/

https://lloydslist.maritimeintelligence.informa.com/LL1120052/IMO-climate-strategy-must-be-in-line-with-15C-temperature-rise-limit

 

CURTAS CLIMÁTICAS

 

ENORMES INCÊNDIOS FLORESTAIS NA CALIFÓRNIA

O clima continua seco e quente na Califórnia e houve novos incêndios florestais ao norte de Los Angeles. Pelo menos uma pessoa morreu e o fogo destruiu mais de 60 mil hectares. 2017 já é considerado o pior ano da história dos incêndios florestais. Foram contabilizados quase nove mil incêndios que mataram 45 pessoas, destruíram mais de cinco mil hectares e a conta dos prejuízos passa de US$ 10 bilhões.

https://www.theguardian.com/world/2017/dec/09/california-wildfire-ojai-ventura-week-of-hell

https://www.nytimes.com/2017/12/08/us/california-fires-ventura-los-angeles.html

 

MUITA NEVE NO TEXAS

A neve caiu em todo o sul dos EUA onde é raro isso acontecer. Em San Antonio, Texas, a última vez que nevou tanto foi em 1987. Nas estradas da Geórgia, Louisiana e Mississippi foi dado o alerta de pistas cobertas de gelo. Uma massa de ar polar desceu das planícies do Canadá forte o suficiente para chegar até o sul dos EUA.

https://www.theguardian.com/us-news/2017/dec/09/a-christmas-miracle-heavy-snow-falls-in-southern-texas-for-first-time-in-years

 

MUITA NEVE NO REINO UNIDO TRAZIDA PELA TEMPESTADE POLAR CAROLINA

A tempestade polar Carolina trouxe muito frio e muita neve ao Reino Unido. Em alguns lugares chegou a cair mais de 20 cm de neve.

https://www.theguardian.com/uk-news/2017/dec/08/snow-blankets-uk-storm-caroline-arctic-chill

 

VÍDEO DRAMÁTICO MOSTRA URSO POLAR QUASE MORTO DE FOME

Uma equipe de filmagem no Alasca flagrou um urso polar esquelético, mal conseguindo arrastar as patas traseiras, procurando por comida em latas de lixo. A equipe disse que não tinha com que alimentar o urso nem tranquilizantes para poder acionar ajuda. Um dos membros acha que o urso morreu algumas horas depois. Invernos menos frios acumulam menos gelo e focas, e outros petiscos de urso têm menos locais para emergirem. Os ventos árticos estão mais fortes, o que dificulta que os ursos rastreiem presas.

https://www.theguardian.com/environment/2017/dec/08/starving-polar-bear-arctic-climate-change-video